É bem sabido que, durante a gravidez, as mulheres passam por mudanças hormonais e neurais drásticas que servirão para prepará-las para as exigências físicas, sociais e emocionais da gestação e da maternidade. Mas elas não estão sozinhas: os futuros pais também vivem alterações significativas nos meses que antecedem e seguintes ao parto.
Os efeitos biológicos da paternidade dependem fortemente do grau de envolvimento na prestação de cuidados, o que mudou notavelmente nas últimas décadas. Em 1970, os pais no mundo ocidental passavam aproximadamente 12 a 25 minutos por dia a cuidar dos filhos (Roby, 1975); em 2010, o tempo passou para mais de uma hora por dia (Craig & Mullan, 2010). Com base nestes dados, os pais contemporâneos estão cerca de três a seis vezes mais envolvidos no cuidado dos filhos do que a geração anterior.
Várias mudanças socioculturais contribuíram esta realidade. Exemplo disso são programas como a licença de paternidade remunerada, que, em 2022, era um direito garantido em 63% dos países (Peck, 2023).
Os investigadores descobriram que esse tempo de qualidade, especialmente durante a primeira infância, é sinónimo de por mudanças biológicas mais pronunciadas. Mudanças essas que podem ajudar os homens a serem cuidadores mais compassivos, a desenvolverem relações emocionais mais próximas com os seus recém-nascidos, e a tornar-se mais sintonizados com as necessidades dos seus bebés.
Como a paternidade muda os homens
Menos testosterona ajuda os homens a prepararem-se para cuidar
Durante a gravidez da parceira, o corpo do homem produz menos testosterona — uma hormona que contribui para a massa muscular, o desejo sexual e os impulsos agressivos. Os investigadores especulam que isto leva a mais comportamentos de cuidado durante a gestação e após o parto, algo que, em última análise, protege a saúde e a segurança da mãe e do feto até que a gravidez acabe.
Ocorre um efeito semelhante após o parto: os pais que sofrem uma redução mais drástica da testosterona durante a gravidez e imediatamente após o parto estão mais envolvidos nos cuidados infantis meses depois (Edelstein et al., 2017; Kuo et al., 2018).
É importante sublinhar que os pais que passam mais tempo a cuidar dos filhos tendem a ter níveis mais baixos de testosterona do que outros pais (Meijer et al. 2019). Os especialistas acreditam que isto acontece porque o grau de diminuição dos níveis de testosterona dos pais depende do grau de envolvimento deles durante a gravidez e após o parto (Bakermans-Kranenburg et al., 2019).
Mais oxitocina ajuda os pais a procurarem proximidade física e emocional
Nos primeiros seis meses após o parto, os homens apresentam níveis elevados de oxitocina, uma hormona que leva os pais a procurar em contacto físico com os seus filhos e ajuda-os a sentirem-se emocionalmente próximos dos bebés.
Os corpos dos pais produzem mais oxitocina durante as brincadeiras com os filhos (Abraham & Feldman, 2018). Isto sugere que os pais que se envolvem com os seus filhos com mais frequência podem formar ligações emocionais mais fortes com eles, inclusive no futuro.
Mudanças no cortisol ajudam os homens a identificar o sofrimento infantil e a proporcionar conforto
Quando os pais ouvem o choro de um bebé (não necessariamente o seu), os seus corpos produzem mais cortisol (Fleming et al., 2002), uma hormona produzida em situações stressantes. Esses picos temporários de cortisol ajudam os pais a detetar e responder rapidamente ao sofrimento infantil.
Como o cérebro dos homens muda durante a paternidade?
O cérebro se prepara para aprender com a paternidade
Os investigadores acreditam que antes do nascimento dos filhos, os cérebros dos homens tornam-se mais “plásticos” (Martínez-García et al., 2022). Por outras palavras, as estruturas, redes e caminhos no cérebro dos futuros pais tornam-se menos estáveis e conseguem mudar mais rapidamente.
Isto significa que os pais, em comparação com os homens sem filhos, têm uma maior capacidade de aprender com as experiências, porque estas levam a mudanças consequentes no cérebro.
Embora o tempo de qualidade seja importante, a quantidade de tempo que os pais passam com os seus filhos é crucial: os pais que passam mais tempo com os seus filhos têm mais oportunidades de aprender com as suas experiências de cuidado e, por sua vez, tornam-se mais sintonizados neurologicamente com as necessidades, gostos, antipatias, temperamentos e tendências dos seus recém-nascidos.
A paternidade altera o funcionamento do cérebro
Quando ouvem um bebé a chorar, tanto as novas mães como os novos pais mostram significativamente mais atividade cerebral do que aqueles que não são pais em quatro áreas importantes do cérebro: a ínsula, o giro pré-central, o giro pós-central e o putâmen direito (Witteman et al., 2019). Estas quatro regiões cerebrais trabalham em conjunto para processar informações sensoriais (por exemplo, a visão ou o som de um bebé a chorar) e iniciar movimentos (por exemplo, procurar e confortar o bebé angustiado). Estas mudanças funcionais no cérebro dos pais permitem-lhes detetar e reagir eficientemente ao sofrimento dos seus bebés.
Um estudo descobriu que, sob certas circunstâncias, a atividade cerebral na amígdala (uma área do cérebro envolvida na experiência emocional) e a atividade cerebral no sulco temporal superior (uma área do cérebro envolvida na compreensão social) coincidem com mais frequência em pais que passam mais tempo cuidando dos seus bebés (Abraham et al., 2014). Isto apoia a noção de que os cérebros dos pais funcionam de forma diferente dependendo da quantidade de tempo que passam a cuidar dos seus filhos.