Dizer que no amor não há limites pode ser um erro. Os mais otimistas e românticos podem acreditar que a felicidade é simples quando se encontra com quem fazer par, mas para um relacionamento funcionar é preciso muito mais do que sentimentos e boas intenções. Mark Travers, psicólogo norte-americano ligado à Universidade Cornell e à Universidade Colorado Boulder, alerta para os limites que têm que existir entre um casal.
“Os relacionamentos são dinâmicos e influenciados por muitos fatores. Sem uma orientação clara ou um plano, os casais não têm outra opção senão navegar sozinhos pelas complexidades dos seus relacionamentos”, explica.
Para este especialista, impor limites não é um entrave ao amor, mas sim “uma salvaguarda essencial” que protege a relação de obstáculos. “Reconhecer a necessidade de limites capacita os casais a adotar uma abordagem ativa e comprometida para nutrir o relacionamento”. Perante esta necessidade, Travers destaca três tipos de limites que todos os casais devem ter.
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Tempo de ecrã
Estudos demonstram que passar demasiado tempo frente a um ecrã, como é o caso de um smartphone, pode promover a desconexão entre parceiros. Há uma barreira à comunicação e ligação emocional, mesmo quando estão juntos a um nível físico, uma vez que cada um está absorto no respectivo mundo digital.
“A intimidade é ofuscada pela distração dos smartphones, o que impede um envolvimento e interação genuínos. As consequências dessa desconexão podem ser prejudiciais à qualidade do relacionamento”, explica o especialista, que explica ainda que um dos parceiros, ou ambos, pode sentir-se negligenciado.
A solução é o casal definir “zonas livres de tecnologia” para promover a intimidade.
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Partilhar responsabilidades
Um motivo de conflitos e insatisfação numa relação é a distribuição desigual do trabalho doméstico. Estudos comprovam que, apesar de se promover uma divisão igualitária de tarefas, muitos casais continuam a cair no fenómeno da “demissão de trabalho doméstico”, que é caracterizado por um ciclo de práticas tradicionais de género. O seja, em que a mulher continua a assumir a maior parte das responsabilidades, o que aumenta os seus níveis de stresse e de mal-estar.
“Quando um dos parceiros assume uma quantidade desproporcional de responsabilidades domésticas, podem surgir sentimentos de ressentimento, frustração e desconexão. Este desequilíbrio prejudica o sentido de trabalho em equipa e apoio que é essencial para um relacionamento saudável”, destaca o especialista.
Como solução, o casal deve “estabelecer limites que promovam a justiça e o respeito”. A divisão de tarefas tem de ser dialogada para que seja realizada de forma igualitária.
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Limites para o autocuidado
Estar dentro de um relacionamento não significa que as necessidades e interesses pessoais devam ser suprimidos. “Quando os indivíduos negligenciam as suas próprias necessidades de autocuidado e realização pessoal, podem ficar emocionalmente esgotados. Isto pode resultar numa diminuição da capacidade de envolvimento de forma autêntica com o parceiro”, alerta Travers.
O especialista avisa ainda que colocar de parte o lado individual numa relação pode levar ao aparecimento de “sentimentos de ressentimento ou de falta de apoio do parceiro”.
Para evitar esta situação, cada um deve estabelecer limites em que o bem-estar individual seja priorizado. “É vital que o casal comunique abertamente sobre as necessidades e preocupações que cada um tem e trabalhar em conjunto para criar um equilíbrio que permita tempo e espaço compartilhados para crescimento e realização pessoal”.