Escolhemos 12, mas há muito mais por que batalhar.
1Desenvolver a empatia. Tem sido uma das palavras mais faladas, mas sinto que muitas vezes a boa intenção não passa de palavras. Falamos muito mas depois fazemos pouco. No entanto, a ideia de que somos uma espécie egoísta é cada vez mais posta de lado. Por exemplo, há uns tempos fez-se uma descoberta pré-histórica muito interessante, que provava que um humano com uma perna partida tinha sido cuidado e transportado pela sua tribo. Ou seja, nós, humanos, evoluímos graças à empatia. Então, o que nos torna mais empáticos? “Ser empático não é ser simpático”, explica a psicóloga educacional Sofia Ferreira. “É olhar nos olhos e partir da nossa experiência pessoal para perceber o que o outro está a sentir. Essa autoconsciência não é fácil, não é fácil para nós e por conseguinte não é fácil que a passemos às crianças.” Mas treina-se, com atenção e cuidado. “Os miúdos também já não brincam uns com os outros na rua, por isso a falta de empatia também vem deste maior isolamento em que crescem. Mas não podemos ficar agarrados à forma como se vivia no passado. Podemos, por exemplo, ensinar-lhes o prazer das coisas simples, a sentir o vento na cara, sentir as texturas, os cheiros, para eles estarem mais conectados com o aqui e agora, e com os outros.”
2 Reconhecer as emoções. Tal como a moda das calças wide leg, chegou para ficar. Mas também é mais falada do que posta em prática. “Temos dificuldade em lidar com as emoções das crianças porque temos dificuldade em lidar com as nossas”, afirma Sofia Ferreira. “Quantos adultos falam sobre as suas emoções ou são capazes, por exemplo, de distinguir se estão tristes ou cansados? Muitas vezes as emoções cruzam-se e nós não sabemos identificá-las. Temos pouco tempo para parar e pensar naquilo que queremos.” Vamos fazer esse esforço em conjunto, como família?
3 Ter uma vida mais organizada. Se já se está a rir, dê o benefício da dúvida. “Sim, as pessoas não têm estilos de vida saudáveis, estão exaustas mas muitas vezes a organização ajuda”, sugere Sofia Ferreira. “Por exemplo, um dos conselhos dos coaches de alto rendimento é a pessoa fazer a sua agenda da semana ao domingo. Isso ajuda a que as coisas não sejam feitas todas em cima do joelho. É como arrumar gavetas: não nos apetece, custa naquela altura, mas depois torna-nos a vida mais fácil. Ocupamos muito tempo a responder a emergências e sem foco verdadeiro, por isso se tivermos as coisas planeadas será uma grande ajuda.” Vamos a isto, Maries Kondos?
4 Educar para a independência. Um dos maiores desafios dos pais é educar filhos que não sejam os ‘flocos de neve’ que os americanos já identificaram. “Os filhos não são nossos”, nota Sofia Ferreira. “Temos de prepará-los para se libertarem de nós e é fundamental as crianças crescerem com essa dinâmica de tarefas partilhadas, que não devem ser um castigo mas uma partilha.” Claro que quando se chega à adolescência, coisas como terem o quarto arrumado é uma luta. “Mas eu sou apologista de fazer perguntas sem ser muito impositiva. E deve-se exigir que eles arrumem o quarto ou deixar isso por conta da liberdade individual de cada um? “Ter um espaço organizado também nos organiza internamente”, explica Sofia. “Organizar o quarto é organizar a cabeça. Mas tente resolver a coisa a bem. Tudo o que consiga sem luta, é melhor. No outro dia, vi uma frase muito sábia, que dizia: ‘Se tens uma flor a morrer, rega-a, não grites com ela’. E isto também se aplica à educação.”
5 Ensiná-los a fazer sopa, ovos mexidos e salada. Ensinar-lhes a cozinhar é outra moda que esteve muito in nos tempos de pandemia mas que depois voltou um bocado para trás. Promessa (pronto, chamemos-lhe desafio) para o próximo ano: aproveite o chef que há em cada criança. Claro que, enfim, como todas as mães sabem, todas as crianças têm um chef dentro delas mas nem todas têm um ajudante de cozinha que lave e arrume a seguir… Mas com sorte vai conseguir que tudo seja feito. “Até podem depois convidar um amigo ou um vizinho para jantar ou levarem para a escola, e isto dá logo outro sentido à tarefa”, sugere Sofia Ferreira. “E aí aprendem ao mesmo tempo a cozinhar e a partilhar.”
6 Criar memórias. Lembra-se daquele dia em que foi acampar com o seu pai? Em que foram a uma terra distante com a sua avó? O seu tempo é precioso: aproveite-o bem. “Se pensarmos nisso, dantes as pessoas tinham tantas memórias de infância…”, lembra Sofia Ferreira. “E agora eu às vezes pergunto-me, o que é que as nossas crianças vão recordar quando forem adultas? Vídeos que viram no YouTube? Tiktokers? É urgente pensarmos nisto.” E criar experiências não dá trabalho. Não pode ser mais um frete na agenda, eu tenho que pensar que me vou divertir com eles. Por isso, crie tradições de família, torne-se inesquecível, torne a infância deles inesquecível. “Por exemplo, vou partilhar consigo uma história pessoal”, continua Sofia Ferreira. “No ano passado, comecei dia 1 de janeiro a ver o nascer do sol com as minhas filhas. Meti-as no carro e fomos à praia com uma amiga e com as filhas dela ver o primeiro nascer do sol do ano. Fomos agasalhadas, levámos pequeno almoço, tirámos fotografias àquela luz incrível, e até hoje, um ano depois, elas ainda falam nisso. É tão bom saber que nos tornamos inesquecíveis para os nossos filhos!” Ideias de brinde: “Saber deixar a tecnologia de lado, preparar surpresas, conectar-se com a natureza, montar tendas e acampar (na sala, no jardim…), andar de patins e bicicleta, fazer caminhadas, explorar com uma mochila às costas, fazer exposições de arte no corredor de casa, fazer teatros, experimentar receitas novas, fazer jantares temáticos, estar com a família e os amigos…”
É quase impossível arrancá-los aos telemóveis? É. Mas vai valer a pena.
7 Fazer boas perguntas. Isto não significa andar em cima deles a controlá-los, mas habituá-los a pensar e refletir. Afinal, a curiosidade é uma das virtudes mais valorizadas do novo mundo (embora a escola se encarregue de a matar em pouco tempo). Que perguntas devemos fazer? Sofia Ferreira sugere: “O que mais gostaste no teu dia? O que te divertiu mais? O que te preocupou? Em que é que te posso ajudar? Existe alguém que esteja a precisar da tua ajuda? O que podes fazer para apoiar?” Em vez de jantarem todos em silêncio em frente da televisão pode ainda “promover serões de conversa, que gerem reflexão sobre si, os outros e o mundo, fazê-los parar e ter foco nas soluções e não nos problemas e contribuir para que encontrem propósito e sentido para a sua vida”.
8Apostar naquilo em que são bons. “Perceber aquilo em que eles são bons e apoiá-los para superarem os seus desafios são os maiores fatores para que se sintam bem com eles próprios”, defende Sofia Ferreira. “A autoestima está relacionada com a forma como eu me vejo, e quando há uma discrepância muito grande entre a forma como eu me vejo e a importância que isso tem para mim, pode haver um impacto.” Eles têm de confiar neles próprios. Mas como é que isto se consegue? “Os pais podem ajudar a desenvolver competências e ultrapassar obstáculos usando aquilo em que eles são melhores como uma alavanca para aquilo em que são menos bons.” Se eu sou boa numa coisa, posso tirar forças daí para melhorar aquilo em que sou menos boa. “E depois, orientá-los para saberem escolher onde investir o tempo e as forças deles. A vida das crianças não se resume a ser aluno, é importante ajudar a descobrir talentos e aptidões.” Ainda estamos longe disto? Estamos. Por isso é que falamos aqui de desafios.
9 Cultivar a gratidão. “É um dos aspetos mais esquecidos mas mais importantes na vida das crianças, e que mais força pode dar-lhes”, explica Sofia Ferreira. “Temos tantas coisas boas – vamos reconhecê-las e falar sobre elas, porque isso nos dá mais força interior para resistir quando alguma coisa não corre bem.” Tarefas que ajudam: “Podem ter um frasco onde os diferentes elementos da família escrevem aquilo por que são gratos e encontrar momentos para, juntos, refletirem sobre isso.”
10 Não stressar demasiado. Ok, esta pode ser difícil, quer para pais, quer para filhos, numa altura em que o mundo está mergulhado numa enorme indecisão. Mas este stresse já não é de hoje: “O mundo mudou muito mais de nós para os nossos filhos do que em todas as gerações anteriores. Nós estamos a inaugurar uma data de mudanças enormes no dia a dia, é normal que tenhamos dúvidas, é normal não saber o que fazer, somos os primeiros com estes desafios. Tudo agora é volátil, incerto, frágil, e nós não temos tempo para parar enquanto pais e pensar, por isso vamos replicando os modelos do passado e ajustando, que é o que podemos fazer. Mas é normal que esses modelos às vezes não funcionem.”
11 Ter confiança em si própria. Como pais, fazemos o melhor que podemos. Mas como é que eu sei que estou a fazer a coisa certa? “Quando os vemos sorridentes e confiantes, quando sabem falar sobre o que sentem, sabem aceitar desafios, não desanimam com um obstáculo, não dizem ‘sou um falhado’ quando alguma coisa não corre bem, sabemos que fizemos um bom trabalho”, defende Sofia Ferreira. Mas isto não é querer que eles sejam todos iguais? “Pelo contrário: é descobrir em cada um a sua força e ajudá-los nas suas fraquezas. Não precisamos todos de ser extrovertidos, não faz mal nenhum ser tímido, até porque estas crianças têm outras qualidades importantes. Conseguir chegar aos outros, fazer amigos e ser feliz são qualidades que se trabalham, fazendo com que, pouco a pouco, eles consigam sair da sua zona de conforto.”
12 Definir os seus objetivos. Estas foram só algumas ideias. Quais são as suas? Fiz esta pergunta à Sofia: e para ela, quais são os desafios para o próximo ano? “Não perder o foco naquilo que é essencial e ajudar as minhas filhas, os alunos e as famílias que acompanho a encontrarem um equilíbrio”. É difícil? “Se em vez da palavra dificuldade usarmos a palavra desafio, a nossa maneira de olhar para as coisas vai ser diferente. Se for uma dificuldade, ficamos paralisados. Se for um desafio, vamos agir. Um dos nossos desafios também pode ser mudar de perspectiva.” Tenhamos desafios nas nossas vidas, então, em vez de dificuldades. E um Feliz 2025 para pais e filhos.