Considera Tóquio um lugar especial, e depois de "uma relação mútua de algum encantamento", firmada no trabalho e na amizade com artistas plásticos japoneses, ou de outras nacionalidades, a cidade ficou cativa no coração do escultor Sérgio Vicente. Este ano, trabalhou dois meses no Shigaraki Cultural Ceramic Park, mas a primeira vez que visitou o Japão (95/96) foi como bolseiro do Ministério da Educação japonês, para uma pós-graduação em Escultura na Universidade de Belas-Artes e Música, sob orientação de Yuichi Yonenbaiachi. O trabalho aí desenvolvido, ligado a um ateliê tecnológico de plásticos, serviu-lhe para explorar técnicas sobre resinas e esponjas e conhecer as suas potencialidades: "Fiz uma série de cabeças em esponjas que depois foram colocadas em sítios ‘impróprios’, como portas e janelas", submetidas a uma espécie de "atrofia".
Abandonou tais pesquisas data de 1999 uma pós-graduação em Design Urbano e agora está a fazer o mestrado para se envolver completamente na área da arte pública "que, só por si, é já muito experimental", mas de leitura diferente: "A experimentação tem mais a ver com a ‘reacção’ aos espaços em que uma peça foi inserida. É muito arriscado e há pouco quem o faça, mas eu sinto satisfação por as pessoas usufruírem, vivenciarem, comentarem." E se o comentário for "a rotunda do repolho", com que foi apelidada a rotunda do Millennium em Vale de Cambra, ele sente que isso é um bom sinal de apropriação da arte por parte das populações. Prefere trabalhar peças de grandes dimensões e defende que "a escultura só tem lógica se for desenvolvida para espaços públicos; pessoalmente, não vejo grande sentido em fazer trabalhos pequenos para mostrar em galerias".
A arte, aliada ao progresso da engenharia, ao desenvolvimento tecnológico, à indústria, obrigao a trabalhar em equipa pluridisciplinar, como aconteceu com Luzboa #1, uma quase parede de luz e cor, inspirada na cestaria, nas proximi- dades do Centro Português de Design. Os seus materiais de eleição são o grés e o aço, que pode ser inoxidável, oxidado, corten: "Gosto do material com as suas características naturais e estes não precisam de tratamento, mesmo usados mantêm-se praticamente inalteráveis." Sobre o Monumento à Vida, inaugurado em 1998, em Almada, escreve: "Ao usar a argila e o ferro, recordo os momentos da instabilidade e transitoriedade dos nossos dias. Recordo a necessidade da reciclagem da matéria, dos objectos e do indivíduo. Recordo plasticamente que a Vida é uma criação biológica, perene, e que os valores que a constituem não são estáveis. Penso que na minha escultura é necessário materializar conceitos, como: descoberta, reorganização e transformação […]" Mais tarde, desenvolveu um projecto de investigação plástica para os jardins da Casa da Cerca, cujo conjunto escultórico implicava três peças em grés vidrado a sal, doze em grés cozido e uma peça de grandes dimensões, em aço.
Objectivos determinados "Durante um tempo, entro numa espécie de vazio, a pensar sobre a questão colocada, e observo o espaço. Depois desse processo de maturação, parto para o desenho com ideias definidas e tudo passa a ser rápido, porque imaginei o objecto na minha cabeça." De desenhos e esculturas se faz a sua participação em exposições individuais e colectivas, como Peregrinação-Itinerância da Arte Contemporânea Portuguesa (Tóquio); LX OutDoor (Lisboa); Arte para Carlos Paredes, uma produção Movimentos Perpétuos, que teve lugar este ano na Cordoaria Nacional e no Palácio de Cristal (Porto): "Faço esculturas que são maquetas demonstrativas do processo de conceptualização e realização das peças, gosto da demonstração do método e ganham um sentido diferente, tornam-se objectos que as pessoas podem adquirir.
Gosto de trabalhar com objectivos determinados, quando me propõem uma exposição quase sempre crio para esse evento, pois trata-se de um processo de trabalho e não de obras acabadas." Foi professor do ensino secundário (1997/2001) e agora lecciona na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, onde desenvolve um projecto de investigação de Escultura cerâmica. Sorri quando fala dos alunos: "É um desafio mútuo e eu gosto muito de processos dinâmicos."