A vida desta bósnia de 34 anos dava um filme. Sempre se adaptou à manta de retalhos que era o seu país, a ex-Jugoslávia: viveu em Belgrado (Sérvia), em Sarajevo (Bósnia) de onde saiu para fugir aos bombardeamentos e casou-se com um croata. Aos 20 anos já era mãe e tirava um curso superior de Teatro. Durante sete anos levou teatro infantil às crianças de um país em guerra. Há cinco anos a situação tornou-se insustentável e veio para Portugal com as filhas gémeas, Ana e Tiana. Sem falar uma palavra de português, trabalhou num bar irlandês em Lisboa. ‘Pensei que nunca mais ia ser actriz ou aprender esta língua’, lembra.
UM TEATRO PARA CINDERELA
A sua sorte mudou quando conheceu a actriz Beatriz Quintela. Da amizade entre as duas nasceu o Teatro Infantil Cinderela e a peça ‘Sapato, Sapatinho, Dá-Me Um Irmãozinho’, escrito por Natacha e adaptado ao português. Aprendeu a trocar as voltas às barreiras da língua: inventava personagens, como um extraterrestre, para explicar o sotaque. Seguiram-se outras peças: ‘De Onde Vêm As Palavras Más?’ e ‘És Como És’. Como não têm sala própria, Natacha sonha alto: ‘Quero um teatro grande, todo cor-de-rosa e azul… E a entrada vai ser a saia da Cinderela!’ Começou a ensinar Expressão Dramática a crianças nas escolas. Isso ajuda-as a libertar o corpo e a voz, a sair da casca. O seu novo projecto chama-se ‘Vento Leste’ e é uma peça para adultos, em cena no Auditório do IPJ, em Lisboa. ‘Vivi tudo aquilo, andando e rindo. Ninguém percebia como conseguia rir nos ensaios. Porque estou viva! O que não nos mata só nos torna mais fortes.’