Fico como um monstro, absolutamente insuportável para mim própria e para os outros.’ É desta forma que Anabela, uma secre-tária de 28 anos, descreve o seu estado de espírito nos dias que antecedem o aparecimento da menstruação. A Anabela sofre de tensão pré-mens-trual, também conhecida por TPM, caracterizada por um conjunto de sintomas físicos e psicológicos, na sua maioria desagradáveis, que surgem habitualmente nos dias imediatamen-te anteriores à menstruação e que podem perdurar ainda nos primeiros dias desta.
Estes sintomas podem ser mui-to diversos. Na verdade, podem ser quase tudo! A investigação cientí.ca realizada sobre este assunto já iden-ti.cou cerca de 150 tipos de sinto-mas diferentes, dos quais os mais comuns são dores de barriga, fadiga, depressão, irritabilidade e baixa auto-estima, além dos ataques de choro, das insónias, da tensão mamária, das di.culdades de concentração e das alterações do apetite, entre muitos outros.
Porém, será que a Anabela sofre mesmo de tensão pré-menstrual? Não, de acordo com algumas femi-nistas e também de acordo com certos especialistas. Para as primeiras, a TPM apenas serve para as mulheres se desculparem de problemas que não têm nada a ver com a menstru-ação ou, pior, para evitarem fazer o que não têm vontade de fazer, como seja trabalhar, cozinhar, aturar as crianças ou o marido, entre muitas outras coisas.
Certamente que a questão que se pode colocar é pertinente: será que as feministas não sofrem de TPM? Acontece que a sua posição é mais política do que médica ou pessoal: defender que as mulheres têm uma particularidade que as incapacita du-rante certos períodos de tempo, por pequenos que sejam, é assumir que de facto são inferiores aos homens e constitui um excelente argumento para a discriminação que caracte-riza a sociedade machista em que vivemos.
Do ponto de vista dos especia-listas, a questão coloca-se devido ao facto de a TPM não ocorrer em todas as mulheres (apenas em 19%, de acordo com um recente estudo norte-americano) e de, como já foi mencionado, manifestar-se através de sintomas muito diferentes, sendo quase impossível de.ni-la com pre-cisão. Se é algo de assim tão vago e indeterminado, de acordo com os tais especialistas, di.cilmente pode ser considerada como uma perturbação digna de tal designação.
Apesar de todas estas contestações, a TPM não deixa de a.igir muitas mulheres que volta e meia estão… bem, como ‘monstros’, nas palavras da Anabela.
As feministas e os tais especialistas bem podem acusar as mulheres de estarem a atirar com as culpas das suas maleitas para cima da menstru-ação, mas o certo é que algumas, de facto, não se sentem na melhor forma naquela altura do mês.
É que, quer se queira quer não, este acaba por ser mais um bom exemplo, a par do aborto, de como o corpo femini-no é terreno privilegiado para batalhas e contestações que têm tanto de político quanto de ideológico e, em qualquer dos casos, muito pouco de bené.co para as próprias mulheres.