Por algum estranho motivo existe a ideia de que os seres humanos têm uma natural tendência para serem fiéis. Nada de mais errado. Começa por ser questionável a ideia de que ao Homem algo é ‘natural’ ou ‘inato’, principalmente quando nos referimos ao animal que maior diversidade de comportamentos apresenta a todos os níveis. E é sabido que muitas pessoas têm dificuldades em permanecerem fiéis aos seus parceiros. Algumas gostariam de o ser e não o conseguem. Outras não se preocupam com isso e têm os seus affairs ou relações casuais quando bem entendem. Outros ainda gostariam de ser infiéis mas nunca chegam a fazê-lo, seja devido a sentimentos de culpa, seja porque nunca realmente têm a oportunidade de o fazer. Todos nós conhecemos casos e histórias de pessoas próximas ou mais distantes que, num momento ou noutro e por um qualquer motivo, decidiram atravessar a linha que separa a fidelidade da infidelidade envolvendo-se com uma ou mais pessoas quando têm já um parceiro habitual.
Tudo isto não significa que a fidelidade seja impossível. Algumas pessoas mantêm-se firme e convictamente fiéis, por vezes ao longo de toda a vida. Porém, se existe algo que fica patente desta variabilidade de formas de viver as relações amorosas, é que dificilmente poderemos considerar a fidelidade como uma regra – a evidência fala por si! De resto, se a exclusividade amorosa e sexual fosse natural aos seres humanos, não seria necessário fazer votos de fidelidade, por exemplo, na cerimónia de casamento.
Há que não esquecer que o próprio conceito de fidelidade é muito variável e provavelmente cada pessoa tem a sua própria noção do que é ou não ser fiel. Será que ao desejar alguém além do legitimo cônjuge se está a ser infiel? Será que dar um beijo na boca a alguém que não o parceiro é um acto de infidelidade? E então quando se tem relações sexuais com o parceiro e se fantasia que se está com uma outra pessoa, será que se mantém a fidelidade? É interessante colocar estas questões a um grupo de pessoas e ver a disparidade de respostas que surgem, em grande medida influenciadas pelas experiências e posturas pessoais de cada um.
Certo é que, quando alguém descobre que o parceiro ou parceira é infiel, a tendência é para terminar a relação. Na melhor das hipóteses, esta leva um grande abalo, acompanhado de crises de choro e gritaria, de grandes reflexões sobre se vale a pena manter a relação e de pequenos momentos de angústia. Se a relação se aguenta a este turbilhão de emoções, resistirá da forma que for possível, seja com renovada paixão entre os seus elementos seja com permanentes desconfianças de que o que já aconteceu no passado volte a suceder. A sombra da infidelidade é provavelmente das mais negras que pode pairar sobre uma relação, mas também pode servir como um tónico que leve os seus elementos a pensar sobre os seus verdadeiros sentimentos pelo outro e sobre o que poderá ter levado à procura de algo de exterior. Sempre com a ideia de que quando se tem alguém mais especial, não é necessário manter relações com outras pessoas. Resta saber se esta ideia é realmente verdade ou apenas um mito no qual nós gostamos de acreditar…