Entre o Porto de Leixões e a zona histórica de Matosinhos esconde-se, intramuros, uma casa-pátio com risco do arquitecto
Eduardo Souto de Moura, integrada numa ubanização de nove habitações, projecto que mereceu a distinção de Finalista na III Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Ingenieria Civil (2002).
A harmonização do conjunto de edifícios e a sua integração na envolvente sobressai na rua calcetada de acesso à urbanização, no design dos candeeiros, da autoria do arquitecto e em conformidade com a antiga alma de Matosinhos, e nos muros que separam os lotes, em granito, projectados à altura das habitações.
Esta fluidez estende-se às próprias casas, de tipologia semelhante, e à forma como recebem a luz oriunda dos três pátios interiores. As diferenças que as distinguem, ligeiras, dizem respeito aos materiais e à dimensão das áreas verdes: cinco beneficiam de um jardim maior e as restantes quatro de jardins mais pequenos, já que o traçado da rua obrigou a lotes inferiores. Mas se por um lado o espaço verde ficou reduzido, por outro os interiores aumentaram. Exemplo disso é esta casa, integrada num dos lotes maiores.
A boa organização interna é uma característica do projecto. Transposto o portão exterior, deparamo-nos com um painel de vidro de grandes dimensões, emoldurado por uma caixa em aço inoxidável, que deixa transparecer o hall de entrada, com acesso ao hall de distribuição de quartos e longo corredor que conduz às zonas sociais. No percurso para a cozinha e living, é imediata a sensação de espaço: cerca de
350 metros quadrados entrecortados por aberturas de luz natural. Animam este percurso o armário com portas de correr em tola, a casa de banho social e uma entrada para o pátio dos quartos, que é, tal como os restantes, proporcionado e acolhedor. Na cozinha, tudo o que está acima do chão foi desenhado, em tola, por Souto de Moura. A estante que liga o corredor ao living é, também ela, em tola. Esta zona social abre-se ao extenso relvado, com piscina em granito. Dali se avista o par de palmeiras que corta a monotonia das linhas horizontais que rebaixam a casa, preservando-a.
Muito provavelmente, para enaltecer esta época romântica, visível nas espécies arbóreas do Ribeirinho, Souto de Moura desenhou um fogão de sala em ferro com moldura em ardósia, material que se repete no chão. Lembra os tempos vitorianos, funcionando mesmo a carvão, tal como acontecia na era industrial. As peças de mobiliário reportam a um gosto clássico, onde se fundem os tons naturais de várias madeiras, algumas das quais presentes na arquitectura.
O living dispõe de uma pequena porta de comunicação para o pátio interior, calcetado, de acesso aos quartos. Esta solução faz lembrar os pátios conventuais, para onde se viravam todas as áreas. Ao mesmo tempo, a arquitectura mediterrânica afirma-se com rigor num circuito giratório que se faz interiormente, beneficiando também os quartos com a luz de Sul.
As portadas em tola, com estrutura interna de ferro, oferecem maior resistência, dada a flexibilidade desta madeira. Já o pavimento foi inteiramente revestido a afizélia, à excepção da
casa de banho das crianças, onde se optou por tijoleira. Ao contrário das restantes, as casas de banho desta habitação foram revestidas a azulejo moldado à mão e seco ao sol. Os lavatórios em vidro fosco vieram de Itália por encomenda do arquitecto, que "desenhava tudo, chegando a contar os azulejos para ficarem alinhados e não ter de os partir", como referem os proprietários.As clarabóias denotam a preocupação de Souto de Moura com a constante busca de luz natural.
Dos muitos pormenores arquitectónicos, não podemos deixar de destacar o hall de distribuição de quartos. Nele foram criadas meias-paredes de madeira à altura humana, ligando a branco toda a zona superior que culmina na clarabóia à imagem do tecto de uma mesquita. Assim, quando a sucessão de portas pivotantes se fecham, reservam uma área quadrangular na cor natural da tola, mais ao nível do chão, e fazem ressaltar a luz branca da clarabóia, para a qual todas as linhas do hall se dirigem, criando a sensação de cúpula de um templo íntimo.
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