Pense na sua vida passada. De que é que se lembra? Daquelas férias fantásticas quando tinha 15 anos? Da morte do seu avô? Daquela noite em que quase morreu de medo? Do seu casamento? Do nascimento do seu filho?
Pois. De certeza que ninguém diz. "Ai lembro-me fantasticamente bem daquele dia, 17 de Novembro de 1994, em que não aconteceu rigorosamente nada!"
Isto porque cérebro humano apaga o que não interessa. Ele mede o tempo por marcas de movimento (um bocado como um relógio). Imagine que vai numa autoestrada, sem nehumas marcas de passagem: parece que não andámos nada. Com o cérebro é a mesma coisa: se estivermos numa sala branca vazia, sem nada, começamos a perder a noção de tempo – ele depende da nossa observação de objectos, pessoas, acontecimentos cíclicos como as estações ou o nascer e o pôr do sol.
Razão: o nosso cérebro é como um computador (ou os computadores é que são construídos à imagem do nosso cérebro) – evita trabalhar desnecessariamente e processar duas vezes a mesma informação.
Se lhe enviar o mesmo dia duas vezes, ele apagará um deles, mandando para o ‘disco rígido’ o resto da informação, considerada inútil porque duplicada. Se vivermos o mesmo dia da mesma maneira trinta, trezentas, três milhões de vezes, para o cérebro será como se apenas tivessemos vivido… um dia. Conclusão: podemos viver cem anos em teoria, e um dia dentro do nosso cérebro… Por isso é que os dias que recordamos foram aqueles que, por alguma razão, se disntiguiram dos outros. O nosso cérebro registou essa informação diferente mantendo-a presente para ser usada caso torne a ser preciso.
Claro que isto é uma forma esquematizada de ver a coisa, mas já está a ver onde vai chegar: não viva apenas um dia! Claro que precisamos de rotina: ela autoriza-nos a viver de maneira sã todos os dias, a fazer milhares de coisas que de outra maneira seriam impossíveis, e a ‘poupar’ memória para experiências mais importantes.
Mas não viva só de rotina. Mude de mão a lavar os dentes, mude de pequeno almoço, mude o estilo de vestir, mude o caminho para o trabalho, mude o sítio onde vai almoçar, faça qualquer coisa diferente. Mas não deixe que toda a sua vida se resuma a apenas um dia igual a todos os outros.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo