"A maior recompensa do meu trabalho é ver o sorriso de cada mãe quando consegue encontrar o equilíbrio interno e a vontade de viver." As palavras são de Emília Agostinho e traduzem bem o que a move desde o dia em que se apresentou na sede de A Nossa Âncora como voluntária. Tinha tomado conhecimento da associação através de um programa de televisão, no qual a antiga presidente, Maria Emília Pires, falava sobre a dura perda de um filho. Ficou de imediato ‘agarrada’ ao ecrã. Reconheceu se em cada palavra e decidiu que queria fazer parte deste projeto.
Em 1987, a vida de Emília Agostinho sofreu um golpe brutal que a iria marcar para sempre: o filho de 7 anos e o marido morreram num acidente de viação, em Lisboa. "Dois meses antes, o meu filho Rodrigo começou a dizer-me que ia morrer e eu respondia ‘está bem, todos vamos morrer’, ele reforçava ‘não, mas eu vou morrer cedo, agora’, respondia-me. ‘Mas, mãe, tu não ficas sem mim, eu vou para um sítio bonito e estarei sempre ao pé de ti, protejo-te e defendo-te de tudo’", revela Emília, ao recordar as palavras do filho.
"Comecei a pensar levá-lo a um psicólogo… mas já não houve tempo. Na véspera do acidente, ele pediu-me para comprar uma prenda para a professora, mas queria que fosse eu a entregá-la, porque, dizia, ‘amanhã eu vou-me embora para sempre com o meu pai’. No dia seguinte, quando soube do acidente, não quis acreditar mas comprei o presente, fui entregá-lo e, mais tarde, as suas palavras deram-me força."
Em 2004, 17 anos anos após a morte do filho e marido, e com o luto já bem assimilado, surgiu a oportunidade de ajudar a minimizar o sofrimento de outros. Iniciou o seu trabalho como voluntária na associação A Nossa Âncora, mais tarde passou a funcionária e em 2006 (a pedido da fundadora) assumiu a presidência. Dedica se ao atendimento de pais, é moderadora de grupos de entreajuda e participa em aulas de formação em hospitais e escolas de enfermagem. É também chamada para colóquios sobre o tema do luto e sobre a prevenção de comportamentos de risco e elabora o jornal mensal ‘Diário de bordo’. Emília acalenta o sonho de abrir mais grupos de apoio, nomeadamente nos Açores; de reunir melhores condições para diversificar o apoio aos pais em luto e de encontrar mais alguém que se dedique ao projeto de corpo e alma, para que este não acabe, nunca."
Fotos: Paulo Jorge Figueiredo
O Prémio Mulher Activa 2011
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** Este artigo foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico **
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