Quando as crianças começam a jogar à bola no corredor de casa há um alerta que imediatamente se aciona no espírito dos pais e não apenas por causa dos danos colaterais. É o momento em que ‘cai a ficha’ e se ganha a consciência de que os filhos estão a crescer em gaiolas de betão. Reconhece-se que é preciso passar mais tempo nos jardins públicos, na praia, na rua. Para quem pode, é fundamental ganhar espaço exterior de vivência no próprio habitat. Para esta família, a mudança de um apartamento para uma moradia com jardim deu-se há dois verões. Desde então, o tempo é contabilizado em verões, como acontecia na época em que as férias de três meses estavam no epicentro da vida. “Este vai ser o terceiro verão em que cá estamos”, insiste a proprietária. A casa fica bem perto da praia do Guincho, Cascais, e é composta por dois pisos. No superior ficam três quartos, um deles suíte, e respetivas casas de banho; no inferior, uma enorme sala comum, cozinha, um quarto de arrumos e casa de banho social, tudo isto rodeado por uma área ajardinada, onde se inserem uma zona de refeições e descanso, além de piscina, estreita e comprida.
A casa foi adquirida já com as cores e acabamentos selecionados pelo construtor. A fachada em rosa velho está protegida por muros e portadas em cinza que contrastam com o verde da natureza em que se insere.
No interior, a ambiência seria sombria não fosse a casa ser tão aberta ao exterior. A maioria dos móveis são em mogno maciço. Foram adquiridos em Itália, numa altura em que a proprietária lá viveu. Há outros indícios de Itália, nomeadamente um coleção de vidros de Murano e um serviço de prata da consagrada loja milanesa Idea Studio. Para criar um contraponto mais contemporâneo ao classicismo dos móveis, e a conselho de um amigo, a dona da casa optou por pintar uma das paredes da sala de preto, cobrindo assim as riscas douradas, horizontais, preexistentes.
Ao invés, manteve a opção do construtor pelo lilás nas riscas do quarto da filha, estendendo essa cor a outros elementos da decoração como a roupa de cama e a orla do espelho, no closet. A atribuição de conforto e vivacidade à decoração passa muito pelos têxteis: roupa de cama, cadeiras estofadas com tecidos estampados de cores fortes, tapetes feitos por medida, almofadas, cortinas de linho na cozinha… E os quadros, boa pintura de autores portugueses, como Bual, e estampas numeradas de reproduções adquiridas em lojas de museus.
Da vida em Itália, a proprietária trouxe o gosto e vício pela gastronomia. Também viveu na Alemanha e Grécia, mas a verdade é que nenhum outro país lhe deixou recordações tão boas como Itália, em particular a região de Milão, pela “educação” e “fácil convivialidade” entre as pessoas. O molho pesto, o presunto bresaola, o queijo parmigiano, entre tantas outras iguarias, são alguns dos ingredientes que fazem parte da lista regular de compras e depois partilhados em refeições ao ar livre, no jardim da casa ou, quando o tempo não colabora, à volta da lareira. É a ‘dolce vita’ quotidiana.