Como manter a motivação quando se sabe que no verão é mais difícil encontrar emprego?
A vida ensina-nos a importância de dois movimentos básicos: agarrar e largar, basta olhar para as mãos de um bebé acabado de nascer e vê-lo a agarrar e a largar o polegar da mãe. É preciso aceitar a espera como um momento necessário. Numa perspetiva mais ativa sugiro que se aproveite esse tempo para desenvolver mais competências, não tanto técnicas mas em outras áreas. Para que isto resulte, as ações devem ser feitas de forma consciente, tendo em mente o objetivo de encontrar um emprego com determinadas características. Por exemplo, podemos dar grandes passeios de BTT e usá-los conscientemente para trabalhar a nossa dificuldade em persistir em tarefas que exigem muito esforço, característica fundamental para o trabalho de topógrafo que procuramos. Isto ajuda a manter o foco e a motivação.
Qual a principal dificuldade da maioria das pessoas desempregadas?
É claramente combater o desespero que se instala após terem esgotado a sua rede de contactos natural. Há um vazio que as faz gradualmente fechar–se em si mesmas. Enviar currículos e ir às entrevistas passa a ser um ritual penoso e um pouco sem sentido, o que pode originar sérios problemas de autoestima e estados depressivos.
Quando se busca emprego há anos, sem sucesso, não há a tentação de desistir e ir para a praia?
A praia pode ser a melhor receita! Não se trata de cruzar os braços, mas, como disse, aceitar o momento de esperar. Com um bom bronzeado e uns passeios determinados à beira-mar pode recuperar-se a autoestima; uma prancha de surf pode ajudar a desenvolver maior flexibilidade mental.
Outra boa solução é a pessoa encontrar atividades que gostava de ter feito ou em tempos fez. Podem ser coisas simples, como voltar a pintar. Recuperar o prazer nessas atividades e fazê-las pensando que estamos a aproveitar a oportunidade de estar nessa situação pode ser altamente transformador.
Algumas pessoas sentem-se culpadas por irem para a praia. Faz sentido tirar umas ‘férias’?
Sim! Sim! Descansar e suspender o problema é meio caminho andado para que se criem as condições e surjam oportunidades. Não é tirar 3 meses de férias (até pode ser), mas assumir esse tempo para recuperar energias, como vital. As pessoas tendem a desenvolver mecanismos recriminatórios, que não são positivos. De que serve eu passar os dias a ler as mesmas oportunidades de emprego nos jornais e a enviar dezenas de CVs quando já me sinto exaurido e sem esperança?
Que conselhos dá a quem está nessa situação?
Reavaliar o rumo. Aproveitar a oportunidade para entender o seu propósito de vida e mudar de rumo se o mesmo que o levou até aí não ia a lugar nenhum. Investir em si. Combater a tentação de se fechar e estar com os amigos. Aproveitar o tempo com hobbies. Fazer trabalho de voluntariado. Tratar da saúde. Apaixonar-se pelas coisas boas que lhe acontecem. Aceitar o tempo para desfrutar e procurar oportunidades para agir.
Será boa ideia aceitar um trabalho de verão numa área que não tem a ver com aquela em que se procura emprego?
Pode ser extremamente importante para se ganhar mais autoestima e recuperar o ritmo de trabalho, e pode ser o suficiente para passar de um ciclo de medo para um ciclo de confiança. Uma vez no ciclo de confiança, então sim, as mudanças positivas são muito mais fáceis. E por vezes esse ‘temporário’ acaba por se revelar o sonho que a pessoa procurava (quantas vezes!!!). Essa é uma atitude de aceitação e de experimentalismo que é uma das chaves para uma vida muito mais preenchida e realizada.
E substituir pessoas em férias?
Neste caso, a pessoa vai temporariamente fazer algo para o qual tem competências e motivação natural. Pode ser de facto uma nova oportunidade de recuperar a autoestima e uma vez no ativo abrirem-se novos cenários.
E qual é o principal erro que os desempregados cometem?
Deixar de sonhar. Esse é ‘O’ erro. Sem sonho é difícil traçar um rumo, conquistar, persistir, energizar, celebrar e construir. O “sonho comanda a vida”, já dizia o António Gedeão, e é fundamental que uma pessoa numa situação de desemprego não deixe de sonhar. O sonho é o combustível que alimenta tudo.