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Por estes dias, o Facebook – esse mal necessário da vida – decidiu comemorar o seu aniversário oferecendo aos utilizadores a possibilidade de criar automaticamente um duvidoso videozinho bom para passar em velórios de mau gosto. Não faltava mesmo a musiquinha de fazer chorar as pedras da calçada, enquanto mostrava imagens de, literalmente, a nossa vida a andar para trás. O mais giro foi ver que as postagens mais populares de algumas pessoas tinham erros ortográficos, no melhor modo "teu passado te condena". Eu que tenho pavor a efemérides achei aquilo sinistro todos os dias mas não resisti a espreitar o meu, para não dizerem que falo sem saber. Arrepiei-me toda no mau sentido e não o partilhei com ninguém – porque havia a opção de não divulgar a obra prima. Então, porque é que meio mundo se divertiu a passar adiante uma coisa tão pirosa?
Porque, meus amigos, vivemos num autêntico império da lamechice, do politicamente correcto, da lágrima fácil e nada melhor para o demonstrar do que partilhar coisinhas "comoventes" nas redes sociais, como já apontei por aqui.
Mas as redes sociais são um mero reflexo do fenómeno. O pavor de ofender, a necessidade imperiosa de agradar a toda a gente, de desculpar tudo, de provar "eu não sou superficial", "eu importo-me com os outros" de uma maneira que não dá trabalho nem requer envolvimento algum (afinal, fazer um clique não custa nada, diz que somos bonzinhos e alivia a consciência) atinge níveis paranóicos. De repente, com o mundo como está, não há preocupações mais sérias do que provar, ipso facto, que as modelos que vemos nas revistas são um produto de photoshop para que as raparigas "feias" se sintam menos mal, discutir ad nauseam o que é plus size e o que não é para não ofender as mulheres "gordas" nem chamar "rechonchuda" a quem calha só ter curvas, para não falar nas suspeitas de racismo a cada esquina e na quantidade de palavras que já não se podem dizer para não melindrar ninguém.
Faz-se isto tudo como se não bastasse, para sermos seres humanos decentes, tratar toda a gente com respeito: não, temos de ser paternalistas e condescendentes com quem é mais gordo, mais feio, mais bonito ("pobrezinha, devem ter-te obrigado a fazer plásticas") ou mais magro ("coitadinha, deves ser anoréctica!) do que nós. Ou, caso a outra pessoa tenha uma cor de pele diferente, falar com muito cuidado não vá ela ressentir-se, como se fosse algum bicho raro.
E o público delira com estas coisas, acha muito inspirador:
– O vídeo da rapariga que foi chamada a mais feia do mundo e deu a volta por cima, que sucesso! Quantas pessoas não o partilharam, com comentários "isto mudou a minha vida?" ou "és a rapariga mais linda do mundo?". Se no meio de tanto elogio a moça foi pedida em casamento por quem vê a sua beleza, fantástico. Mas acredito que a maioria esquecesse o assunto logo a seguir.
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