Nós Tínhamos de Acontecer é um livro de Gayle Forman, publicado pela Editorial Presença. Uma obra que, segundo a própria autora, faz uma homenagem aos livros e aos livreiros. E isso sente-se ao longo de toda a narrativa. Afinal, Aaron, o protagonista, gere uma livraria familiar com o pai. A história gira em torno na manutenção deste espaço e os esforços feitos por um negócio que parece não ter esperanças. Além disso, ao longo de toda a trama há referências a inúmeras obras, listadas no final, sendo ainda curioso que cada capítulo tem o título de um livro.
Acompanhamos o desencanto de Aaron pelos livros e pelo negócio do pai. Com o passar das páginas percebemos que esta relação vai para lá do simples desinteresse e que foi sim motivada por uma série de circunstâncias marcantes para este protagonista. É então que surge um fator curioso: a autora apresenta a força de uma comunidade unida da reabilitação de uma pessoa. Penso que podemos então encontrar um paralelismo entre a mudança operada em Aaron e na própria livraria. Tudo pode segui um caminho que não seria o esperado, mas que no final faz sentido.
Ainda mencionando a comunidade, Gayle Forman parece querer mostrar que cada um de nós pode ser o fator de mudança numa outra pessoa. É que Aaron não é o único a passar por uma transformação ao longo desta narrativa, sendo possível perceber que, muitas vezes, pequenos gestos para com os outros podem ter um valor maior do que aquele que imaginamos.
Sim, existe uma forte componente romântica neste livro. E se o título pode deixar a ideia de uma relação idílica, não é tal que acontece, com a autora a deixar perceber que todas as interações passam por desafios. Aaron conhece Hannah, mas com o tempo percebe que, para estar com ela, terá de aceitá-la no seu todo, melhor e pior, mesmo que isso o leve a confrontar com questões ligadas ao próprio passado que preferia esquecer.
A adição é também um tema forte desta obra, que nos apresenta diferentes formas de se lidar com esta questão. Quer seja através da exploração de personagens que lutam contra o vício quer seja através do ponto de vista de figuras que acompanham de perto esta situação. O leitor tira as próprias conclusões sobre cada situação, com a autora a recordar que esta é uma temática que não pode ser analisada apenas como preto ou branco. Que há muito mais para compreender.
Leitura que se faz rapidamente, “Nós Tínhamos de Acontecer” proporciona bons momentos ao mesmo tempo que nos faz ter esperança. Esperança nos outros, em nós, no poder das histórias, da arte e num futuro melhor.
Sinopse:
Para Aaron Stein, os livros eram milagres – até deixar de acreditar. Apesar de passar os seus dias a trabalhar na livraria alfarrabista dos pais, o único livro que Aaron consegue ler é sobre a extinção dos dinossauros. É um conceito que ele percebe demasiado bem, agora que o irmão e a mãe desapareceram e os seus amigos o deixaram:
Aaron está sozinho com o pai, um homem desgovernado, numa livraria que morre aos poucos, numa cidade isolada do mundo, onde parece que já ninguém lê.
Não é estranho, por isso, que Aaron decida vender a livraria à primeira oportunidade que surge, pensando que esta é a única saída que lhe resta. Mas Aaron estava longe de imaginar o otimismo do amigo ou o entusiasmo dos madeireiros desempregados, que veem na livraria falida um belo projeto para se ocuparem. E muito menos esperava conhecer Hannah, uma belíssima e corajosa música que pode bem ser aquele acontecimento inevitável pelo qual Aaron tanto esperou.
Todos eles vão ajudar Aaron a compreender e aceitar o que perdeu, o que encontrou quem é e quem quer ser – porque a destruição não leva necessariamente à extinção; e às vezes conduz ao nascimento de algo inteiramente novo.