A Morte de um Apicultor é um livro de Lars Gustafsson, publicado pela Marcador. Considerado por muitos como uma obra-prima do autor sueco, este livro tem reconhecimento internacional e ganha uma segunda edição em Portugal. Trata-se da compilação de textos que um homem fez em três cadernos nos últimos dias da sua vida e que transmitem uma sensação de contemplação, resistência e força.
“Recomeçamos. Não nos rendemos”. Estas palavras são repetidas em diversos momentos da obra. Quase como um mantra de Lars Westin, o protagonista, que revela, logo desde o início, a forma como esta figura encara a vida. Talvez até refletem algo mais profundo sobre o próprio autor, que decidiu batizar este protagonista com o seu próprio nome. Uma decisão que pode ter surgido na necessidade de combinar a ficção da obra com a realidade de si próprio. Se tal for verdade, explica a profundidade dos temas abordados e a forma íntima como estes tocam o leitor.
Logo ao início, sabemos que o destino de Lars, a personagem, está traçado. Um diagnóstico indesejado chega e ele prefere não o encarar, mas continuar sim a viver na rotina à qual se acostumou e encontrou paz desde o divórcio. Desta forma, uma história sobre a morte iminente revela-se uma obra que homenageia a vida. Um contraste que é sentido quando Lars recebe o resultado dos exames na primavera, estação ligada ao renascimento.
Com Lars, revisitamos as memórias de uma vida, dos tempos de escola até ao início do namoro e aos factores que levaram ao fim do casamento. E a como se refugiou, sozinho, no meio da natureza e se tornou apicultor. Estas recordações vão sendo intercaladas com reflexões sobre os mais variados temas, mas também pelas dores físicas da personagem, que vão aumentando de intensidade e frequência ao longo da narrativa. Um aviso de que o fim está cada vez mais próximo.
O protagonista não admite que está a despedir-se, mas a forma como partilha, sem filtros, os seus pensamentos, provam que tem noção de que a morte está cada vez mais próxima. Nos seus cadernos, despe a alma e mostra a sua verdade, tornado o leitor no seu ouvinte mais íntimo, no seu confidente. E nós, que o lemos, refletimos e somos arrebatados por ele.
Sinopse:
Lars Westin está a morrer; embora se recuse a ler a carta enviada pelo hospital, que confirma o seu diagnóstico, ele sabe que tem cancro e que não irá viver até ao final da primavera seguinte.
Não aceita, porém, entregar o tempo que lhe resta ao espaço impessoal de um hospital, preferindo tomar o controlo do seu próprio destino e prosseguir com a sua vida solitária e reflexiva.
Abandona a carreira de professor e inicia uma nova vida como apicultor. Prescindindo de qualquer tratamento médico, Lars continua a sua vida simples e recolhida, na sua casa de campo, em pleno cenário rural sueco.
Esta é uma história sobre a vida, em particular a vida que antecede a morte.É sobre como, com a linguagem, se esconde a verdade. É sobre a forma como a dor pode revelar o nosso verdadeiro eu.