Foi em Paris, no evento internacional Green Beauty Garnier, dedicado à sustentabilidade, que a Garnier lançou o debate, num painel que reuniu vários nomes reconhecidos mundialmente pela voz (e não só) ativa que têm nestas matérias: Sébastien Bohler, neurocientista, Joycelyn Longdon, ativista ambiental, Michelle Thew, CEO da Cruelty Free International, e Andrew Almack, fundador da Plastics for Change. Moderada pela atriz, empresária e ativista ambiental Stephanie Suganami Shepherd, a conversa contou ainda com o testemunho de Adrien Koskas, Garnier Global President, e abordou questões como a mudança de hábitos, a confiança dos consumidores, o fenómeno greenwashing, a educação ambiental, entre muitas outras. Aqui ficam os principais contributos dos oradores.
Sébastien Bohler, neurocientista
“O cérebro humano é muito poderoso. Há uma zona específica do nosso cérebro que nos permite visionar o futuro e estar conscientes das consequências do que fazemos agora. É uma parte inteligente do nosso cérebro. Mas há uma outra parte, muito mais antiga, que surgiu há milhares de anos, que guia as nossas ações do dia a dia, dá-nos motivação para agir e recompensa-nos com prazer, com uma molécula chamada dopamina, cada vez que agimos de determinadas maneiras. Os comportamento específicos que são recompensados com prazer e dopamina por este cérebro reptiliano são os que foram benéficos para a nossa sobrevivência no passado. Por isso, estamos conscientes dos problemas ambientais mas no nosso dia a dia procuramos prazer e dopamina, e a maior parte das vezes isso passa por minimizar os nossos esforços, não por mudar os nossos hábitos. É muito difícil sair desta lógica. Temos que encontrar truques para reeducar o nosso cérebro.
Ter mensagens educativas em campanhas de publicidade tem duas vantagens: mostrar como podemos alterar os nossos comportamentos e dar coragem às pessoas para iniciar essa mudança. É muito difícil agirmos para alterar um comportamento se sentirmos que estamos sozinhos, é muito mais fácil se sentirmos que outras pessoas estão igualmente a assumir esse compromisso.
Desejar mudar requer a libertação de dopamina e talvez se virmos pessoas que são consideradas bem sucedidas a reduzir o tempo do banho, por exemplo….. É por isso importante ter celebridades, influencers, envolvidos neste tipo de mensagens para fazer com que o nosso cérebro faça esse tipo de conexões.
Outra região do nosso cérebro gera o sentimento de confiança, porque a confiança é a base das relações humanas e dos grupos sociais e o que permitiu aos humanos viverem juntos e sobreviverem em condições inóspitas durante séculos. O sentimento de confiança é gerado com base em ações passadas. Esta a razão pela qual as acções passadas contam. Para as grandes empresas o jogo é agora muito difícil, porque a suas ações passadas no que respeita à sustentabilidade são negativas. É preciso mudar isto, alterando as ações de uma forma repetida e confiável e isso não acontece do dia para a noite. É preciso tempo. Existe uma forma de acelerar esta mudança, talvez procurando a aprovação de pessoas que servem como uma espécie de garantia: pessoas em que confiamos, que têm uma reputação de honestidade e que podem testemunhar de que vale a pena confiar em determinada empresa.”
Joycelyn Longdon, ativista ambiental
“É preciso uma mudança cultural. O grupo de pessoas que estão associadas a uma identidade sustentável pode não corresponder às aspirações pessoais e à idealização de sucesso da maioria. E é preciso passar a mensagem de que a responsabilidade pela mudança é de todos nós.
É prejudicial quando as marcas fazem grandes promessas e aumentam as vendas com base nessas promessas, e na verdade não as cumprem. Os consumidores sentem-se traídos e isso compromete a boa vontade das pessoas – ou seja, sentem que tentaram fazer a coisa certa e não funcionou e que precisam de perder demasiado tempo a pesquisar para tomarem boas decisões. As empresas têm a responsabilidade de facilitar a vida aos consumidores. É importante que as marcas sejam transparentes. A confiança ganha-se com o tempo, não é instantânea, e as marcas têm de se comprometer a longo prazo, de mostrar de que não se trata apenas de uma moda.
Se os produtos da Garnier se tornarem desejáveis, mesmo as pessoas que não percebem nada de sustentabilidade vão comprá-los e é aqui que as empresas desempenham um papel tão importante.”
Adrien Koskas, Garnier Global President
“É preciso fazer com que os produtos sustentáveis sejam mais desejados. As pessoas acham que por serem naturais não funcionam. Esse é um dos objetivos da Garnier: ter mais fórmulas naturais e sustentáveis, com um impacto melhor no planeta, mas sem comprometer a eficácia, a sensorialidade e o prazer.
Outros dos pontos importantes é a amplificação da voz, precisamos de dizer às pessoas que é uma questão de consciência e quanto mais conseguirmos amplificar esta mensagem mais pessoas agirão.
Podemos fazer sempre mais. O desafio é enorme e estabelecer uma relação de confiança com os consumidores é muito importante. Quando criámos o pioneiro sistema de avaliação de sustentabilidade na beleza, fizemo-lo com cientistas e de uma forma muito objetiva. Temos produtos com uma classificação A e B, temos produtos que são D e E. Assumimos isso perante os consumidores. Claro que o nosso objetivo é melhorar os produtos que são D e E, alterando as fórmulas e as embalagens. Todos os anos publicamos um relatório de sustentabilidade que é auditado por empresas independentes. Há coisas que conseguiremos fazer e outras que não.
Avaliámos qual a maior parte da nossa pegada de carbono e apurámos que o nosso maior impacto está na fase de utilização dos nosso produtos, na quantidade de água necessária para fazer espuma e enxaguar. E foi por isso que desenvolvemos algumas novas mensagens como ‘um minuto a menos no duche traduz-se na poupança de 10 litros de água’. Todos ganham: ganhamos porque o impacto no planeta é menor e porque poupamos dinheiro – e hoje a inflação é algo muito presente na mente dos consumidores. Em muitos países, as pessoas esperam que as marcas tenham um papel mais importante na educação do que os governos.”
Michelle Thew, CEO da Cruelty Free International
“Há duas décadas, quando comecei, era difícil ser-se ‘cruelty free’. Tínhamos de atravessar a cidade para ir a uma loja que tivesse esses produtos – e havia uma ou duas marcas a fazer o que estava certo. Tínhamos de decidir entre a marca que adorávamos e os valores que defendíamos.
E agora todas as pessoas podem fazer essas escolhas no seu dia a dia. Trazer uma marca como a Garnier para este espaço, com um compromisso ‘cruelty free’, significa que, independentemente de onde fizermos as compras, podemos fazer as escolhas certas.
Fundámos o programa Leaping Bunny para aumentar a confiança dos consumidores. As pessoas preocupam-se com os testes em animais e as empresas responderam com uma grande variedade de mensagen, nem todas credíveis. Já perdi a conta ao número de formas, tamanhos e cores dos coelhinhos que já vi nas embalagens desenhados pelas próprias marcas e que não têm significado. Para resolver esta confusão desenvolvemos este programa e já temos cerca de mil marcas a nível internacional. E goza de um grande nível de confiança porque requer trabalho. A Garnier, para ter a aprovação do programa, não teve apenas de declarar que não testa em animais. Trata-se de uma cadeia de fornecimento rigorosa. Pedimos para irem ao nível da matéria prima, para a Garnier isso significa rastrear cerca de 3 mil ingredientes, 500 fornecedores, isso leva muitos meses… E no que toca à transparência, significa estarem disponíveis para auditorias regulares. Dizemos às marcas para não declarem que nunca testaram em animais – porque a maioria fê-lo – mas para serem honestos relativamente ao caminho que querem fazer.
A educação é crucial para o nosso trabalho. Fazemos imenso trabalho diretamente com os consumidores, para os educar relativamente às escolhas que podem fazer, e isso está a tornar-se cada vez mais fácil porque os consumidores têm agora mais alternativas. Mas isto não se limita às ações dos consumidores, nós como organização temos de amplificar estas vozes: levámos 8 milhões de vozes às Nações Unidas, como forma de pressão para uma resolução global para acabar com a testagem em animais nos cosméticos. E trabalhamos diretamente com as marcas. Há uma década, o debate sobre os testes em animais era visto como cidadãos e consumidores de um lado e marcas que faziam coisas horríveis aos animais do outro. Mas este diálogo mudou de forma fantástica e agora muito do nosso trabalho é trabalhar com grandes marcas, amplificar as suas vozes e as dos cidadãos. É importante educar os consumidores mas é também importante trabalhar com as marcas, com os governos e com instituições globais para implementar as mudanças, porque nem sempre a ação dos consumidores é suficiente.”
Andrew Almack, fundador da Plastics for Change
É um pouco frustrante ver o impacto das alterações climáticas num país como a índia. O argumento do aquecimento global de 1,5 graus não está a ressoar na cabeça das pessoas.
A Plastic for Change foi fundada com a missão de utilizar o desperdício plástico como recurso, para eliminar a pobreza e criar oportunidades de uma vida melhor. Ao ter um parceiro como a Garnier conseguimos ter uma cadeia de abastecimento completa e garantir a rastreabilidade. E vivemos numa era muito entusiasmante onde podemos aproveitar a tecnologia e rastrear através da transparência digital.
A educação é muito importante e a ideia de uma parceria com a Garnier é poder aproveitar a voz da Garnier para agitar consciências. Especialmente no setor das ONG, onde o orçamento para marketing é tão reduzido… É importante aumentar a consciência do impacto dos coletores de lixo e do seu papel na economia circular – mais de 50% do plástico que entra na economia circular global vem dos coletores de lixo informais das economias emergentes – e é muito bom ver marcas como a Garnier a tornar isso mais visível.”
Fotos: divulgação