Como a música afeta as nossas emoções
Não é a primeira vez que Angelina Jolie visita Budapeste, mas ontem deixou-nos uma imagem invulgar quando chorou durante a representação do Requiem, de Verdi, dirigido por Szilveszter Ókovács, na Ópera de Budapeste. A atriz americana está na Hungria a preparar a rodagem do novo filme. Dirigido pelo chileno Pablo Larraín, o filme abordará os últimos anos da soprano María Callas, em Paris, considerada a melhor cantora de ópera do século XX.
“Entre as manifestações artísticas, a música ocupa um lugar primordial. A grande música exprime a voz interior do espírito humano, uma realidade simultaneamente próxima e distante. Com três acordes posso fazer-vos sentir muito mais do que com trezentas palavras. É uma chave para penetrar no interior do ser humano e conhecer melhor o seu mistério (…) O nosso eu mais real e íntimo permanece num palco demasiado profundo, inacessível a nós próprios”, disse Mendelssohn, compositor, pianista e maestro alemão. Também recentemente, o cantor de ópera José Manuel Zapata revelou que ouvir música clássica é uma experiência única e tremendamente enriquecedora, graças à sua variedade de planos sonoros. De facto, o tenor recomenda que se faça um esforço para “ouvir abaixo do óbvio na música”, porque isso ajudar-nos-á a “aprender a ouvir na vida“.
Além disso, “a música é capaz de melhorar as redes neuronais, baixar a pressão sanguínea e o ritmo cardíaco, reduzir a concentração de hormonas do stress e de marcadores inflamatórios no sangue, aliviar a dor e ajudar a atenuar as consequências de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. E estas são apenas algumas explicações puramente biológicas, incapazes de resumir o magnífico complexo de efeitos positivos que a música é capaz de exercer nas nossas vidas e no nosso mundo”, explica Immaculata De Vivo, uma das principais cientistas da Universidade de Harvard e autora do livro Biology of Gentleness. E acrescenta: “A música influencia os estados de espírito, cura a melancolia, tem um poder quase mágico sobre as emoções, e o corpo percebe-a como algo semelhante a um medicamento. Porque, de certa forma, o é”.
Na Grécia antiga, Platão dizia que a música é para a alma o que a ginástica é para o corpo, e Nietzsche pensava que sem ela a vida seria um erro. Apesar de não nos apercebermos, a música está presente em toda a nossa vida e cada canção transporta-nos para um momento específico. Provavelmente, já ouviu uma música para fugir, para chorar, para se animar, ou simplesmente para se motivar a sair de casa num sábado em que lhe apetece ver um filme, ou num dia em que não lhe apetece fazer desporto, quanto mais limpar a casa. A música ajuda a controlar as emoções e afeta a forma como nos desenvolvemos desde os primeiros meses de vida, algo conhecido como “o efeito Mozart”.
Ao longo dos anos, é provável que tenha ouvido falar da importância de tocar música clássica para os bebés, ou mesmo de a ouvir durante a gravidez, para melhorar as capacidades cognitivas da criança. Isto não é inteiramente verdade, uma vez que não existem provas científicas de que ouvir música possa levar a um aumento da inteligência. Os especialistas relacionam o aumento da ativação cerebral com os efeitos eufóricos de algumas canções, algo que também acontece quando se pratica desporto ou se lê um livro.
No entanto, a música tem outros benefícios para a saúde. De acordo com alguns estudos, ouvir o compositor austríaco é terapêutico e ajuda a reduzir o stress e a melhorar o humor.
A musicoterapia, como nos referimos aos tratamentos que utilizam a música para melhorar o estado emocional, ajuda a melhorar as funções cognitivas, a desenvolver as capacidades motoras, a reduzir as doenças cardiovasculares ou a aumentar as competências sociais. Também reduz os sintomas de perturbações como a depressão, a demência ou a esquizofrenia. Estes benefícios aumentam quando se toca um instrumento em criança, pois motiva, aumenta a criatividade e estimula intelectualmente.
Outra caraterística da música são os seus benefícios para a memória. De acordo com um estudo realizado pela Universidade Aberta da Catalunha, ouvir música clássica em segundo plano enquanto se fazem exercícios de retenção não melhora nem piora o nível de aprendizagem das pessoas com deficiência cognitiva ligeira, mas ouvir uma melodia mais activadora pode ter um efeito positivo nas pessoas que estão habituadas a utilizar a música como regulador emocional na sua vida quotidiana.
Se as pessoas utilizam habitualmente a música para as ajudar a controlar as emoções, será mais fácil para elas obterem novos benefícios das harmonias quando tiverem de aprender coisas novas. A música clássica é utilizada para estes estudos porque não tem letra e não fornece novas informações verbais, sendo relaxante e activadora. No entanto, os resultados melhoram com a música popular. Os cientistas estão à procura de música para melhorar a concentração dos doentes de Parkinson, e já foi demonstrado que as pessoas com demência demoram mais tempo a esquecer canções do que outros conceitos. Por conseguinte, é importante ouvir melodias desde tenra idade e recorrer a elas sempre que necessário.
Como a música afeta as nossas emoções