Sabia que um país tão pequeno como Portugal tem na verdade nada menos que 11 raças características? Destas, oito são reconhecidas pela FCI (Fédération Cynologique Internationale): Cão da Serra da Estrela, Cão da Serra de Aires, Cão de Água Português, Cão de Castro Laboreiro, Cão de Fila de São Miguel, Perdigueiro Português, Podengo Português e Rafeiro do Alentejo (o cão Barbado da Terceira, o cão de gado Transmontanoe o Cão do Barrocal Algarvio ainda não foram internacionalmente reconhecidos).
Os cães nem sempre foram ‘pets’ de sofá ou animais de companhia. Muitas vezes foram – e são ainda – uma ajuda preciosa e trabalhadores incansáveis na dura vida do campo. Condutores de rebanhos, guardadores de casas, protetores de pessoas ou caçadores de coelhos, os cães portugueses foram originalmente criados como companheiros dos humanos. Hoje algum do seu ‘trabalho desapareceu mas esses cães continuam connosco, amados e valorizados pela sua coragem, dedicação e afeto.
Atenção: alguns destes cães, como os cães pastores, são cães de trabalho. Não são cães para estarem fechados num apartamento com uma pessoa que não tem tempo para eles, são cães que precisam de espaço e de donos experientes, ou correm risco de desenvolver reatividade e ansiedade. Portanto, antes de arranjar um Serra da Estrela, um Castro laboreiro ou um Rafeiro Alentejano, pense que tipo de vida vai dar a este cão. Aliás, ter um cão não deve ser um impulso mas uma decisão pensada: que tipo de cão é, e de que tipo de vida precisa.
Todos têm características diferentes e precisam de tutores atentos e carinhosos que compreendam as suas necessidades. E além destes, existem muitos outros cães à espera de serem adotados nos muitos canis de Portugal. Quando sentir que tem condições para isso, visite um deles e venha de lá com um ‘cãopanheiro’ que lhe vai encher a vida de amor e alegria (pronto, e meias desaparecidas).
1 – Cão da Serra da Estrela
Este ‘urso’ é um cão resistente ao frio da serra, habituado a duras condições, a longas distâncias e à vida com os rebanhos. É um dos cães mais antigos de Portugal e é mesmo a primeira raça registada. A variante de pelo comprido é a mais conhecida, mas também existem cães de pelo curto. De temperamento valente mas calmo, são atentos e vigilantes.
Tipo de tutor: Um cão da serra é mais feliz ao ar livre, com espaço suficiente para não se sentir apertado.
2 – Cão Serra de Aires
Toma o nome da serra, mas na verdade não se cinhece ao certo a sua origem. Um cão pastor excecionalmente inteligente, apareceu quando a indústria de lanifícios estava em pleno desenvolvimento e era preciso um cão suficientemente ágil para guardar grandes rebanhos, mas que já não precisava de ser um portento para os defender dos lobos, que já não eram muitos. Característica especial: não tem pelo branco.
Tipo de tutor: Com família. Este cão gosta especialmente de famílias grandes que há-de querer proteger e manter unidas, principalmente as crianças.
3 – Cão de água português
Ficou internacionalmente famoso – enfim, mais do que já era – quando a família Obama o escolheu para ‘Primeiro Cão’ da América. Nasceu no Algarve para ajudar os pescadores na sua faina, e em épocas remotas existiu em todo o litoral português. Entretanto, com a modernização da pesca, o Cão de água ficou sem trabalho e passou a ser um cão de família. Mas continua a ser um nadador e mergulhador excelente.
Tipo de tutor – Enérgico e que goste de passear. Divertido, brincalhão, inteligente, comunicativo e com muita energia para gastar, este cão precisa de atenção e de exercício, e vai gostar especialmente de uma família onde haja crianças, ou pelo menos um tutor com energia para lhe dispensar.
4 – Cão de Castro Laboreiro
Como o nome indica, é natural de Castro Laboreiro, em Melgaço, terra ela própria antiquíssima. A raça é das mais antigas de Portugal, e desde sempre ajudou os pastores no seu trabalho. As comunidades castrejas sempre realizaram um pastoreio de curtas distâncias, o que explica que este cão, sendo um cão de gado, não seja tão possante como o Serra da Estrela, por exemplo.
Tipo de tutor – Alguém que tenha espaço e alguma coisa para guardar, e que não se assuste com um cão a ladrar. Este cão é corajoso, dedicado e não brinca em serviço.
5 – Cão de fila de São Miguel
É aquilo que se chama um ‘cão boieiro’, ou seja, um cão ‘especialista’ na condução de rebanhos de vacas (aliás, também é conhecido por ‘Cão de Vacas’). Natural da Ilha de S. Miguel, está referenciado desde o século XIX. Tal como os outros cães de gado e de guarda, é um cão imponente com os estranhos mas dócil com os tutores. Curiosidade: como a sua função era conduzir vacas, está habituado a morder baixo, para não lhes magoar as tetas.
Tipo de tutor: Este é acima de tudo um cão de trabalho, mas se for uma pessoa de caracter sereno e com muito espaço, o cão ‘boieiro’ vai guardá-lo a si também zelosamente.
6 – Perdigueiro português
A sua existência está documentada, adivinhe lá: pois desde o próprio nascimento de Portugal, no século XII. O seu nome vem da caça à perdiz: eram cães de caça muito utilizados pela realeza, por exemplo, juntamente com os falcões. No século XVI, o rei proibiu mesmo que a plebe possuísse perdigueiros (porque o feitiço estava a virar-se contra o feiticeiro e os pobres já usavam estes cães nas coutadas reais). Atualmente, o perdigueiro português está espalhado por toda a Europa.
Tipo de tutor: Sendo um cão afável, simpático e que gosta de aprender, é indicado para famílias com crianças. Tenham atenção apenas que este cão precisa de muito exercício, ou poderá de repente chegar a casa e encontrar os tapetes em frangalhos…
7 – Podengo português
Raça difundida pelos fenícios e considerada da mais antigas do mundo, é um cão ancestral, que se crê que tenha descendido de uma raça egípcia. Curiosidade: o Podengo Português Pequeno era frequentemente levado em caravelas e galeões para caçar ratos. Mas a sua especialidade era a caça ao coelho. São cães vivos, alegres e sociáveis, que se dão bem com crianças e com outros cães, embora às vezes tenham medo de pessoas que não os donos. São pequenos ou médios (a maioria) mas bons cães de guarda, vigilantes e atentos sem serem agressivos.
Tipo de tutor – O Podengo é afetuoso, atento e inteligente, e vai gostar de um tutor com paciência para brincar e para lhe ensinar truques.
8 – Rafeiro do Alentejo
Apesar de se chamar ‘rafeiro’ (o nome nasceu por ser um cão ‘comum’ no Alentejo) é muitas vezes descrito como ‘um cão nobre’, e quem vê um, percebe logo do que se fala. Um cão bonito, corpulento e possante (principalmente o macho), com uma cabeça maciça e olhos calmos, há quem diga que nasceu durante os Descobrimentos quando os pescadores visitavam as regiões da Terra Nova. Foi depois criado para guardar gado e defendê-lo contra lobos e outros atacantes. É um cão afetuoso, corajoso, leal e seguro de si, um companheiro atento que defenderá o dono contra tudo e todos.
Tipo de tutor – Com muito espaço para ele correr e guardar, e muita calma. Não se admire se o seu Rafeiro passar o dia em sossego e ‘acender’ com a chegada da noite: afinal, é um cão de guarda, e era durante a noite que precisava de estar atento. Pormenor: é um cão inteligentíssimo, mas é um cão de trabalho. Só aprenderá os ‘truques’ que achar necessários.