Com o 25 de Abril, mais de 600 mil portugueses deixaram África e voltaram a Portugal. Chamaram-lhe ‘retornados’, mas alguns nunca tinham conhecido outra pátria que não a africana, alguns nunca tinham sequer estado em Portugal, outros não tinham nenhuns laços com a ‘metrópole’. Como foi a vida destas pessoas? Como era a sua existência em África e o que é que encontraram em Portugal?
Depois de ‘Madrinhas de guerra’ e ‘Cartas de amor e de dor’, a jornalista Marta Martins Silva continua em ‘Retornados’ (Ed. Contraponto) a sua tarefa de manter vivas as memórias de uma época tão importante mas tão esquecida da História portuguesa, e mantém o seu registo de escuta. Ela ouve estas pessoas: não o general ou a alta patente, mas as histórias de pessoas banais. Aqui reside grande parte do apelo deste livro: estamos a ler estas histórias e pensamos – isto podia ter-me acontecido a mim.
A outra parte do fascínio é a simples grandiosidade de cada uma das histórias. Estamos a ler e pensamos – Que grande filme que isto dava! – vezes sem conta. Este é de facto a celebração das pessoas que voltaram de África muitas vezes para uma terra que nunca os recebeu bem.
Marta senta-se e ouve – e fá-lo também por razões familiares. Como ela própria conta, esta é também uma homenagem aos seus avós, Manuel, que deixou a família para ir para África, e Graciosa, que deixou em Portugal três filhos para se juntar ao marido, e dos tios, que ficaram longe dos pais quando eram ainda crianças.
É uma homenagem mas não é a sua história, porque já cá não estão para a contarem. “Cresci a ouvir a história dos meus avós mas nunca a registei”, conta Marta. Esta é portanto a história de muitos que ainda cá estão para a recordarem a quem a quis ouvir, e são verdadeiras sagas familiares contadas pelos próprios.
Como a própria Marta afirma, “Olhar para o passado é fundamental para compreender o presente e antecipar o futuro. Que sibamos fazê-lo sem medo nem tabus.”
‘Retornados’ – Marta Martins Silva, Ed. Contraponto, E17,70