É raro haver um livro para crianças, digamos, normal. Geralmente, querem ensinar qualquer coisa ou são tão tão tão poéticos que não dizem nada à maioria dos miúdos. Nenhuma das coisas é necessariamente má, mas já há muitos quer num estilo quer noutro.
Este ‘Um dia não muito bom’ na verdade até traz, enfim, água no bico. Ele ensinar ensina. Mas cumpre essa missão de forma tão divertida que nem parece que veio com uma missão.
O leitmotiv é ‘Toda a gente tem um dia mau’, e na verdade é mesmo sobre isso. O Paco era um pato sempre muito delicado: abria a porta, deva o lugar, dizia obrigado, salvava o dia. Mas um dia acordou com as patas de fora. “Não se sentia educado, nem querido, nem gentil, nem nada por aí além. Estava aborrecido, transtornado, enfadado, entediado, maçado e desconsolado.”
A ‘mensagem’ (pronto, o tema) aplica-se a todos, patos e humanos, crianças e adultos: por muito encantadores e simpáticos que sejamos, há sempre um dia em que acordamos verdadeiramente com as patas de fora. E isso não faz mal, porque – lá está – todos temos dias desses.
O livro ‘ensina’ – se lhe quiserem chamar assim – duas coisas preciosas: podemos pôr-nos no lugar do Paco e perceber que também temos o direito de estar maldispostos. E também podemos pôr-nos no lugar dos amigos do Paco e perceber que podemos ajudar: seja com um abraço, um gelado ou uma pausa.
Além de ser muito divertido, muito humano e muito bem escrito, os desenhos são tão deliciosos que nunca nos fartamos de olhar para eles (pense bem nisto: vai ser uma bênção se tiver de ler este livro todas as noites durante um ano).
Um dia (não) muito bom, de Kaye Umansky e Ben Mantle, Ed. Jacarandá, E11,61