
Talvez o nome de Judith Kerr não vos diga grande coisa mas ela é bem conhecida em Inglaterra. Nascida em 1923 numa família alemã, o pai era um famoso escritor e foi perseguido pelos nazis. A família fugiu quando Judith tinha 9 anos e acabou por se estabelecer em Inglaterra em 1936.
Judith sempre quis ser escritora, mas só meteu mãos à obra um dia, quando levou os filhos a ver a ‘Música no Coração’ e o filho comentou ‘Agora sabemos como era quando eras pequena’.
Então a mãe sentou-se e escreveu um dos clássicos da literatura infantil britânica, ‘Quando Hitler roubou o coelho cor de rosa’, um relato das ascensão nos nazis da Alemanha dos anos 30, visto por uma criança.
Pronto, este intróito vem a propósito de outro clássico, este ‘O tigre que veio para o chá’. A história parece simples: uma menina e a mãe estão a lanchar pacatamente em casa quando aparece um tigre esfomeado, que é muito bem recebido e que basicamente come tudo quanto há em casa: os bolos, tudo o que há na despensa, o chá e até a água dos canos.
Nunca percebi porque é que o livro é adorado por todas as crianças, mas a verdade é que é, desde que foi ‘testado’ com a filha de Judith, Tacy. Se calhar é porque a história é serena, porque o Tigre é bem recebido, porque todas as crianças gostam de uma história que começa com alguém a lanchar, porque não se quer ensinar nada a ninguém, ou porque é cómico ver um animal selvagem entrar em nossa casa e comer tudo o que encontra à frente.
Claro que não faltaram críticos a comentar que o livro é uma alegoria à Alemanha nazi (por isso é que vos pus aquela explicação inicial): o Tigre simboliza os nazis que roubaram tudo o que a família de Judith tinha. Judith tem uma versão diferente, e contou que um dia levou a filha ao Jardim Zoológico e ela adorou os tigres, e que portanto inventou uma história em que uma menina conhece um Tigre. É verdade que este Tigre come tudo, mas também é verdade que tem um ar bastante afetuoso e até agradece o lanche.
Seja como for, como vos disse, é um livro que permanece adorado pelas crianças, hoje como em 1968 quando foi escrito.
A este tigre juntei outro, ‘O Tigre das preocupações’. Um menino preocupado com o dia seguinte em que tem de partilhar alguma coisa especial com os colegas na escola, vê de repente a cidade à sua volta transformar-se numa selva e aparecer um tigre. O seu novo amigo mostra-lhe as árvores, os macacos, os pirilampos, e sobretudo, como manter a calma em face das preocupações.
O livro inclui ainda alguns ‘truques de tigre’ para manter a calma, que os pais e professores podem treinar com os miúdos (e usá-los também no seu dia a dia). Mas o que o torna especial são os desenhos coloridos e a cena inicial da transformação da cidade em selva, que vai apelar a qualquer criança.
Quer escolham o Tigre que veio a casa ou o Tigre que nos levou à casa dele, vão bem acompanhados. Boas leituras e que os tigres (não os verdadeiros mas os imaginados) vos acompanhem.
‘O tigre que veio para o chá’ – Judithe Kerr, Fábula, E14
‘O tigre das preocupações’ – Alexandra Page e Stef Murphy, Jacarandá, E11,61