É com um sorriso estampado no rosto que Miguel Vieira descreve os “os quilómetros de passerelles percorridos, inúmeros croquis desenhados, milhares de metros de tecidos cortados, muitas milhas viajadas“ que culminaram em 25 anos de uma carreira de sucesso no mundo da moda. Na semana em que apresenta a coleção outono/inverno 2013/2014 na invicta, Miguel Vieira celebra as bodas de prata e, em entrevista à ACTIVA, faz um balanço de uma carreira resultante de “muita disciplina e sacrifício” e que ainda não dá por terminada. “Isto é como uma escadaria muito grande e ainda tenho muitas escadas para subir e coisas para fazer”, afirma.
Nascido em S. João Madeira, em 1966, o homem que em criança “ nunca ligou a modas” – e sonhava ser astronauta ou bombeiro – chegou a pensar seguir arquitetura, mas é na moda que se sente realizado, numa carreira que iniciou após tirar um curso de “ especialidade em têxtil e ganhar gosto pelas matérias-primas”. Miguel Vieira encontrou o que descreve como a “primeira porta do destino” quando começou a trabalhar numa empresa que reproduzia roupas que vinham do estrangeiro. Numa trajetória ascendente, o designer começou por desafiar esta empresa a criar os próprios modelos ,e passados dois anos, já criava a primeira coleção para mulher e a marca própria, Miguel Vieira.
Vinte e cinco anos depois, o designer volta a fazer desfilar e renovar o seu habitual registo de elegância intemporal numa coleção que pretende ser uma homenagem à mulher e “todos os seus atributos”. “Quis homenagear a mulher. No entanto, achei que era um pouco egocêntrico estar a ser o único a prestar essa homenagem. Por isso, trouxe modelos masculinos para que todos os homens possam fazer uma homenagem às qualidades que vemos nas mulheres”, explica.
As conceituadas semanas
de moda de Paris, Barcelona e São Paulo foram alguns dos palcos por
onde o estilista fez desfilar as suas coleções e onde consolidou uma
estratégia de internacionalização que o coloca no centro de mercados
de luxo e que o afasta da crise que se vive em Portugal. “O
mercado que defini não sente muito a crise, em cada feira internacional aparecem
novos clientes”, acrescentou.
Apesar do estrangeiro ser uma aposta ganha, Miguel Vieira não esquece as origens
e eternizou o amor que sente pelo país numa tatuagem que diz
“Fabricado em Portugal”. O estilista, que coloca o nome em roupa, calçado,
mobiliário e até joias, afirma-se como um patriota que teve oportunidade
de construir carreira nos estrangeiro, mas que preferiu permanecer em
terras lusitanas. “Amo imenso o meu país”, diz com orgulho o homem que é o
mestre do preto e branco, mas que afirma que as cores da bandeira nacional são
as suas preferidas.
O fenómeno de design português, que já foi convidado pelo Biography Channel para realizar a sua biografia, tem como referência o criador americano Tom Ford. Condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D.Henrique, pelo presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio, em 2006, os sonhos de Miguel Vieira passam ainda por construir um hotel que respire o conceito do designer, com uma boutique interior, fardamento, mobília, fardamento, tudo desenhados pelo próprio.
De olhos postos no passado o estilista fala sobre as mudanças que ocorreram nos seus 25 anos de carreira. “Portugal não era um país com tradição de moda. Não havia jornalistas especializados em moda nem agências de manequins organizadas, cabeleireiros, televisões. Durante estes anos ocorreu uma grande profissionalização de todas estas pessoas e tornou-se mais fácil trabalhar em Portugal”, explica o designer.
Para os que ainda estão no primeiro degrau da carreira, Miguel Vieira afirma-se como um padrinho para todos os jovens estilistas portugueses a quem tenta dar todo o apoio e deixa um conselho. “É necessária persistência para continuar a subir esta escadaria, o que é realmente importante é ir à luta e não cruzar os braços”.