Em mês de sensibilização para o cancro do Pulmão, Helena Costa é embaixadora de campanha “Não há dois pulmões iguais, Não há dois cancros iguais”, da Pulmonale, Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão. O objetivo da campanha é alertar as pessoas para a heterogeneidade desta doença. O apelo é ao envolvimento, informação e participação do doente na jornada da doença, em estreita relação e colaboração como a sua equipa de saúde. Porque existem vários tipos de cancro, com abordagens de diagnóstico e tratamento distintas, diferentes evoluções e prognósticos. O que é importante lembrar é que o cancro do pulmão é responsável por 11,6% de todos os casos de cancro e em 2020 houve 5,400 novos diagnósticos, dos quais 4797 resultaram em cancro.
Helena Costa, através do seu testemunho real, faz parte desta campanha, e, em conjunto com três outros doentes, promove o diálogo sobre o tema. Para tal, foram registados três vídeos – três conversas com testemunhos de diferentes experiências no combate à doença –, que serão publicados ao longo do mês nas redes sociais da embaixadora e da Pulmonale.
“A troca de testemunhos e experiências é muito importante no processo de cada um dos doentes. Ajuda a entender, não só, que existem pessoas em situações parecidas com as nossas, mas também, simultaneamente, diferentes. Perceber o modo como estas pessoas tomaram controlo da sua vida e decidiram tirar o melhor partido dela, independentemente da sua condição, é inspirador. Decidiram encarar os tratamentos e a gestão da doença da melhor forma, tendo em conta a sua realidade.” frisa a atriz sobre a opção de ser rosto da campanha.
- Num vídeo partilhado nas InstaStories explica que, como é muito resistente à dor, isso pode estar na origem de um diagnóstico mais tardio… Como descobriu que tinha cancro no pulmão? Que sintomas existiram que a alertaram?
Os sintomas que tinha, eram exatamente os mesmos que se tem num quadro de asma. O meu diagnóstico talvez tenha sido um pouco tardio, visto não ter tempo para ir ao médico, por estar a gravar a novela. A verdade é que só consegui ver o que se passava mesmo no final das gravações. Quando digo que sou resistente à dor é porque tendo a desvalorizar certos sinais e a pensar que não é nada. E isso foi uma das coisas que mudou em mim, depois de passar por todo este processo. Estou, sem dúvida, muito mais atenta, ao que o meu corpo me diz.
- Primeiro houve um diagnóstico de asma, depois uma série de exames. Como foi vivido esse período?
Quando percebemos que a medicação para a asma não estava a fazer efeito, encarei a situação com naturalidade, não achei que pudesse ser algo tão grave. No entanto, quando começaram a surgir suspeitas de algo pior e quando, finalmente, tive a confirmação do que realmente se passava, aí sim, vivi um período de grande ansiedade e preocupação. Foi como se me tivessem tirado o chão. De repente passei a ser uma pessoa com cancro do pulmão e isso foi a coisa mais assustadora do mundo, para mim. O apoio da família foi fundamental em todo o processo, principalmente até à cirurgia. Depois da cirurgia, foi como se me tivessem tirado um grande peso de cima.
- Quando descobriu que tinha um tumor no pulmão e que ia ter de fazer uma cirurgia, qual foi a sua reação? Que dúvidas lhe ocorreram e que perguntas fez ao médico?
Logo depois de fazer a broncoscopia foi-me dito que teria de fazer uma cirurgia para remover o tumor. Quando tive consulta com o cirurgião, o Dr. Fernando Martelo, foi-me explicado como seria o procedimento – iria ter que retirar a parte do pulmão afetada. Claro que fiquei assustada com todo o panorama, ainda tive esperança que me pudessem poupar três lobos, mas acabaram por ser retirados seis. Na altura, tudo o que dizia ao médico era para fazer o que fosse preciso para que ficasse tudo bem. Foram dias vividos quase que numa realidade paralela.
- Sabia na altura do grau de gravidade do cancro ou só mesmo depois da cirurgia e da biopsia?
Eu sabia o grau de gravidade do tumor, era cerca de 2,5 numa escala de 1 a 4. No entanto a cirurgia tinha muitos riscos e isso assustava-me imenso. O pós-operatório também não me deixava muito confortável, porque sabia que ia ser uma recuperação lenta. No entanto, só depois da peça de pulmão retirada ser analisada, é que se consegue saber, com certeza, se estava tudo bem, ou não, e quais os passos seguintes. Esse processo, desde a cirurgia até recebermos esta avaliação, demora uns cerca de uns 15 a 20 dias. Eu não sabia disto, para mim o processo estava terminado. Mas a minha irmã, viveu esses dias consciente do processo e, claro, muito assustada. Só quando fomos à consulta e o médico disse que já tinha saído o resultado da análise e que “estava tudo limpo”, é que foi um festejo, tanto do médico como da minha irmã (e eu sem perceber bem o que se estava a passar)! Até foi bom não ter a consciência de tudo, caso contrário tinham sido mais 20 dias de ansiedade.
- Como foi o processo de recuperação?
Foi lento no início, mas é o esperado nestas situações. Ainda me canso um bocadinho, também ainda só passaram seis meses, mas agora é sempre a melhorar e a ganhar capacidade torácica! O objetivo é recuperar a capacidade que tinha. Mas claro, no início não conseguia andar, nem levantar os braços. Mas com fisioterapia adequada, fui sempre melhorando. Acho que tem muito a ver com força de vontade e definição de objetivos. Tive muito apoio, psicológico também, e isso ajudou-me imenso.
- Ficou com alguma limitação depois do cancro?
Diria que não, agora com exercício acho que vou recuperar o que ainda me falta. Ainda só passaram seis meses e acredito que daqui a mais seis meses, já consiga estar a 100%. Vamos ver, estou a cuidar muito de mim e agora, mais do que nunca, quero estar saudável e em forma.
- Teve de fazer tratamentos complementares como quimio ou radioterapia?
Não tive que fazer tratamentos complementares.
- Sentiu necessidade de procurar apoio psicológico durante este processo? O que diria a alguém que se visse confrontado com o mesmo problema de saúde?
Sentia muito a necessidade de ter apoio por parte das pessoas, no entanto, não as queria preocupar ou assustar. Tanto que, durante muito tempo, guardei este problema só para mim e só partilhei com uma ou duas pessoas mais próximas e sabia que essas pessoas sofriam imenso. É uma situação complexa. É muito importante procurar ajuda, mas sabemos que as pessoas próximas também vão sofrer. Aconselho a procurarem, assim que possível, pessoas especializadas na área da psicologia ou psiquiatria, porque são profissionais que nos vão ajudar a lidar com a situação da melhor forma possível e acabamos por não ter de preocupar tanto aqueles que nos são mais próximos. É muito importante esta consciencialização porque, numa situação destas, rapidamente nos desorientamos, perdemos a calma, ficamos ansiosos e, mais do que nunca, é importante mantermos a calma e o positivismo.
- Sente que tem uma nova missão agora? Alertar para a importância do diagnóstico precoce?
Sim, sem dúvida. Acho que devo alertar as pessoas para estarem atentas e que, ao primeiro sinal, do quer que seja, devem ir ver o que se passa. É fácil marcarmos uma consulta de especialidade, quer seja no público ou no privado, e pedir exames. Não devemos, de todo, esperar que os sinais se agravem. Se eu soubesse o que sei hoje, teria, sem dúvida, ido ver o que se passava mais cedo.
- Já referiu que o que lhe aconteceu a fez ver a vida com outros olhos. O que mudou em si e na sua vida depois do cancro?
O que esta doença me trouxe foi a consciência de que a vida é curta e as decisões que tomamos devem ser bem pensadas, tendo sempre em vista o nosso bem-estar. Se há alguma coisa que não está bem ou que nos incomoda, deve ser mudado e que se queremos ser felizes temos de lutar por isso e não ficar acomodados.