Cristina Costa nasceu em Lisboa e tem nas suas memórias de infância muito do que a sustenta enquanto pessoa. Do tempo que passava com os avós maternos, na Ajuda, dos passeios que dava com os pais, onde o contacto com a arte e com a natureza estava sempre presente, do amor incondicional que sentia… Hoje é com amor que trabalha, criando peças únicas que marcam momentos para quem as usa.
Aos 52 anos, entrega-se de corpo e alma ao sonho e à paixão de há muito, na marca que criou com o seu ADN, a CrisMaria Jewelry. É através dela que perpetua a criatividade, o cuidado, a sua visão do belo e o enfoque no tempo, num relembrar constante que devemos desfrutar dele com o que nos dá felicidade.
Quando surgiu a paixão pela joalharia?
Sempre tive uma paixão enorme por anéis de prata. A curiosidade de tentar perceber como se faziam e o ir à descoberta levou-me até ao mundo da joalharia. Em 2001 descobri uma escola em Lisboa, a Contacto Direto, onde ensinavam aquela arte, e inscrevi-me num programa, na modalidade de hobby. Era um horário pós-laboral, à noite. A partir daí nunca mais larguei a joalharia. Fiquei fascinada ao perceber como se trabalhava o metal para se chegar ao resultado final e com as possibilidades imensas que existiam.
Fazer deste o seu caminho sempre foi uma certeza?
Não. Desde sempre que senti um apelo pelas artes. Criar, desenhar, pintar sempre me foram inatos. Mas também gostava da área de ciências e acabei por seguir Engenharia. Sou licenciada em Engenharia Geológica e trabalhei durante 17 anos numa empresa ligada à construção.
Uma mudança na minha vida levou-me a ingressar no Curso de Joalharia de Design de Autor no Centro de Joalharia de Lisboa e uma oportunidade permitiu-me criar o que é hoje o meu Atelier – Loja, onde trabalho a tempo inteiro executando as peças e vendendo-as ao público. É neste meu espaço que também consigo mostrar às pessoas um pouco do que é executar uma jóia.
Uma peça sua distingue-se por…?
Ter um aspeto tosco e simultaneamente delicado e elegante, numa exploração de texturas e contrastes entre o brilho dos polidos e o mate dos acetinados.
Costuma dizer que as suas peças refletem o amor e os valores em que acredita. Que valores são esses que a definem?
O amor (em todas as suas formas), o respeito (pelo próximo e pelo planeta), a partilha, a gratidão, a sinceridade, a dedicação, a confiança e o empenho.
Há uma delicadeza muito feminina em cada peça que faz. Essa delicadeza também nos diz muito de quem é?
Considero-me uma pessoa muito feminina e com um sentido estético apurado e penso que traduzo isso nas peças que crio. E sem dúvida que há nelas muito de mim.
E dir-nos-á também muito de quem usa as suas jóias?
Penso que quem usa as minhas jóias gosta da sua estética e da conjugação que existe entre o tosco e o elegante.E partilha também os valores da marca.
Quem é a mulher que escolhe jóias da Cris Maria?
É uma mulher que prima pela diferença. Que se afirma criando o seu estilo e personalidade próprios. Mas não só mulheres usam as minhas peças. Já tive homens a comprá-las e a usá-las. Nem todas as peças, mas algumas, sim. São pessoas bonitas, por dentro e por fora, com valores e atitude. Quem usa uma peça CrisMaria sabe que leva consigo um pouco de quem a executou, uma mulher que acreditou e concretizou o seu sonho.
Por norma, as jóias mais especiais são associadas a momentos marcantes. Há uma beleza imaterial nisto de acompanhar a felicidade dos outros desta forma?
Claro que sim! É uma sensação de felicidade e de gratidão imensas poder ver a felicidade das pessoas quando experimentam uma peça e gostam tanto dela que se percebe logo. E eu presencio muito isso, no meu atelier, e nos mais variados contextos. É mesmo muito engraçado e gratificante.
Gosta de explorar a imperfeição nas suas criações. Essa imperfeição é muito mais inspiradora do que a perfeição?
Considero-me um pouco eclética nas minhas criações, mas sim, sem dúvida que gosto muito do “tosco”. Sou uma perfecionista pelo que, para além da qualidade das peças, o seu aspeto final tem que resultar sempre num equilíbrio quase perfeito entre esse “tosco” e o delicado e elegante.
O que se torna inspiração para si?
Tanta coisa… A natureza, sem dúvida, e a exploração das suas formas e texturas. Adoro recolher objetos da natureza, desconstruí-los e criar novas formas e padrões. Outras fontes de inspiração são também a moda, a arte em todas as suas vertentes, animação, pessoas e as suas histórias…
Há alguma peça que tenha criado e da qual não se tenha conseguido desapegar por ser tão especial para si?
As peças que crio são todas especiais para mim e dá-me um imenso prazer poder partilhá-las. Algumas das peças que criei durante o curso de Design de Autor acabei por não reproduzir ficando com elas só para mim.
O que a move neste trabalho?
Fazer aquilo que tanto gosto e perceber que faço as pessoas felizes com isso. Querer crescer de forma sustentada, defensora da arte do saber fazer e do mercado justo, numa lógica de consumo sustentável.