Bárbara Pinto: "A felicidade mora em tudo o que nos desperta os sentidos"
Bárbara Pinto: “A felicidade mora em tudo o que nos desperta os sentidos”
Foto: D.R.

Já teve várias vidas numa só, mas isso só trouxe ainda mais sede de viver a Bárbara Pinto. Sem medo dos desafios, gosta de arregaçar as mangas e de encará-los de frente, transformando-os em algo bom e, na maioria das vezes, memorável. Basta vermos como os espaços Nicolau, Amélia, Basílio e Olívia – marcas com um ADN tão único e próprio, que se são capazes de marcar uma cidade e os seus recantos – se tornaram parte integrante de Lisboa e de quem nela habita. Há fenómenos que não se explicam, apenas se sentem, e estes fazem parte desse nicho. Todos eles têm na sua génese esta capacidade única que Bárbara Pinto tem de sonhar e de transformar a vida nesses sonhos. Podíamos dizer que é o toque de Midas, mas a verdade é que é, sem dúvida, o toque tão diferenciador de Bárbara e também do marido, Bernardo Mesquita. Juntos, têm construído a sua família – aquela que é o pilar de todos os sonhos, e aquela que é a concretização dos mesmos. Conheça melhor esta mulher inspiradora.

Sonhava ser cantora, formou-se em economia e ainda experimentou o jornalismo. Mas a felicidade não morava em nenhum destes lugares, pois não?

Para mim a felicidade mora na criatividade e em tudo o que nos desperta os sentidos. Estudei Economia, por vezes um bocado contrariada, mas ao final do dia deu-me estrutura para saber estar à vontade na gestão dos negócios que foram surgindo ao longo da minha vida profissional. Aprendi a aceitar que nem sempre fazemos o que gostamos e que o caminho às vezes é tortuoso, mas se fosse fácil não teria a mesma graça. Claro que não fiz este caminho sozinha, e ao longo do tempo foram-se juntando elementos com valências diferentes, que permitiram o crescimento sábio e sustentado.


O Nicolau foi a primeira manifestação dessa felicidade. Foi fácil chegar a este conceito tão diferente na altura?

O Nicolau foi um feliz acaso. Podia ser resultado de um estudo de mercado, de um grande plano de negócios, de uma inspiração noutro negócio, mas não. Simplesmente decidimos fazer um sítio que não existia e que correspondia a todos os nossos desejos enquanto clientes. Pratos simples, mas diferentes, que atendiam a vários tipos de alimentação e uma flexibilidade nos horários num espaço mágico. Parecia que estávamos a adivinhar que o mercado de trabalho ia mudar drasticamente e que o horário das nove às cinco já não servia a muita gente. Na realidade, oferecemos ao cliente um sítio cool com uma boa relação qualidade/preço. De repente há universitários, teenagers nos restaurantes, pais com as filhas pequenas, atravessamos gerações, estratos sociais, gostos e formas de viver variadas e respira-se liberdade no Nicolau, assim como na restante família. 

Como é que depois surge a vontade de expandir o Nicolau formando essa família – com a Amélia, o Basílio e a Olívia?

O Nicolau estava na Baixa e quisemos trazer o conceito para bairros Lisboetas com famílias, escolas e toda a vivência da cidade. As filas no Nicolau eram imensas e de certa maneira foi quase uma “obrigação” a expansão. Lentamente fomos crescendo respondendo aos pedidos dos nossos clientes. 


Cada espaço é único por si só, não quiseram que eles fossem uma réplica do anterior. Isso acaba por ser um desafio bem maior, mas também mais enriquecedor?

São diferentes por duas razões essenciais. Primeiro porque queremos fugir ao conceito de cadeia e segundo porque é muito mais desafiante para nós enquanto empresa trazer personalidades diferentes para cada espaço. Esta ideia acabou por jogar a nosso favor porque assim temos clientes que visitam cada um dos espaços sem sentir que está a repetir. Fazer réplicas seria mais fácil, mesmo em termos de custos e gestão, mas não teria o mesmo sabor. Depois vem todo o storytelling em torno da família, o Nicolau que se apaixona pela Amélia, o primo emigrante Basílio que regressa às origens e a sua amiga Olívia. 

Qual é aquele que tem mais a ver consigo?

Cada vez que vou a um espaço, digo e afirmo que é o meu favorito. Por exemplo, agora estou no Olivia a beber um chá de hibisco bem gelado e a sentir-me encantada pela frescura do espaço. Amanhã vou ao Nicolau Cascais e tenho outras sensações maravilhosas, nem que seja o ar que se respira naquela vila incrível. 


A Bárbara é a prova viva de que a mudança, quando sentimos que tem que acontecer, é mesmo o caminho a seguir (por mais receios que surjam)?

A única coisa que me preocupa é a saúde. O resto arranja-se. O importante é saber estar sempre consciente e nunca deixar que o ego nos cegue. Um dia estou bem, outro não e se for preciso vou fazer outra coisa completamente diferente. As vidas hoje em dia estão cheias de ciclos. Pretendo fazer outras coisas na vida. A ver vamos…

Bárbara com a filha, Teresa, e o famoso Nicolau

Pela sua história, sente que as oportunidades acontecem quando saímos da nossa zona de conforto?

Sou talvez até um bocado inconsciente na forma como vivo. Arrisco e às vezes sem estar 100% segura, implica cair em alguns erros também. Como se costuma dizer, só não erra quem não trabalha ou quem não vive. Podia ser menos impulsiva, mas já me aceitei. Living and learning.


2016 marca este ponto de viragem. Sete anos depois, é uma mulher muito diferente?

Sou uma mulher diferente, mais calma, mas ao mesmo tempo mais sociável, o negócio obrigou-me a sair do casulo. A maturidade tem coisas boas, faz-nos escolher as nossas “guerras” e valorizar o que realmente interessa na vida.

Aceitar o inesperado da vida é agarrar os sonhos que nos vão mostrando o caminho?

Os sonhos vão mudando com a idade. Somos o resultado de tanta coisa. Já fui viciada em desporto e agora ando nos livros. As terapias vão mudando… Mas o que realmente importa é o amor e o meu marido tem sido incansável. Sem ele, o nosso negócio, o nosso pequeno sonho, não seria metade do que é hoje em dia. Juntos fomos e somos mais fortes.

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