A propósito do beijo dado por Luis Rubiales a Jenni Hermoso, Tânia Graça, psicóloga sexóloga, sentiu necessidade de fazer um esclarecimento muito pertinente sobre o assunto, que vem aqui desmistificar um bocado algumas ideias que têm sido partilhadas nos últimos tempos, sobretudo sobre a noção de consentimento. Isto porque, apesar de Rubiales ter agarrado Hermoso e lhe ter dado um beijo sem lhe perguntar previamente se podia, continua a garantir que o seu ato foi consentido, mesmo depois da jogadora dizer, de forma reiterada, que nunca permitiu este beijo ou sequer se sentiu confortável com o mesmo.
“Existe esta ideia da ausência do consentimento só ser considerada à luz de um não seguro. Tudo o resto é um sim. Mas será sempre possível trazer este não seguro quando não queremos que algo aconteça? Quantas nuances existem nestas possibilidades todas que existem entre um não e um sim? Quantas assimetrias de poder estrutural? Uma mulher é apanhada totalmente de surpresa, agarrada pela cabeça e beijada por um homem hierarquicamente muito superior e com muito mais poder, tudo isto em canal aberto, para o mundo ver, mundo esse que se apressou a julgá-la. Perante todas estas condicionantes, será que efetivamente ela consentiu este beijo? Ceder não é consentir. A partir do momento que a minha liberdade de decisão está condicionada pela força, pelo medo, estou a ceder, não estou a consentir. A partir do momento em que uma das partes sente que não foi consentido, pois então não foi. (…) Há uma assunção generalizada de que o corpo e o espaço da mulher não lhe pertencem e que um homem pode invadir esse corpo e esse espaço com o poder físico e social que lhe foi conferido”.
De forma clara e direta, Tânia aborda este tema com a claridade necessária para se perceberem determinados conceitos que ainda são vistos como dúbios para muita gente. Veja o vídeo: