![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/4/2023/09/230908_Rosa-Pomar.jpg)
Com formação em História e Desenho e Ilustração, Rosa Pomar, filha do jornalista e crítico de arte Alexandre Pomar e neta do pintor Júlio Pomar, é considerada uma das precursoras do movimento artesanal em Portugal. Começou por vender bonecas de pano no blog ‘A ervilha cor de rosa’ e mais tarde abriu uma retrosaria com o seu nome (hoje na Rua Maria Andrade, em Lisboa) onde promove os mais variados workshops e vende o seu próprio fio feito com lã portuguesa. Diz que a sua missão é “vestir uma camisola de lã portuguesa a cada português” e da sua investigação sobre os têxteis tradicionais resultou o mais recente livro ‘Malhas Portuguesas’.
Como surgiu a paixão pela malha?
Logo que aprendi, por volta dos sete anos. O tricot é o passatempo perfeito para miúdas introvertidas como eu era.
Hoje, o artesanal é o novo cool… Mas quando começou não era bem assim, pois não?
Mesmo hoje tenho a sensação de que ainda há um grande caminho a percorrer. As pessoas apreciam mais os produtos artesanais mas ainda não estão preparadas para (ou não têm possibilidade de) os comprar a um preço verdadeiramente justo e compensador para quem os faz.
Que peso no seu percurso teve os três meses que passou em Nova Iorque?
Foi uma experiência extremamente rica e libertadora. Julgo que uma das lições principais que trouxe foi o facto de as pessoas que conheci se definirem pelo que faziam por paixão e não pelo trabalho que arranjavam para pagar as contas. Senti que havia muito menos estigma em relação a ter um trabalho menos qualificado se era o necessário para poder investir as horas vagas a pintar ou a tocar um instrumento.
Criou o blog no sentido de criar um movimento?
Adoro a ideia de que posso ter contribuído para ‘criar um movimento’, não sei se foi bem assim mas o meu blog funcionou durante muito tempo como um ponto de encontro e talvez de estímulo para muitas pessoas com interesses semelhantes aos meus. Aconteceu naturalmente, não havia um plano.
Que influência tiveram o seu avô e pai na sua veia artística?
Uma enorme influência indireta. Tive o privilégio de ser exposta a um universo muito rico culturalmente, de viver rodeada de livros de arte e ir a exposições e, claro, de ter como figuras de referência pessoas apaixonadas pelo que faziam. Mas ninguém me disse alguma vez que devia (ou não devia) seguir uma carreira artística.
Quando criou o primeiro encontro de tricot em Portugal sentiu alguma resistência?
Nos primeiros encontros éramos só duas ou três e a coisa parecia quase subversiva. Mulheres com estudos superiores a fazer malha em público em sítios ‘da moda’ era uma excentricidade.
Lá fora, as pessoas tricotam em qualquer lado, o que nos inibe?
Julgo que por cá temos um preconceito extremamente enraizado relativamente ao trabalho manual. Apagámos as disciplinas de saberes mecânicos dos nossos programas escolares, continuamos de forma mais ou menos consciente a achar que só trabalha com as mãos quem não tem alternativa, apesar de a realidade não ser de todo essa. Gerações de pais e mães empurraram os filhos para longe das suas oficinas em busca de uma vida melhor e sucessivos governos contribuíram para cristalizar a ideia de que o ensino técnico é a via para os maus alunos. A inibição de fazer malha em público é só uma faceta desse estigma que é urgente desconstruir.
Há muitos homens a tricotar?
Se há estão muito bem escondidos. Temos clientes homens, mas são uma minoria.
Quais as suas grandes causas?
A lã portuguesa. É uma causa tão grande e com tantas ramificações que já assim me falta tempo de vida para todas as ideias que gostaria de pôr em prática.
Os seus filhos são seus ‘seguidores’?
Elas já viram fiar e tecer a lã, à mão e na fábrica, e sabem fazer malha e comprar roupa que não se desfaça ao fim de ser usada meia dúzia de vezes. E o meu filho de sete anos também já sabe fazer malha.