Arquiteta e estudante de Doutoramento em Arquitetura, trabalha maioritariamente com clientes estrangeiros a partir de Castelo Branco, o que chama de sua “Beira Bonita”. Nunca se imaginou a fazer outra coisa. “A ideia de pensar e organizar diferentes espaços sempre me fascinou, tenho desenhos de casas em corte de quando tinha 7 anos.” Entretanto, a maternidade inspirou-a a criar, em 2015, a sua própria marca de brinquedos, a Be Small Play Big (besmallplaybig.com).
Como surgiu a ideia de criar uma marca de brinquedos?
A Be Small Play Big surgiu de uma forma muito natural, associada à maternidade. Sentia a necessidade de oferecer aos meus filhos brinquedos que estimulassem a imaginação e fossem sustentáveis do ponto de vista do fabrico e dos materiais. Na altura, a oferta em Portugal era limitada, por isso decidi pôr mãos à obra, utilizei a minha formação em Arquitetura, desenhei e construí do zero uma tenda em madeira e tecido foi um sucesso incrível! Eles, e toda a gente que lá ia a casa, adoravam! Comecei a receber encomendas de amigos e rapidamente tudo cresceu de uma forma inesperada, fiz centenas de tendas com vários padrões, foi uma loucura, o feedback das pessoas era maravilhoso e foi isso que me fez avançar para a criação de uma marca registada.
É a Filipa que projeta os brinquedos?
Sim, projeto e executo a maioria, desde o desenho à parte da carpintaria e têxteis. Tudo passa pelas minhas mãos, do início ao fim, do projeto ao embrulho final para o cliente.
Onde são feitos os brinquedos?
Tudo em Portugal, faço questão, temos materiais e pessoas com um know-how único que se traduz em qualidade. A lã das roupinhas, os têxteis, as alcofas, as madeiras, os parafusos, é tudo fabricado em Portugal. Só existe uma coisa que não é fabricada em Portugal, os bonecos, mas são feitos na Europa com o selo de qualidade da CE.
Os seus três filhos funcionam como uma espécie de painel de consumidores?
Completamente! A forma como eles interagem com os brinquedos é muitas vezes a minha guideline. Com eles, consigo logo perceber várias coisas, como a durabilidade, diferentes formas de interação e a questão da escala adaptada a diferentes idades. Vê-los brincar é um exercício para mim, é uma coisa que me dá imenso prazer e ainda hoje me conseguem surpreender.
Quais são os valores da marca?
Assentam essencialmente em dois grandes pilares, a sustentabilidade e a família. A sustentabilidade porque o foco principal é que todo o processo tenha o mínimo impacto ambiental possível. Na escolha dos materiais, sempre o mais naturais possível, no embalamento, com zero recurso a plástico, na origem dos produtos, na produção manual com técnicas de fabrico tradicionais, no transporte e na durabilidade dos brinquedos. É urgente deixarmos de consumir brinquedos fast que acabam na reciclagem em pouco tempo e não acrescentam valor nenhum à criança.
A família é um valor sempre presente, é uma marca da minha família para outras famílias. Sempre que penso num produto, imagino que pode passar de geração em geração, que pode vir a fazer parte de uma história familiar. A ideia de um filho brincar com um brinquedo que foi dos pais apaixona-me, é por isso que a durabilidade é para mim tão importante, do ponto de vista da sustentabilidade, mas também no sentido em que os brinquedos podem transportar histórias que passam de geração em geração. Brincar é das melhores memórias que podemos criar, associar essas memórias a um objeto faz com que perdurem ainda mais no tempo.
Foi difícil passar a ideia da marca do papel para a prática?
Foi um processo fácil, que foi crescendo à medida que as necessidades iam aparecendo, de uma forma muito natural.
O mais difícil de criar um negócio próprio?
Talvez o facto de ser um processo mais solitário, as dúvidas e receios acabam por ficar só connosco, há pouca partilha com terceiros e isso às vezes pode ser uma dificuldade.
O que foi mais fácil do que previa e vice-versa?
A passagem para o ecommerce foi muito mais fácil do que alguma vez imaginei e trouxe inúmeras vantagens. Aconselho a quem está a começar, a fazer logo uma loja online. Já a manutenção dos standards de qualidade parece fácil, mas é uma coisa que exige muito trabalho e preocupação.
É fácil conciliar uma profissão com um negócio próprio?
Iria mentir se dissesse que sim. (risos) Não é fácil conciliar a família, a Arquitetura, a marca e o doutoramento, é uma verdadeira correria! Mas adoro a adrenalina constante dos deadlines e das listas intermináveis de tarefas, já não saberia viver de outra maneira.
Tirou alguma formação extra?
Não, quando surgem dúvidas procuro informação junto de quem sabe.
O sonho para a sua marca?
Continuar a fazer aquilo em que acredito de forma sustentável.