CLÁUDIA SANTOS
PS, deputada na AR e professora universitária
Quando surgiu o seu interesse pela política?
Integrei a lista do PS por Aveiro na qualidade de independente, não sou militante. Mas acredito que na política subsistem diferenças essenciais entre a esquerda e a direita e ideologicamente é com a primeira que me identifico. E, no atual contexto, com o surgimento de uma extrema direita que não é democrática e que é discriminatória, achei que podia dar um contributo na defesa do modelo de sociedade em que acredito.
Quais foram as suas maiores conquistas políticas?
Fui coordenadora do PS na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e contribuí para a aprovação de pacotes legislativos importantes, visando a prevenção e a repressão da violência doméstica ou da corrupção.
Que medidas urgentes gostaria de ver aprovadas?
Uma agenda para a infância que atenuasse as desigualdades que subsistem e que contribuísse para combater a excessiva institucionalização de crianças em perigo. A descriminalização do auxílio à morte medicamente assistida. A expansão das soluções de mediação de conflitos e a promoção de uma justiça restaurativa.
Uma palavra que a define: Colorida
O que mais aprecia
e o que a tira do sério na política?
Aprecio a coragem que é necessária para defender num espaço muito exposto aquilo em que acreditamos. O que mais me incomoda é um modelo de comunicação demasiado orientado para o conflito.
Quais são os maiores entraves à participação das mulheres na política?
A política pressupõe uma certa exposição pública que infelizmente ainda é mais difícil para as mulheres – somos frequentemente vítimas de ataques ofensivos e que atingem espaços de verdadeira intimidade. Por outro lado, a menor participação política das mulheres terá explicações históricas e estruturais que devem continuar a merecer reflexão e medidas corretivas.
Que mais-valias trazem as mulheres para a política?
Não faço depender do género a minha avaliação da competência individual (evito a palavra ‘mérito’, uma espécie de lugar-comum que a direita inventou para desconsiderar as desigualdades). Como sou profundamente feminista, acho fundamental garantir a paridade na representação política.
3 mulheres inspiradoras
A minha mãe, M.ª Teresa, porque reúne várias qualidades, sendo a alegria a mais evidente. Sabemos que está a chegar quando a ouvimos assobiar. M.ª João Antunes, minha professora na Faculdade de Direito de Coimbra, amiga com quem falo todos os dias, uma referência de inteligência e seriedade. A escritora Arundhati Roy, que escreveu os maravilhosos ‘O Deus das Pequenas Coisas’ e ‘O Ministério da Felicidade Suprema’ e se distinguiu na defesa dos direitos humanos.
O que faz nos tempos livres?
Ler e ir à praia, adoro, porque me proporcionam a sensação de alheamento face ao ruído dos dias. Também escrevo ficção, o meu romance, ‘A Vida Oculta das Coisas’ (Bertrand), acabou de ser editado no Brasil.
Um discurso que a tenha marcado
O de António Costa quando o Orçamento de Estado para 2022 foi chumbado. Apesar das circunstâncias difíceis, ajudou-nos a reforçar a crença no Estado Social, na importância de defender o SNS e a escola pública, na necessidade de manter o rumo.
Uma frase motivadora que costume citar
De uma canção de Tom Zé: “Como começo de caminho quero a unimultiplicidade, onde cada homem é sozinho a casa da humanidade.”
*Partidos políticos que tinham deputadas na AR em 2022.