Todos conhecemos Carlota Joaquina ou Leonor Teles, mas sabem por exemplo quem foi Leonor de Aragão? Em ‘Portugal uma história no feminino’ (Casa das Letras, E23,90) a historiadora fala de Portugal sob a perspectiva feminina, trazendo-nos o outro lado da História.

1 – A primeira pergunta é óbvia: porquê uma História no feminino?

Tendo em conta que a História é uma ciência que analisa as ações do ser humano ao longo do tempo, é necessário que a mulher tenha o seu devido reconhecimento e que o seu papel seja igualmente salientado. A verdade é que na sombra dos tempos sempre encontrámos o inegável contributo feminino. Elas fizeram parte de interesses políticos, alteraram mentalidades, teceram tratados e alianças, exerceram o poder. Com percursos e personalidades diferentes, todas elas deixaram uma marca e nem sempre a imagem que deixaram lhes fez justiça. Cultas ou nem tanto, amadas ou ignoradas, dóceis ou rebeldes, submissas ou altivas, mais influentes ou menos, é também das suas vidas que se faz a História. E a História ganha, sem dúvida, um sentido mais completo quando se ligam e interligam as vivências, ações, comportamentos e mentalidades femininas e masculinas. Só assim é possível uma compreensão completa e alargada da sociedade.

2 – A história das mulheres sempre foi menos documentada, mesmo quando eram rainhas muitas vezes só se conhecem os filhos. Isso para uma investigadora não é frustrante?

Claro que é frustrante e daí, também, a conceção desta obra. Contar e contextualizar a história das mulheres é contribuir para sair do silêncio e do esquecimento.

3 – Nem só de rainhas fala o livro: começa em D. Teresa e acaba em Maria de Lurdes Pintassilgo. Aliás, eu diria que as mais recentes até são as mais desconhecidas… Qual foi o seu critério de seleção destas mulheres já do século XX?

A narração da vida destas mulheres tem, também, por objetivo contar a História de Portugal desde os seus primórdios até ao século XX. Assim, para além das rainhas (muitas delas completamente esquecidas do grande público), fui selecionando mulheres através das quais fui contando o evoluir da nossa História. Mulheres monárquicas, mulheres republicanas, mulheres apoiantes ou opositoras do Estado Novo e que, por isso, foram presas e privadas dos seus direitos, mulheres que apoiaram a guerra colonial, mulheres que sofreram a censura e a repressão, até chegar ao 25 de abril e à única mulher que até hoje tivemos como Primeira Ministra. E está contada, através delas, a nossa História.

4 – Às mulheres pertencia o domínio do privado mas muitas o atravessaram e entraram na esfera pública. Quais as que mais a impressionaram?

Teresa de Leão e Castela, Leonor Teles ou Carlota Joaquina. Independentemente do correto ou incorreto das suas atitudes, elas foram, sem dúvida, mulheres que, em tempo de homens, lutaram até ao fim por aquilo em que acreditavam e que queriam para as suas vidas.

5 – Afirma que se aproximou mais de umas que de outras. Por quem sentiu mais empatia? E houve alguma que a tenha surpreendido mais, que tivesse ficado a conhecer melhor depois de escrever este livro? E qual é a mais injustamente esquecida?

Senti, sem dúvida, grande empatia por Leonor Teles, pela razão que já expliquei. Para além das rainhas medievais, que já tinha trabalhado em livros anteriores, todas as outras fiquei a conhecer melhor a sua ação depois da elaboração deste livro. Injustamente esquecida, talvez Leonor de Aragão, mulher de D. Duarte, a ‘Triste Rainha’.

6 – História também é memória. Como investigadora e historiadora, qual é para si o papel e a importância da memória coletiva?

Um povo sem memória é um povo sem História. Um povo sem História está destinado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado. A memória coletiva cria uma compreensão alargada da sociedade e da cultura, uma perspetiva crítica sobre os acontecimentos políticos e um melhor entendimento das diferenças entre pessoas, países, religiões e civilizações.

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