Ksenia Ashrafullina faz parte do coletivo ‘Lisboa Possível’ que luta por uma cidade que dê prioridade ao peão
(fotos: João Lima)

Qualquer pessoa que se aventure a pé pelas ruas da capital tem vários obstáculos a contornar. O velho problema dos passeios esburacados, tortos, escorregadios, estreitíssimos, que nos fazem caminhar como se estivéssemos numa pintura do Antigo Egipto, ruas que não nos fazem sentir bem vindos, e – cereja no topo do bolo – cheios de carros estacionados, que nos obrigam a ir para a estrada… onde circulam mais carros que circulam a velocidade exagerada para ruas estreitas e passeios de má qualidade.
É uma cidade linda, que convida à descoberta dos seus cantos e encantos, mas este passeio não é para todos. Disso sabe bem Ksenia, já que é o rosto mais visível do Lisboa Possível, um coletivo que sonha com uma capital mais ecológica, mais vivida no espaço público, agradável para os seus habitantes e para quem a visita. Combinamos o encontro, para falarmos e fazer as fotos da entrevista, no hotel Independente Príncipe Real em frente ao fantástico miradouro de São Pedro de Alcântara, e lá não foi difícil encontrar pormenores que tenham a ver com Ksenia: os mapas-mundo e as malas vintage combinam com a sua inesgotável vontade de ver a beleza do mundo, os imensos livros antigos em prateleiras, que vão quase até ao teto, com a sua sede de conhecimento. Só um pormenor destoou, “esta zona seria perfeita se fosse pedonal. Já imaginou se aqui as pessoas pudessem circular sem constrangimentos?” Ksenia emergiu do anonimato quando o presidente russo decidiu invadir a Ucrânia em 2022 e ela foi convidada, pelos meios de comunicação social, a dar a sua opinião de uma Rússia que não rema numa só direção. Dois ativismos que não lhe dão tréguas e que ela assume na primeira pessoa.

Como foram os primeiros anos da sua vida?
Nasci na Rússia, em 1985, numa cidade que na altura se chamava Brejnev [agora Naberezhnye Chelny, na República do Tartaristão], como o antigo líder do regime soviético. Era uma cidade dormitório, sem estética, construída à volta de uma enorme fábrica de camiões, e para a qual vieram engenheiros e professores de todo o país. Intelectualmente, crescer lá foi bom, mas não havia cultura, não havia beleza, e eu desde sempre procurei isso para mim, nos livros, nos filmes. Obviamente, havia a beleza da natureza, mas eu refiro-me à beleza produzida pelos humanos. Ali só havia blocos de betão, era a típica cidade soviética feia e funcional.

Pensava que havia cultura em toda a União Soviética…
Há muita cultura, mas que não deveríamos chamar assim, era mais uma imposição. Tu tens de aprender a dança dos georgianos, dos tártaros, dos russos… Eu fiz esse percurso de dança clássica, mas nunca senti que estava a aprender ou a fazer arte. Era mais um dever, de debitar movimento. Só quando fui para os Estados Unidos, em adulta, é que descobri a dança como forma de cultura, como uma forma de expressar as tuas emoções através do movimento. Foi por isso que me apaixonei pelo flamenco.

E como ocupava o tempo livre na Rússia?
Como a cidade não tinha nenhum interesse, a maneira de me refugiar daquele ambiente era estudar muito e ser a melhor aluna. Também por isso, desde cedo soube que queria sair, estudar Diplomacia em Moscovo. Gostava da escola, de aprender línguas. Inglês foi a matéria que mais adorava, tinha professores incríveis, parece quase impossível pois estava num buraco no meio da Rússia.

“Temos de viver em maior segurança. Em Portugal, a cada 3 dias morre uma pessoa atropelada, é dos piores indicadores de toda a União Europeia. Não podemos continuar assim e esperar que as coisas mudem por si só.”

Porquê seguir Diplomacia?
Era idealismo, e continua a ser. Achava que podia facilitar a burocracia, fazer com que fosse mais fácil para os russos saírem e visitarem outros países. Para um russo normal isso ainda é muito difícil. Tens de passar por uma imensa burocracia até teres o passaporte com um visto. Falamos em acabar com as guerras e ter o mínimo de compreensão, e para isso as pessoas têm de poder viajar, atravessar fronteiras, não apenas lendo, como eu fazia, mas visitando museus, cidades, comendo o que as pessoas cozinham. Foi por isso que estudei Diplomacia e Relações Internacionais, para facilitar esse processo.

E na altura era, ou ainda é, difícil entrar nessa universidade?
Muito, na época soviética era mais difícil, porque para poderes sair do país tinhas de mostrar que eras erudito e não ias colocar mal o teu regime. Era só para homens, mas depois dos anos 90 começaram a aceitar mulheres. Eu, na minha ingenuidade, achei que haveria igualdade, mas percebi que mulheres e homens têm o mesmo percurso mas depois, na prática, as mulheres faziam sobretudo pequenas coisas administrativas e não tinham liberdade para mudar coisa alguma.

Quando saiu da Rússia foi para que países?
A primeira vez que saí da Rússia tinha 13 anos e fui para Londres, no verão, para aprender inglês. Fiquei em casa de uma família inglesa que me acolheu e se tornou numa segunda família. Todos os verões, dos 13 aos 18, fui para casa deles, a minha mãe só tinha de pagar a viagem e o visto. Cheguei a ter outros ‘empregos’ relacionados com os filhos dos oligarcas russos.

Chegou a viver em casa de algum oligarca?
Não, vivia com a minha família inglesa. Mas passava as manhãs na escola e à tarde ajudava os professores a gerir as coisas com os filhos dos oligarcas que eram muito mal comportados. Aquela família foi muito especial para mim, ainda mais depois de o meu pai ter sido assassinado.

O seu pai foi assassinado?!
Sim, ele era empresário, e a Rússia dos anos 90 foi um caos de absoluta inexistência da lei. A forma mais comum de acabar com o adversário era eliminá-lo. Bem, ainda hoje é assim para os políticos. Ele tinha emprestado dinheiro a um amigo, e quando percebeu que ali havia um esquema qualquer, quis fazer queixa à autoridade tributária. Foi muito ingénuo, havia muita máfia e mataram-no. Eu tinha 13 anos. É esta a Rússia com a qual tenho uma relação de amor-ódio.

Depois do curso, foi para onde?
Primeiro passei um ano nos Estados Unidos, num programa de intercâmbio. A seguir fui para Espanha, para a Universidade Complutense de Madrid, onde fui muito feliz. Depois, com uma bolsa de mestrado, fui para Londres e Praga. Ali já me afastei do sonho de ser diplomata e fui trabalhar para uma grande empresa. Nessa altura, comecei a aprender português por causa da música brasileira e conheci o Instituto Camões, que emprestava livros em português. Os dois primeiros que levantei foram de Mia Couto e José Saramago.

Comecei a aprender português por causa da música brasileira e conheci o Instituto Camões, que emprestava livros em português. Os dois primeiros que levantei foram
de Mia Couto e José Saramago.

Conseguiu ler esses livros em português?
Não consegui ler Saramago naquela altura e fiquei frustrada. Já tinha ouvido falar que era Nobel da Literatura, por isso sabia que havia ali um tesouro a descobrir. E assim resolvo pedir o visto para Portugal, para poder vir trabalhar naquela empresa pois também estava cá implantada.

E conseguiu…
Sim, vim, mas passado um tempo decidi deixar o emprego e fui conhecer o país de norte a sul, fazendo couchsurfing, com um exemplar do ‘Viagem a Portugal’ na mochila. Posso dizer que viajei com Saramago. (risos) Fiz muitas caminhadas sozinha, aprendi sobre a natureza, não sabia como cresciam as laranjas, como se apanhava castanha ou azeitona. Conheci muitas pessoas e entrei em casas de todas as camadas sociais. Acabei muitos dias a chorar de felicidade com a hospitalidade portuguesa. E pensava, ‘porque me dão tanto?’.

Nunca teve uma situação desagradável?
Não, em Portugal nunca.

Foi difícil adaptar-se à realidade portuguesa?
No início não, tudo era fácil, comparado com aquilo que eu tinha vivido antes. Se calhar, agora já tenho as vivências suficientes para perceber melhor por que é que os meus amigos emigram. Quando tens ideias inovadoras ou queres mudar alguma coisa, parece que a sociedade à tua volta quer que tu pares. Todas estas coisas começam a acumular-se e a frustrar.

Em que trabalha no dia a dia?
Várias coisas, sou intérprete de russo-inglês e português. Fundei uma startup de concertos online com artistas emergentes de todo o mundo, tenho feito comentários desde o início da guerra na Ucrânia, e depois tenho o ativismo pela mobilidade suave que é uma causa que me diz muito.

Foi uma surpresa para si a invasão da Ucrânia?
Sim, achava que era um jogo político, que jamais iria começar uma guerra ainda por cima contra a Ucrânia, um país parecido com o nosso. Todos temos amigos ou familiares ucranianos.

É admiradora de Navalny, o grande opositor de Putin…
Sim, numa Rússia cínica, onde tudo se vende e se compra, representou a mudança, alguém com valores, com transparência absoluta e um excelente comunicador… É verdade que em 2006 disse coisas nojentas sobre imigrantes, mas todos evoluímos e nos arrependemos de algo que dissemos no passado.

Ficou em choque com a sua morte?
Sim, habituámo-nos à ideia de um Navalny que sempre encontrava uma maneira de ficar ileso, quase invencível. Mas agora temos Yulia e Maria Pevchikh…

Lisboa sobreviveu a terramotos, mas não sei se vai sobreviver a tanto carro. É mau para o património, para a saúde, para os que vivem e visitam a cidade. Tenho amigos que dizem que não querem viver num parque de estacionamento.”

O que é a Lisboa Possível e o que defende?
Defende 4 verbos: caminhar, brincar, pedalar e respirar. Caminhar porque todos caminhamos, mas muitos deixaram de o fazer por culpa do sistema, onde não há passeio, é perigoso. Brincar, porque as crianças estão a perder aquilo que é a liberdade de movimento, que é também uma metáfora para a liberdade e saúde mental. Não se vê crianças a brincar na rua, elas não estão a aprender a socializar. Pedalar, porque é uma alternativa ao carro, não polui e quase não ocupa espaço. Mesmo as baterias das bicicletas elétricas são muito menos poluentes que as de um carro. Um Tesla pode ter uma bateria com uns 20kg de lítio, com essa quantidade podemos ter centenas de bicicletas. Respirar, porque a poluição tem um risco enorme para a saúde, desde AVCs a doenças neurodegenerativas, cancro do pulmão… A Lisboa Possível acredita que é possível viver numa cidade diferente. Nascemos para salvar a ciclovia da Almirante Reis e continuámos por entender que o futuro desta cidade tem de passar por pedonalizar mais ruas. Neste momento temos um projeto de tornar a Rua dos Mastros uma rua pedestre, mas estamos a ter muitos conflitos na Junta e na Câmara. Imagine que chegámos a um ponto em que mandaram a polícia contra nós por nos manifestarmos por uma rua sem carros.

Nestes 12 anos que está cá, houve uma evolução?
Em termos de mobilidade real, ultimamente ficámos pior em Lisboa. Ainda se fez algumas ciclovias, insuficientes, mas agora não se está a fazer nada para proteger as pessoas que querem caminhar e pedalar. A minha experiência pessoal nas assembleias municipais e das juntas é frustrante, é quase entrar num portal de ignorância, até ouvi dizer que a bicicleta é um inimigo público! Lisboa é uma cidade que sobreviveu a terramotos, mas não sei se sobreviverá a tanto carro. É mau para o património, para quem vive e visita a cidade. Estou a perder amigos porque dizem que não querem viver num parque de estacionamento.

Se lhe dessem a pasta da mobilidade no governo local, que medidas iria implementar?
Usar urbanismo tático para demonstrar que é alternativa. Não deixar que circulem carros nas faixas dos transportes públicos, fazer mais ciclovias. Limitar para 30km/h a velocidade dentro das cidades, 20km/h nas ruas mais pequenas. Nas ruas das escolas não deviam passar carros nem estacionamento. Aumentar as taxas de estacionamento e os carros teriam de pagar para entrar no centro da cidade, como se faz em Oslo e Copenhaga. É claro que para tudo isto é necessário aumentar a infraestrutura, que é a base de tudo. Em vez de subsidiar produtos petrolíferos, imagine o que seria o Estado investir esses milhões de euros na compra de mais autocarros, carruagens de metro, de comboio, aumentar horários e frequência, criar infraestruturas?

Como se vê no futuro?
Tenho 38 anos e no futuro espero escalar o impacto do meu ativismo. Sempre me imaginei aqui, mas ultimamente tem sido mais difícil. As eleições foram um balde de água fria, a agressividade de mandar a polícia contra um movimento pela mobilidade suave, chocou-me. Quando começas a viver isso, a perspectiva muda.

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