Foto Lucília Monteiro

Cheguei a ela por amigas que têm filhos com PHDA (perturbaçãode hiperatividade e défice de atenção) que a idolatram. Foi um daqueles casos ‘Tens mesmo que falar com ela!’. E eu fui. Percebi logo que o entusiasmo era justificado. Há pessoas assim (enfim, não muitas): têm tanto para contar e interessam-se por tantas coisas que uma pessoa nem sabe por onde começar.

Inês nasceu em 91, no Hospital de S. João do Porto, a mais nova de três irmãs numa família de médicos. É psiquiatra e cantora: estudou música e drama enquanto tirava medicina, treinando a empatia ao mesmo tempo que se especializava na área das dependências, alcool, drogas e jogo. Também se interessa pela causa da neurodiversidade, que inclui o autismo ou a PHDA . Defende uma medicina humanizada e próxima, que encontra cada vez menos, e faz por isso no seu dia a dia no CRI Porto Ocidental (uma unidade pública para comportamentos aditivos) e a Clínica do Quinto Andar, o consultório privado no Porto, pensado para ser “como uma casa” de modo a que as pessoas não tenham vergonha de dizer que foram à psiquiatra. Pelo meio, ainda cumpriu um sonho: em 2022 foi finalista do Festival da Canção. Desculpem lá, mas eu tenho de saber mais sobre isto.

E então, começamos por onde? Entre a família, a arte e a saúde mental, começamos pela família?

“Por acaso, às vezes recebemos aqui no consultório famílias inteiras. Até sou defensora do conceito de psiquiatra de família, como há o médico de família, a não ser que haja conflitos entre a partes em que o doente sinta que pode haver uma aliança entre o psiquiatra e outro elemento da família. Principalmente em terapia familiar, o homem poderia pensar que eu estou do lado da mulher. As temáticas de género ainda têm muito peso, principalmente a questão das tarefas domésticas.

Isso ainda aflige os casais, a questão de quem faz o quê?

Muitíssimo. É um tema muito presente nas consultas, principalmente depois do primeiro filho. O que eu ouço muito é “quem me dera ter estabelecido as regras antes de sermos pais”. Porque o homem nunca enganou a mulher que se queixa, ele está a ser o que sempre foi. Ela é que já não aguenta. Os homens acham sempre que fazem muito, e fazem uma grande bandeira do pouco que fazem. Geralmente não têm noção de tudo o que a mulher faz, que é um trabalho completamente invisível. E não têm noção da carga mental que significa organizar tudo, planear, pensar no que é preciso fazer. E isto é ainda mais desgastante para as mulheres que têm défice de atenção.

Como é que o défice de atenção se reflete no dia a dia?

Para pessoas que o têm, a vida é caótica e qualquer planeamento é muito difícil de fazer. Quando as mulheres têm o trabalho doméstico para organizar e chegam os filhos, entram mesmo em descompensação. Primeiro explico ao marido o que é o défice de atenção e depois fazemos um mapeamento de todas as tarefas que se fazem na casa, mesmo as mais pequenas, para que depois se organize uma divisão justa. Mas a mulher tem de aceitar que a parte que cabe ao marido seja feita à maneira dele. Isto é muito complicado. Se não houver pão, aguenta. Se a banca ficar mal lavada, aguenta. Se a comida não ficou perfeita, aguenta. As pessoas têm de perceber que isto é um processo e ninguém nasce ensinado.

Fala-se muito de hiperatividade e défice de atenção em crianças, mas em adultos fala-se muito menos, não é?

Sim, até se lhes chama a Geração Perdida, no sentido em que perderam a oportunidade de serem diagnosticados, porque quando eram crianças não se falava nisto. Há muitas pessoas que veem um filho diagnosticado, começam a informar-se, a ler sobre o assunto, a ouvir os avós dizerem ‘o teu filho é muito parecido contigo quando tinhas a idade dele’, e começam a somar todas estas peças. Mas a hiperatividade e défice de atenção manifesta-se de forma diferente nos adultos e nas crianças.

Como é nos adultos?

Como já não estão na escola, temos que ver quais são os desafios da vida adulta: conduzir, lembrar-se de pagar contas, ter paciência para os filhos, ter regulação emocional. O trabalho é um laboratório imenso de sintomas, porque as várias profissões são infinitamente mais variadas que o mundo da escola, que é mais ou menos todo igual. Aliás, é engraçado que há profissões mais adequadas a quem tem hiperatividade e défice de atenção.

Mas explique lá isto melhor a uma leiga: hiperatividade e défice de atenção não são a mesma coisa…

O diagóstico chama-se Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) mas pode surgir com mais sintomas de hiperatividade ou de défice de atenção, e ao longo da vida podemos oscilar mais entre um e outro. Por exemplo, podemos ser mais hiperativos em criança e em adultos ficarmos mais distraídos e com um frenesi mental mais pronunciado mais mais invisível. A pessoa está sentada mas a mover-se por todos os lados, roi as unhas, balança as pernas, mexe no cabelo, ou então move-se internamente em avenidas dentro da sua cabeça, numa inquietação e desatenção permanente.

Então e que profissões pode ter uma pessoa assim?

Uma pessoa hiperativa vai-se dar bem, por exemplo, na área das vendas, onde tenha de andar de um lado para o outro a falar com várias pessoas. Claro que depois as tarefas mais monónonas como tabelas de excell e relatórios, vão-lhes ser penosas. Outra profissão adequada são artistas e performers: adoram ir para cima de um palco e improvisar. Geralmente são desenrascados, têm soluções mirabolantes para problemas de última hora. Por exemplo, lá fora já há empresas que apostam na neurosiversidade e que contratam pessoas hiperativas porque são muito boas em ideias de última hora.

Fale-me um bocadinho do que é a neurodiversidade

É um conceito ‘guarda-chuva’ onde inserimos pessoas cujo funcionamento cerebral é diferente da média, ou seja, é o contrário de uma pessoa neuro-típica. Não gosto da expressão doença nem defeito de fabrico, gosto de dizer que são uma ‘série’ diferente. Já se nasce assim. Aqui entram as questões da atenção – a PHDA -, o espectro do autismo, as perturbações de aprendizagem específicas como a dislexia ou a discalculia, a gaguez ou dificuldade em processar a linguagem, todas as questões da motrocidade, o síndrome de Tourette, e a perturbação do desenvolvimento intelectual. Falamos em neurodiversidade porque estas pessoas podem ter mais dificuldade em algumas coisas mas podem era muito importantes para a sociedade com a sua forma diferente de ver o mundo e contribuirem de forma determinante, seja através da criação artística ou científica.

Mas calculo que precisem de apoio específico enquanto estão a crescer, porque a sociedade não está organizada em padrões muito confortáveis para estas pessoas…

Sim, precisam de apoios específicos para aprender melhor. Não se pode dizer que não têm nenhum problema, e portanto tem de se criar condições para que desenvolvam o seu potencial, porque não é justo que fiquem aquém do que são capazes de dar. E na PHDA a medicação tem um papel determinante, à medida do que é necessário. Claro que quando a pessoa tem sintomas mas não está em sofrimento e não está a fazer sofrer ninguém, a medicação pode não ser necessária, mas na maioria das vezes ajuda. Porque às vezes parece que uma família está impecável mas o pai ou a mãe esquece-se constantemente de ir buscar as crianças à escola ou deixa o fardo familiar sempre para a outra pessoa, então é óbvio que para a outra pessoa não está tudo bem. Mas quase sempre a própria pessoa está em sofrimento.

E para quem é ‘apanhado’ em adulto há esperança?

Então não há! Aqui na clínica recebo maioritariamente pessoas que se aperceberam disto através dos filhos ou de algum amigo que os alertou para essa possbilidade, ou que já andavam a frequentar cuidados de saúde mental pelas mazelas que um quadro destes não identificado pode trazer, como a depressão ou a ansiedade. Porque por trás de muitas destas depressões pode haver um quadro de PHDA. As doenças em psiquiatria adoram-se e geralmente aparecem em grupo: depressão com ansiedade e doença bi-polar, nunca há só uma coisa, o que é muito inquietante para quem começa a trabalhar em saúde mental.

Isso não dá muito trabalho a deslindar?

Dá muito trabalho e demora muito tempo. Por isso é que eu sou defensora, e diria mesmo ativista, das consultas longas. Porque uma coisa destas não se apanha em 5 minutos, e estes detalhes de fabrico precisam que se reveja a vida toda da pessoa, e isto leva tempo. Eu quando vejo na minha agenda uma primeira consulta de uma pessoa de 50 anos, já sei que vai demorar. E precisamos sempre de um informador externo.

Estamos numa altura particularmente desassossegada da Humanidade?

Acredito que nas grandes guerras e durante as pestes e fomes a vida tenha sido infinitamente mais complicada. Mas agora temos, para além do fantasma de insegurança, o desassoguedo na palma das mãos. Vejo a minha especialidade a ter de se dedicar de forma cada vez mais específica e cuidadosa ao digital, que invadiu a minha consulta, principalmente no centro de atendimento a pessoas com dependências.

O telemóvel é altamente viciante, não é?

É e tem consequências importantes no desenvolvimento do cérebro. Por exemplo, not que os meus pais e avós, que foram ‘assaltados’ pela tecnologia mais tarde na vida, se defendem muito melhor do que os mais novos. Quem já nasceu com isto, o cérebro é como uma esponja e há circuitos que podem ficar hipertrofiados. Por isso é que consumir drogas muito cedo na vida é mais preocupante.

Portanto só deviamos ter telemóvel aos 25 anos…

(risos) Talvez… Ou pelo menos só nessa altura entrarmos em auto-gestão. Porque o seu uso é de tal forma viciante que pode sim impactar o desenvolvimento cerebral. Responsabilizar uma criança ou adolescente que tem a zona cerebral que controla os impulsos ainda em desenvolvimento, não é realista. Por isso é que os adolescentes não pensam antes de agir. E por isto é natural que sejam mais viciáveis.

E como é que controlamos isto?

Se não conseguimos controlar internamente, temos de funcionar com polícias externos. E as pessoas com défice de atenção têm de aprender este tipo de técnicas, porque é como se fossem adolescentes toda a vida (acusação que estão sempre a ouvir). São pessoas espontâneas, que enchem uma sala, que conseguem continuar a brincar mesmo em adultos, e isto é positivo. É engraçado que casam muitas vezes com aquelas pessoas muito sérias, muito confiáveis, sem um cabelo fora do lugar. Conheço muitos casais assim. Geralmente, equilibram-se um ao outro.

Este desassossego geral não nos está a desconectar uns dos outros?

Claro que está, tanto a nível familiar como comunitário. Nisto o meio rural está melhor. Mas continuo a achar que o digital está a pôr-nos muito sozinhos no meio da multidão. As ligações digitais são débeis, frágeis, quase fictícias, e o cérebro não as interpreta como verdadeiras relações.

Isso é muito interessante. O cérebro não vê as relações digitais como verdadeiras?

O cérebro gosta de olho no olho, de toque, de presença, de um sentido de partilha do espaço. E o digital a única coisa que dá é a validação: e é isso que nos agarra e nos perturba. Como o confronto com as vidas dos outros. Mas as vidas digitais são vidas editadas. O digital permite a curadoria das nossas vidas.

É difícil fazer o detox?

É muito difícil, até porque não é possível pedir às pessoas o que pedimos no mundo da droga: a abstinência total. No caso do vício da comida, do sexo e das redes sociais, não podemos pedir à pessoa que nunca mais coma ou nunca mais pegue no telemóvel. Portanto temos de ir para o consumo controlado, que é muito difícil. Acaba por ser mais fácil um detox total durante um curto período de tempo. Se uma pessoa tiver uma grande dependência, seja qual for, o consumo controlado nunca é uma boa ideia. Porque passada a fase da ‘lua de mel’, em que a pessoa acha que consegue controlar-se, o risco de recaída é muito grande. É como se houvesse a exaustão da capacidade de controlo. Uma dependência grave fica cristalizada no cérebro. A partir daí, criam-se circuitos sobrepostos que lhe permitem controlar-se. Mas o antigo não desaparece. E quando se recai, esse circuito ilumina-se novamente.

Voltamos para o ex…

Sim. Boa metáfora. Isto é válido para as drogas, o alcool, o jogo… Claro que há pessoas que conseguem ficar sem fumar e beber há anos. Muitas. Mas eu estou mais tranquila com o doente que já teve uma recaída do que com o que não teve. Porque o que não teve, vai ter. O que é natural. Eu se tivesse uma grande paixão na vida e me dissessem que não ia lá voltar, ia querer tentar. Claro que depois também tem a ver com a vida que levam, o emprego, de forma é que a família se estrutura para ajudar…

Mas porque é que um telemóvel pode ser tão viciante?

O problema não é o telemóvel em si, são os mundos que ele contém. Tudo o que existe off-line e que é suposto causar dependência também existe dentro do telemóvel. No telemóvel não estão só as redes mas também o vício de compras, da pornografia, de vídeojogos ou joguinhos, as apostas a dinheiro (os ingleses têm o gaming e o gambling, nós pomos todas estas coisas tão diferentes no mesmo saco). Aliás, são as apostas a dinheiro o vício que mais me tem chegado. O jogo é uma coisa que não tem fim… As compras também são caras, mas não são irreversíveis: podemos sempre devolver o que comprámos. No vício do jogo, não se pode fazer isso.

Não tem uma visão catastrofista de tudo isto?

Não porque já estamos a ver algum movimento de prevenção. Já se começa a falar de escola sem telemóvel, por exemplo, e acho que vai passar pela consciencialização e prevenção. Em Portugal estamos muito focados na doença e muito pouco na prevenção: no treino de psicólogos, na literacia emocional para crianças, há tanto por fazer. Outra das minhas lutas é que se junte a saúde com as artas e que se possa fazer ‘prescrição cultural’, ou seja, usar o poder terapêutico das artes.

É verdade que toca guitarra para a sua própria regulação emocional?

Sim, e também incentivo os meus doentes a fazerem a mesma coisa, a encontrarem o seu próprio canal de regulação artística, que pode ser a música mas também pode ser a cerâmica, a pintura, a dramatização. Aqui na clínica temos psicodrama, por exemplo. Ou pode ser exercício físico, uma arte marcial (é engraçado que dentro dos desportos as artes marciais destacam-se nos benefícios para a saúde mental).

Como é que a música entrou na sua vida?

Curiosamente, na minha família não há muita tradição de músicos. Mas eu era uma criança que cantava muito, e a minha mãe inscreveu-me num coro do Círculo Portuense de Ópera quando tinha 8 anos. É engraçado que comecei logo numa áre que juntava a música e o teatro, o que me apaixonava. Achava imensa graça às roupas e às diferentes línguas usadas na ópera. Depois estudei canto lírico e canto jazz no Conservatório de Música do Porto, e acho que essas competências me ajudaram e ajudam muito na medicina. Na altura não sabia bem porquê, mas hoje acho que, para além de compreender melhor os meus estados emocionais, encontrei, principalmente na dramatização, um grande exercício de empatia. O teatro obriga-nos a por-nos na pele do outro e treinar diferentes perspectivas. E isso na psiquiatria é uma ferramenta de trabalho.

Como é que apareceu o Festival da Canção?

Na verdade os astros alinharam-se. A minha mãe fazia umas aulas de ginástica ao ar livre e aí conheceu o Pedro Marques, que compõe bandas sonoras. Então a minha mãe encomendou-lhe uma música para oferecer ao primeiro neto, e era eu que ia cantar em estúdio. Portanto, conheci-o a cantar. E gostei tanto dele e daquela versatilidade que pensei ‘é com esta pessoa que vou poder concretizar o meu sonho’.

Então era um sonho ir ao Festival?

Sempre foi. As pessoas insistiam que eu devia ir aos ‘Ídolos’, mas o que eu sempre quis foi concorrer ao Festival da Canção, que não tem um espírito tão competitivo. Então disse ao Pedro que queria uma música em todas as línguas que eu sei falar, sobre viajar, com muita energia e que incluísse algumas expressões de que eu gosto, como ‘a vida é bela’. E assim foi. A música era difícil e eu adoro desafios.

Estava nervosa?

Estava acima de tudo muito feliz. Mas foi uma aventura muito gira. Aprendi por exemplo o que era ser artista a tempo inteiro e adorei ver o mundo das artes por dentro, havia profissões que eu nem sabia que existiam, foi muito enriquecedor.

Nasceu numa família de médicos. Os seus pais são médicos, as suas irmãs são médicas, quando era criança havia alguma pressão para também seguir medicina?

Não senti pressão mas não sabia como era ser outra coisa… Para mim ser adulto era ser médico. Os meus avós eram professores primários e emigrantes, primeiro em África e depois em França, e a vida deles era para mim uma coisa tão exótica que não me parecia real. Portanto, eu não acompanhei de perto o percurso profissional deles. Os médicos casam sempre com médicos (nem eu escapei, o meu namorado é psiquiatra) e o meu mundo era o deles. Mas também posso dizer que os meus pais eram muito apaixonados pelo que faziam. Não cresci a ouvir queixumes sobre a medicina, cresci a ouvir gente muito entusiasmada falar de uma medicina que eu não vejo agora.

E quando começou a trabalhar?

Quando comecei a trabalhar, a sensação que tive foi ‘venderam-me a banha da cobra’. Os meus pais e os amigos contavam histórias de pessoas, de vidas, de profissões, de famílias. Dava a ideia de que tinham tempo para ouvir os doentes. Nós agora não temos isso. Agora a medicina é uma máquina de produzir em série, e penso muito que os meus filhos não vão ouvir de mim as histórias que eu ouvia aos meus pais.

A medicina perdeu o lado humano?

Sim. Eu escolhi a especialidade onde eu achei que mais facilmente encontraria isso. E na verdade a psiquiatria é o último reduto da medicina humana. Se bem que mesmo na psiquiatria já não temos esse tempo. Claro que a minha escolha de psiquiatria foi uma supresa para toda a família. Mas eu só seria psiquiatra ou médica de família. Gosto muito da parte social, da nossa circunstância, o que é ser pai, ser mãe, ser avô, ser cigano, ser toxicodependente, ser ilegal. Quanto à arte, eu sempre vi a minha mãe ser artista. Aliás, esta clínica está cheia de peças dela. Eu sou mais de artes performativas.

Há uma grande tradição de escritores médicos…

Pois há. Mas lá está, é uma tradição que também se está a perder. Na psiquiatria, os meus ídolos são todos mais velhos. Os psiquiatras escritores como o Daniel Sampaio ou o José Gameiro são se calhar os últimos representantes dessa psiquiatria que tinha tempo para ouvir as pessoas. Nós não podemos ouvir decentemente uma pessoa em dez minutos, porque nesse tempo ninguém te vai contar nada de importante.

Estamos a caminhar para a desumanização?

Eu gostava de dizer que não, mas qualquer dia vou começar a ser ativista do tempo. Devolvam-nos o tempo. Porque sem tempo não se faz nada. Como é que se exercita a empatia sem tempo? Em 20 minutos a pessoa que está à minha frente não ganha a confiança necessária para me dizer que sofreu um trauma gravíssimo. Ganhar confiança leva tempo. Criar laços não é imediato…

A arte também está muito presente na sua vida profissional…

O meu sonho de ter uma clínica que se parecesse com uma casa cheia de objetos pessoais e artísticos. Enervam-me os consultórios tipo dentista, muito vazios, muito despidos. Então queria ter um sítio imperfeito mas cheio de vida e de arte, e onde as pessoas se sentissem tão bem que não tivessem vergonha de dizer que estavam no psiquiatra. Toda a gente gozava comigo porque eu dizia – o meu sonho é ter uma clínica que seja fashion – e a verdade é que logo na primeira semana em que abri esta clínica, alguém publicou nas redes sociais uma das estátuas que aqui tenho. E era isso que eu queria: que as pessoas não se envergonhassem de dizer que estavam a tratar da sua saúde mental.

As artes na saúde também podem servir para atrair as pessoas aos espaços de saúde?

Claro. Era esse o meu objetivo. Fazer isso é humanizar os espaços. E claro que nesta missão tive uma ajuda brutal da minha mãe, sem a qual eu não teria tantas obras expostas (risos). Ter esta clínica nem era suposto acontecer tão cedo na minha vida, mas era do pai de uma amiga minha. E quando aqui entrei percebi logo que era isto que eu queria. Além das artes plásticas, a sala de espera tem um gira-discos e uma coleção de discos de vinil, muitos dos quais pertenciam à minha avó. E ao fim do dia quando toda a gente se vai embora, sento-me ali a ouvir música. O som é único e o próprio disco é um objeto estético, é um statement. Gosto muito disso. Parece-me muito importante promover as artes e humanidades na medicina. Ontem até tive um evento promovido pela Associação de Médicos de Família, chamado ‘Poesia para uso tópico’. Não é lindo?

Palavras-chave

Relacionados

Mais no portal

Mais Notícias

Mais vale prevenir do que fechar

Mais vale prevenir do que fechar

Comissão Europeia aplica multas milionárias à Apple e Meta

Comissão Europeia aplica multas milionárias à Apple e Meta

Olo: Nova cor é tão rara que apenas cinco pessoas a viram

Olo: Nova cor é tão rara que apenas cinco pessoas a viram

Olavo e Teresa casam-se em “Sangue Oculto”: as imagens da boda

Olavo e Teresa casam-se em “Sangue Oculto”: as imagens da boda

Artrite reumatoide: tudo o que precisa de saber sobre esta doença

Artrite reumatoide: tudo o que precisa de saber sobre esta doença

CARAS Decoração: as novas peças desenhadas pelos irmãos Bouroullec para a Vitra

CARAS Decoração: as novas peças desenhadas pelos irmãos Bouroullec para a Vitra

A revolução dos robots em Portugal. A reportagem que valeu à VISÃO Saúde Prémio de Jornalismo

A revolução dos robots em Portugal. A reportagem que valeu à VISÃO Saúde Prémio de Jornalismo

Hyundai Inster em teste: Explorador urbano

Hyundai Inster em teste: Explorador urbano

Caras conhecidas à procura de um verão com estilo

Caras conhecidas à procura de um verão com estilo

A ascensão das clouds privadas nas empresas: uma solução para os três c’s dos desafios de IT

A ascensão das clouds privadas nas empresas: uma solução para os três c’s dos desafios de IT

Milhares de portugueses celebram o 25 de abril na Avenida da Liberdade

Milhares de portugueses celebram o 25 de abril na Avenida da Liberdade

Olga Roriz - Há 30 anos a marcar a dança contemporânea

Olga Roriz - Há 30 anos a marcar a dança contemporânea

Empresa do Interior faz Investimentos Estratégicos que Resultam em Crescimento Exponencial. De 11M€ a 50M€, em 5 anos.

Empresa do Interior faz Investimentos Estratégicos que Resultam em Crescimento Exponencial. De 11M€ a 50M€, em 5 anos.

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Recorde os

Recorde os "looks" de Letizia nos Prémios de Literatura 'Miguel Cervantes'

A importância do envolvimento dos colaboradores

A importância do envolvimento dos colaboradores

25 imagens icónicas do momento que mudou o País

25 imagens icónicas do momento que mudou o País

Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

Relatório: Empresas podem perder até 25% das receitas devido às alterações climáticas - mas também há dinheiro a ganhar

Relatório: Empresas podem perder até 25% das receitas devido às alterações climáticas - mas também há dinheiro a ganhar

Quis Saber Quem Sou: Será que

Quis Saber Quem Sou: Será que "ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais?"

Passatempo: ganha convites duplos para a antestreia de 'Super Charlie'

Passatempo: ganha convites duplos para a antestreia de 'Super Charlie'

A VISÃO Se7e desta semana – edição 1677

A VISÃO Se7e desta semana – edição 1677

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

Entre luzes e sombras: 7 livros que iluminam o passado (e o futuro)

Entre luzes e sombras: 7 livros que iluminam o passado (e o futuro)

OMS anuncia acordo histórico sobre pandemias, com EUA de fora das negociações

OMS anuncia acordo histórico sobre pandemias, com EUA de fora das negociações

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Hyundai Inster: novo elétrico 'compacto por fora e grande por dentro'

Hyundai Inster: novo elétrico 'compacto por fora e grande por dentro'

Moda: Mensagem Recebida

Moda: Mensagem Recebida

Cosentino inaugura o Cosentino City Porto e reforça a sua presença em Portugal

Cosentino inaugura o Cosentino City Porto e reforça a sua presença em Portugal

Luísa Sobral dá longos passeios no final da gravidez

Luísa Sobral dá longos passeios no final da gravidez

Corpo do Papa Fancisco trasladado para a Basílica de São Pedro

Corpo do Papa Fancisco trasladado para a Basílica de São Pedro

Milhares de pessoas no Vaticano para o funeral do Papa Francisco

Milhares de pessoas no Vaticano para o funeral do Papa Francisco

Desfile de elegância e ousadia na semi-final dos “International Emmy Awards” em Portugal

Desfile de elegância e ousadia na semi-final dos “International Emmy Awards” em Portugal

Vencedores do passatempo 'Super Charlie'

Vencedores do passatempo 'Super Charlie'

Arnaldo Antunes - Canções do fim do (novo) mundo

Arnaldo Antunes - Canções do fim do (novo) mundo

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Receita de Bolo de família com leite condensado, por Cátia Goarmon

Receita de Bolo de família com leite condensado, por Cátia Goarmon

CARAS Decoração: Cromática, uma coleção desenhada por Pedro Almodóvar

CARAS Decoração: Cromática, uma coleção desenhada por Pedro Almodóvar

Entrevista a Gil Brito, vencedor de 'Got Talent Portugal'

Entrevista a Gil Brito, vencedor de 'Got Talent Portugal'

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

Dona do ChatGPT quer comprar o Google Chrome

Dona do ChatGPT quer comprar o Google Chrome

Os 40 atores negros mais famosos de Hollywood

Os 40 atores negros mais famosos de Hollywood

45 anos de Jornal de Letras

45 anos de Jornal de Letras

Clima: como o Alentejo Litoral se prepara para a “guerra”

Clima: como o Alentejo Litoral se prepara para a “guerra”

Niu KQi 100P em teste: Sofisticação a bom preço

Niu KQi 100P em teste: Sofisticação a bom preço