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As mulheres continuam a viver mais tempo que os homens, embora a diferença esteja a diminuir: a esperança média de vida em Portugal ronda os 77 anos para os homens e 83 para as mulheres. É verdade que os efeitos do estilo de vida masculinos ainda se refletem numa maior mortalidade, mas também é verdade que muitos homens continuam a fugir dos consultórios médicos como o diabo da cruz, e ainda mais se o mal-estar tem origem no ‘andar de baixo’. E como todas nós temos homens na nossa vida, sejam eles os nossos pais, maridos, namorados ou filhos, convém estarmos atentas aos sinais (ou pequenos desabafos) de que qualquer coisa não está bem em terras do senhor Phallus e associados.

Em exclusivo
Se nós mulheres temos doenças associadas a órgãos femininos (como útero e ovários) os homens também têm patologias associadas a um órgão que é lhes é exclusivos: a próstata. Esta pequena palavra esdrúxula provoca calafrios a qualquer membro masculino porque é muitas vezes associada a cancro. Em Portugal, o cancro da próstata atinge anualmente cerca de 6000 homens, e 1800 morrem acabam por morrer, mas a verdade é que nem todas as doenças relacionadas com este pequeno órgão são malignas, e a boa notícia é que esta doença não só evolui muito lentamente como tem uma taxa de cura de 85-95%, quando detetado precocemente. A má notícia é que é assintomática nos estádios iniciais – não tem sintomas – e por isso, a partir dos 45-50 anos é fundamental fazer os exames de rastreio

Próstata, essa desconhecida
“A próstata é uma pequena bola muscular que fica debaixo da pélvis masculina, sob a bexiga e é atravessada pela uretra. Na puberdade atinge o tamanho de uma castanha, tem a forma de um coração, e depois de algumas décadas pode atingir tamanhos absurdos e transformar a vida dos homens num inferno”, escreve o urologista alemão Oliver Gralla no seu livro ‘Tudo bem aí em baixo’. É esta glândula, em conjunto com a vesícula seminal, que produz dá energia aos espermatozoides e é usado para gerar descendentes. A chatice é que por vezes, a partir dos 40 anos pode começar a dar problemas, e um dos sinais que alguma coisa não está bem são as alterações na micção, isto é, a forma como faz chichi: diminuição o fluxo urinário, aumento do número de vezes que tem de ir à casa de banho (inclusive, acordar de noite para fazer chichi), sensação que a bexiga não ficou vazia, e até o jacto não ter a força que tinha anteriormente.

Os maiores problemas
As três doenças mais comuns relacionadas com a próstata são a hiperplasia ou hipertrofia benigna da próstata (HBP), a prostatite e o cancro da próstata.
No caso de HBP, o que acontece é que, o aumento do tamanho da próstata pode ‘estrangular’ gradualmente a uretra e esta não consegue conduzir a urina até ao exterior, o que pode causar problemas como cistites, cálculos renais e em último caso insuficiência renal.
Quanto à prostatite, esta além de se caracterizar por dificuldade em urinar, dá também febre, dor ao fazer chichi, assim como dor pélvica. É na maioria das vezes de origem bacteriana.
Por último, o cancro da próstata, que se pode manifestar também pelos sintomas acima descritos, além e outros menos frequentes como a incontinência, presença de sangue no sémen, dor ao ejacular e na parte baixa das costas. É um diagnóstico pouco comum abaixo dos 45 anos, mas é caso para se dizer que mais vale prevenir do que remediar e se sentir alguma diferença ou mal-estar, deve ir logo ao especialista para fazer o despiste.

Cancro da próstata: fatores de risco
. Idade: mais de 70% dos casos são homens com idade superior a 65 anos
. Fatores genéticos: ter familiares próximos com esse tipo de cancro.
. Fatores ambientais: poluição, exposição a substâncias químicas e fertilizantes. Fazer uma dieta rica em alimentos ricos em gordura animal. Estudos comprovam que uma dieta rica em frutas e vegetais podem ter um fator protetor.
. Fatores hormonais

Métodos de diagnóstico
Como meio de deteção precoce, os homens a partir dos 40-45 anos (dependendo dos seus fatores de risco) devem fazer o teste de PSA (o antigénio prostático especifico), uma análise ao sangue que vigia os níveis de uma proteína libertada por aquela glândula. Quando estão normais e não há mais queixas, adia outros exames mais intrusivos para mais tarde. Se estiver acima dos valores normais (ou há outras queixas) tem de se prosseguir com outros testes:
. Exame físico: (o temido) toque retal, em que o médico, com uma luva lubrificada, insere um dedo no intestino grosso, e ver se há uma área irregular dura que possa ser indício de cancro.
. Análise à urina: para verificar a existência de infeções ou presença de sangue.
. Ecografia transretal, em que uma sonda é inserida no retor para se obter uma melhor visualização da próstata e deteta anomalias (atenção que este exame leva a muitos resultados positivos falsos).
. Biópsia da próstata: este é o único exame que confirma cancro da próstata e consiste em retirar tecido da próstata que deverá depois ser submetido a uma análise. É um exame que não costuma ser doloroso pois é feito com anestesia local em ambulatório.

Como tratar
Se o diagnóstico for uma Hiperplasia Benigna da Próstata, o tratamento passa sobretudo pelo uso de medicamentos e só em último caso, se estes não funcionarem de todo e se já esgotou todos as alternativas farmacológicas, é que se recorre à cirurgia, porque esta, apesar de raras, pode levar a complicações que não podem ser revertidas. Caso o problema seja uma prostatite, geralmente são tratadas com antibióticos, analgésicos e antibióticos.
Em relação ao cancro da próstata, “mesmo sem terapia, não conduz necessariamente à morte. Sabe-se, desde há algum tempo que nem todos os tumores da próstata dão problemas e que se pode poupá-los a um tratamento” afirma o urologista Oliver Gralla. E como cada caso é um caso, há que perceber o grau de agressividade e de malignidade do cancro. Se forem baixos, pode optar-se por uma observação rigorosa e muito frequente (teste PSA e toque retal e biópsias) para ver a evolução da doença. No caso de se decidir pelo tratamento, devido à malignidade e agressividade do tumor, há a possibilidade de fazer cirurgia (a tradicional, aberta, tem sido cada vez mais substituída pela laparoscópica e robótica, menos invasivas). “Os riscos de remoção cirúrgica da próstata têm sido, nos últimos anos, minimizados de forma constante. Mas os riscos residuais existem sempre após uma operação e incluem disfunção erétil e a incontinência”, alerta o urologista. Outros tratamentos mais ou menos radicais incluem a radioterapia, crioterapia, hormonoterapia e quimioterapia, que têm vários efeitos secundários mais, ou menos graves. É importante que antes de tomar qualquer decisão, se informe sobre os riscos, os efeitos secundários, as opções que pode tomar e não se iniba de pedir uma segunda ou terceira opinião, nem que lhe expliquem aquilo que não percebe. Se não percebe ‘mediquês’, peça para trocarem por miúdos. Quanto toca à nossa saúde, esclarecimentos nunca são demais.

Livro: ‘Tudo bem aí em baixo?’, dr. Oliver Gralla, Vogais, €15,98

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