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1. COMO SEI SE O QUE SINTO É TRISTEZA OU DEPRESSÃO?
A tristeza é natural e adaptativa. No entanto, se esta não passa ou não alivia ao fim de 15 dias, se está permanentemente presente e nos tira o prazer de viver, aí poderemos estar já perante uma depressão que pode ser ligeira, moderada ou grave, a depressão major. Esta doença mental provoca muito sofrimento ao paciente e deixa-o muito limitado, com apatia, desinteresse e uma tristeza duradoura, mas duas pessoas com depressão podem ter sintomas muito diferentes.

2. O QUE PODE CAUSAR UMA DEPRESSÃO?
Há inúmeros fatores que podem estar na origem desta doença. Geralmente há uma conjugação de vários acontecimentos, pode ser um divórcio, a perda de rendimento, de emprego quando começou a crise económica houve um boom de pedidos de ajuda, a doença ou morte de um familiar, mas também há pessoas que parecem não ter razões para uma depressão mas têm, e isso pode ter a ver com uma predisposição genética. E depois também há problemas de saúde que lhes podem dar origem, mas tratando esses problemas elimina-se esta perturbação.

3. QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
. Sentir uma tristeza avassaladora a todos os momentos do dia por mais de 2 semanas
. Não ter prazer ou interesse em fazer as coisas que lhe dão mais prazer
. Isolar-se, não querer estar com os amigos
. Sensação de vazio
. Sentir-se alheada de tudo e de todos, só ter vontade de estar no sofá
. Muita agitação e irritação
. Andar sempre com vontade de chorar
. Sentir-se inútil, não conseguir produzir
. Não ter autoestima
. Sentir-se desajustada e inadequada
. Sentir-se incapaz de decidir seja o que for no dia a dia
. Ter capacidade de decisão mas ter ideias suicidas
. Ter muito apetite
. Não ter apetite nenhum
. Ter excesso de peso
. Ter peso a menos
. Estar cheia de sono o dia todo
. Ter insónias
. Não ter apetite sexual

4. QUEM PODE AJUDAR-ME?
Numa primeira abordagem o médico de família pode ajudar, mesmo que o procurem para um outro problema de saúde, este pode e deve reservar um tempo da consulta para saber sobre o humor e a disposição do seu paciente, se tem energia, se se sente produtivo, como anda o apetite e o sono.
Logo aí pode haver um despiste. Se alguma ‘campainha’ tocar, aí deve fazer-se perguntas mais incisivas. O médico de clínica geral pode tentar fazer uma abordagem farmacológica, mas se ao fim de 1 ou 2 medicamentos não houver melhoras convém procurar a ajuda de um psiquiatra.

5. A DEPRESSÃO PODE SER UM SINTOMA DE UM OUTRO PROBLEMA DE SAÚDE?
Sim, há pessoas a quem é diagnosticada depressão mas por trás há, por exemplo, um abuso de substâncias, como o álcool, o grande simulador de depressões. Há quem use o álcool como ansiolítico, mas mais tarde o próprio álcool causa o estado depressivo. Nesses casos, eliminando o seu consumo a pessoa fica bem sem ter de tratar esta doença mental. Depois, se há queixa de cefaleias, deve fazer rastreios, como o TAC cerebral, para excluir causas neurológicas desta doença mental.
Outro procedimento é pedir umas simples análises ao sangue, que devem incluir a função da tiroide. Conheço vários casos de pacientes que andavam a ser tratados para depressões e que depois se percebeu que era hipotiroidismo. Neste casos, faz-se o tratamento da disfunção da tiroide e nem precisam tomar antidepressivos.

6. QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS DISPONÍVEIS?
Há vários tipos de tratamento, conforme a gravidade da perturbação. Se for leve a moderada, recomenda-se a psicoterapia e outros tratamentos alternativos como o exercício físico.
Este é absolutamente fundamental, há vários estudos internacionais que o comprovam.
Fazer caminhadas traz enormes benefícios para o humor porque liberta substâncias cerebrais (como a serotonina e noradrenalina) que são muito idênticas às que os antidepressivos libertam. Alivia rapidamente a nível da tristeza e dá algum conforto rápido.
No caso de depressão major, que é mais grave que as anteriores, já serão usados fármacos.
Sou avesso à medicação, mas a realidade é que às vezes é mesmo necessária e consegue-se verdadeiros milagres rapidamente.
Fizemos um estudo com 150 pacientes crónicos ou com depressão resistente (que tinham já experimentado pelo menos 3 fármacos diferentes anteriormente) e pedimos-lhes para fazerem 30 a 45 minutos de exercício físico por dia, 5 vezes por semana (tudo controlado por aparelhos que mediam os passos, a intensidade da caminhada, a duração) e os resultados foram surpreendentes. Verificámos que 25% dos pacientes que tinham tentado vários fármacos, quando associaram o medicamento ao exercício físico ficaram curados. Outro quarto melhorou significativamente a sua qualidade de vida.

7. QUAL É A DURAÇÃO MÉDIA DE UM TRATAMENTO?
Com fármacos nunca deve ser menos de 6 a 9 meses num primeiro episódio. Um problema muito comum é que ao fim de um mês muitos pacientes já não fazem aquilo que os médicos pedem e deixam de tomar os medicamentos porque não sentiram alterações logo, ou porque estão a sentir-se melhor e acham que já não precisam, ou porque acham que não é para tomar todos os dias.
A medicação não faz logo efeito, demora 2 a 4 semanas até começar a sentir-se melhor. E não se deve parar de repente de tomar, a medicação deve ser reduzida gradualmente para não haver recaídas, até ter alta.
Durante o tratamento deve também tentar alterar o estilo de vida e incorporar mais exercício físico, dado os benefícios já comprovados.
Se teve mais de 2 episódios e um historial familiar, deve prolongar o tratamento além dos 6-9 meses e, caso não haja melhoras significativas, tem de se medicar continuamente e estar atento ao que se vai descobrindo e a novos medicamentos.
20 a 30% da população portuguesa tem perturbações de ansiedade, como a perturbação de pânico e a agorafobia, as mais conhecidas e frequentes.
Estas perturbações podem ter como origem uma depressão mas também ser elas próprias um desenvolvimento secundário daquela doença mental.

8. SÓ SE PODE TER DEPRESSÃO NA IDADE ADULTA?
Não, há crianças e adolescentes com este problema de saúde assim como pessoas mais velhas. E infelizmente desvaloriza-se muito o que os idosos sentem. Como se, a partir de certa idade, as pessoas tivessem de se conformar que estão num lar e por isso não veem a família. Os idosos merecem todo o nosso respeito e também têm de ser tratados para a depressão.
Na infância e na adolescência, por vezes, confunde-se depressão com mau feitio. Nestas idades a doença não se manifesta tanto por tristeza mas mais por irritabilidade ou por inconstância no comportamento. Há que perceber se a criança não quer sair da cama, se chora por tudo e por nada, se não consegue estudar.
Nos jovens é muito importante tratar cedo e bem, por causa da tendência de cronicidade.
Tenho vários pacientes que quando eram mais novos tiveram uma perturbação de ansiedade e durante anos não conseguiram estudar. É importante estar atento e falar nisso aos pediatras, aos médicos de família, para eles os tentarem tratar.

9. É MAIS UM PROBLEMA DE MULHERES QUE DE HOMENS?
Se formos ler artigos científicos, de uma forma geral sim, o número de mulheres até costuma ser o dobro. Mas pelo que vejo no meu consultório, as diferenças não são assim tão relevantes. E isto porque a mulher tem mais frequentemente uma confidente, ou alguém próximo com quem desabafar e é mais fácil para as mulheres falarem do que sentem. Elas percebem mais rapidamente que algo não está bem e procuram ajuda, o que pode sobrevalorizar os números.
No caso dos homens, penso que há um subdiagnóstico porque muitos estão doentes mas bebem uns copos para esconder a ansiedade.
Não é fácil para os homens falar sobre o que sentem, porque muitos acham que demonstrar os seus sentimentos é um sinal de fraqueza. Geralmente, o homem só procura ajuda mais tarde… se é que não se matam entretanto.

10. SE TIVER UM FAMILIAR COM DEPRESSÃO, A PROBABILIDADE DE EU VIR A SOFRER DESSA PERTURBAÇÃO TAMBÉM AUMENTA?
Sim, sem dúvida, tanto na literatura científica como na prática clínica vemos que muitas das pessoas com depressão que nós tratamos têm familiares com a mesma doença. Inclusive foram feitos estudos com gémeos, em que no caso dos verdadeiros, quando um tem depressão, a taxa de depressão é surpreendentemente parecida, e no que se refere aos falsos, a tendência a ter depressão não é tão equitativa.

venceradepressao.com
Neste site, do psiquiatra Jorge Mota Pereira, não só pode fazer um teste online para rastrear esta doença como ver testemunhos de várias pessoas que contam as suas histórias e como conseguiram ultrapassar a doença.


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