Ao contrário do que se possa pensar, o síndrome vertiginoso não é exclusivo da terceira idade. Se perguntar a familiares, colegas e amigos, de várias idades, se já foram ao médico porque sentiram vertigens, o mais provável é que ouça muitas histórias na primeira pessoa. É das queixas mais frequentes nas consultas de otorrinolaringologia e estima-se que cerca de 20% da população portuguesa entre os 18 e os 65 anos já sofreram uma alteração do equilíbrio. José Carlos Rosmaninho Seabra, médico especialista na Clínica da Vertigem e do Zumbido, explica-nos melhor o que é este problema de saúde que causa tanta ansiedade, até porque nunca se sabe quando (e se) voltará a surgir.
Diferenças: vertigem e síndrome vertiginoso
Não é a mesma coisa: o otorrino esclarece que a “vertigem é o sintoma, uma perturbação do equilíbrio com ilusão de movimento, que pode ou não ser rotatório. Já o síndrome vertiginoso é um conjunto de sintomas, que inclui a vertigem, mas que vem acompanhada de enjoos, náuseas, vómitos e às vezes diminuição da capacidade auditiva, zumbido ou dores de cabeça.” Quando os doentes se queixam destes sintomas, os especialistas têm de perceber se o problema tem origem periférica (no órgão recetor, o ouvido) ou central (no sistema nervoso central).
>>>>Se for um síndrome vertiginoso periférico – mais frequente -, estas são as três doenças mais comuns que estão na origem:
. VPPB (vertigem posicional paroxística benigna).
Também designada por doença dos cristais, “que tem aumentado muito nos últimos tempos. No fundo, os cristais no ouvido deslocam-se para outra estrutura sensorial, o que faz com que tenha uma vertigem muito forte e angustiante (embora de curta duração, cerca de meio minuto) cada vez que muda de posição, seja olhar para cima, para baixo ou virar-se na cama”.
. Doença de Ménière.
A vertigem é rotatória e tem uma duração que pode ir de 15 minutos a várias horas. Também se verifica uma perda auditiva, zumbido e pressão num dos ouvidos.
. Neuronite vestibular.
“Neste caso é uma infeção do nervo que leva as informações ao cérebro e que de repente deixa de funcionar. Pensa-se que possa ser causado por um vírus. Não há perda auditiva ou zumbidos, mas faz-se acompanhar de muitas náuseas, enjoos e até vómitos. É uma vertigem muito intensa e pode demorar vários dias até melhorar, podendo ficar com instabilidade, que leva meses a passar.”
>>>>Caso o síndrome vertiginoso seja central, há que despistar se houve um acidente vascular cerebral, um acidente isquémico transitório (ou mini-AVC), um traumatismo craniano ou é originado por uma doença degenerativa muscular ou cerebral, Parkinson ou esclerose múltipla.
“Uma vertigem episódica dá dores de cabeça e está mais associada a pessoas ansiosas, com grande sobrecarga de trabalho e stresse. Algumas conseguem identificar alimentos que desencadeiam uma crise após a sua ingestão, como o queijo, o vinho tinto e alguns produtos com glutamato monossódico”.
COMO SE DIAGNOSTICA
“O mais importante é ouvir o doente, as suas queixas, fazer o seu historial clínico”, reforça o especialista. No entanto, existem vários exames que ajudam os médicos a chegar a um diagnóstico.
. Audiograma tonal (para ver se ouve ou não os tons) e vocal (no qual são ditas várias palavras que devem ser repetidas, “porque há muita gente que diz que consegue ouvir mas não consegue discriminar os sons do t, v, p ou b).
. Estudo do ouvido interno através de uma videonistagmografia, em que se observa os movimentos oculares comandados pelo ouvido. Neste exame coloca-se o doente numa cadeira que roda ou põe-se água ou ar frio e quente no ouvido”.
. Posturografia dinâmica, um exame mais genérico onde se avalia o comportamento da pessoa quando sujeita aos movimentos de uma plataforma, tentando assim identificar o elemento desestabilizador do equilíbrio.
QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS?
Nos casos em que a causa é um tumor, recorre-se à cirurgia, mas o mais frequente é o recurso aos medicamentos “apesar de diminuírem a vertigem, têm como contrapartida um atraso na recuperação do doente” e a reabilitação vestibular, um tratamento físico, definido caso a caso, e que se baseia na premissa de que o sistema de equilíbrio é capaz de se regenerar com o treino e aprendizagem. É a grande arma que melhora a condição das pessoas mais velhas, e que para estas pode ser a diferença entre dependência e autonomia. “Faz-se estimulação optocinética com luzes e treino de controlo postural com cadeiras rotatórias e plataformas específicas para este tratamento.”
“É muito importante que todas as queixas sejam investigadas, também na infância, para descartar patologias mais raras e graves, como tumores intracranianos”.
CRIANÇA (TAMBÉM) SOFRE
Também os mais pequenos têm alterações do equilíbrio. Se não forem pontuais, causadas por brincadeiras, convém consultar um especialista. Até aos 12 anos não é raro as crianças sofrerem de vertigem benigna da infância, “uma patologia que parece ser precursora da enxaqueca”, revela o otorrino rosmaninho Seabra.
Outras causas relativamente comuns são as intoxicações medicamentosas, infeções virais, malformações congénitas do ouvido interno, traumatismos ou a deslocação dos cristais dos ouvidos, “mas nas crianças esta patologia evolui bem e muitas vezes até de forma espontânea. É muito importante”, alerta o especialista, “que todas as queixas sejam investigadas, para descartar patologias mais raras e graves, como tumores intracranianos”.
.