O dia 16 de setembro marca, para sempre, o início de uma revolta e de uma luta no Irão que ultrapassa fronteiras, credos e géneros. E o seu símbolo máximo é, inevitavelmente, Mahsa Amini, a jovem de 21 anos que passeava por Teerão quando foi presa pela Polícia da Moral por se ver a franja debaixo do véu. Mahsa acabou por morrer, depois de ter sido violentamente agredida pelos agentes da moral e bons costumes do regime iraniano.
Desde esse dia que os protestos nas ruas do Irão se proliferaram, numa luta que começou por ser encabeçada pelas mulheres, mas que rapidamente se propagou a todos os que desejam a liberdade. Porque é de liberdade que se faz esta revolta. E de direitos humanos básicos.
Não se trata apenas da obrigação do uso do véu. Trata-se da necessidade de reconhecimento, por parte de um regime fundamentalista, de que a mulher tem exatamente o mesmo valor e os mesmos direitos do que os homens. Ora, desde os anos 70, com a ascensão de Komeyny ao poder, que as mulheres no Irão viram todos os seus direitos alienados, tendo passado a viver sob custódia dos homens – o que implica, por exemplo, os homens poderem ter relações sexuais com as mulheres quando eles assim o entenderem e o dever generalizado de obediência por parte da mulher, em qualquer circunstância.
Dois meses depois de protestos diários, já morreram, pelo menos, 426 pessoas e mais de 17.400 foram detidas, segundo dados dos Human Rights Activists in Iran. Números que vão continuar a aumentar, sobretudo depois do regime ter decretado a pena de morte para os manifestantes, numa tentativa de intimidação. Para já, há notícias confirmadas de seis condenações à morte, sendo que ontem, dia 21, a resposta das forças da ordem escalou quando dispararam artilharia pesada sobre manifestantes, durante o funeral de duas vítimas destes protestos.
A seleção de futebol do Irão já marcou a sua posição, no primeiro jogo do Mundial, ao permanecer em silêncio durante o hino do seu país. Também muitas figuras públicas iranianas têm mostrado o seu apoio a esta luta. Duas atrizes muito conhecidas no Irão – Hengameh Ghaziani e Katayoun Riahi – foram detidas por apoiarem publicamente estes protestos.
Em Portugal, também muitas vozes se levantaram a favor desta causa. Ao site da ACTIVA, Marisa Liz mostrou o que sente num momento onde o medo foi vencido pela coragem feminina: “O meu coração está com todas as mulheres que não têm direito aos seus direitos. O meu coração está e estará com todos os que não podem ser livres. Utilizarei o meu trabalho e a minha voz para lutar pela liberdade e pela paz, sempre! Lutarei até que a voz me doa. Lutarei sem voz, lutarei com o que tiver. Mas não irei parar nunca”, sublinhou a cantora. Numa publicação no Instagram, também Isabel Moreira falou de força: