Os números são claros: quando uma em cada oito mulheres está em risco de desenvolver cancro da mama, isso significa que praticamente todas as pessoas ou já o tiveram, ou têm alguma familiar, amiga ou conhecida que passou por isso. Não é um problema ‘longínquo’, mas sim um problema que nos ‘entra’ pela vida quotidiana dentro.
ATACAR O MAL MAIS CEDO
O cancro da mama é um tipo de cancro que se desenvolve de maneira muito diferente de mulher para mulher e o que se procura é criar um tratamento cada vez mais individualizado, para evitar tratamentos desnecessários e consequentes efeitos secundários, como os da quimioterapia.
A grande descoberta do momento é uma substância, o letrozole, pouco valorizada até agora, que pode, afinal, ser uma arma eficaz no combate ao cancro da mama. Descobriu-se que pode ser utilizada muito mais cedo no tratamento desta doença.
O que acontece actualmente? Bem, para começar, é importante saber que o tipo de cancro mais comum é hormonopositivo, ou seja, é sensível ao estrogéneo, uma hormona que temos no nosso corpo, e que faz com que as células malignas se multipliquem.
Por isso, no tratamento imediatamente a seguir à operação, usam-se substâncias como o tamoxifeno (utilizado há mais de 30 anos), que bloqueia a entrada de estrogéneo nas células, actuando como um escudo, e prevenindo-se assim o aparecimento de metástases. Só cinco anos depois se recorre aos inibidores de aromatase (um dos quais o letrozole), uma enzima que impede que o estrogéneo seja sintetizado.
A REVOLUÇÃO DO MOMENTO
Dois estudos internacionais demonstraram recentemente a relevância do letrozole. Um deles, levado a cabo pelo Breast International Group, uma organização internacional de investigadores dedicados ao cancro da mama, foi o primeiro ensaio clínico demonstrando que o letrozole é mais eficaz que o tamoxifeno nos cinco primeiros anos após a cirurgia. Um outro estudo provou uma redução de 42% no risco de recaída e demonstrou que vale a pena tomar letrozole mesmo após um período prolongado sem qualquer terapia. Como explicou o investigador Louis Mauriac, no 5.º Congresso Europeu do Cancro da Mama, realizado em Paris, este ano, nalguns casos pode ser benéfico atacar logo com o letrozole, ‘mas só na próxima década se terá a certeza.
O importante agora é tomar um inibidor nalguma fase do tratamento’. E não se administra esta substância durante mais tempo porque, como explica o especialista, ‘ainda não se conhece nos inibidores os efeitos a longo prazo no sistema cognitivo e cardiovascular’. E outro problema é o preço: cinco anos de tratamento podem custar à volta de 12.000 euros.
Nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Japão e Alemanha, já foi aprovada a administração do letrozole logo após a cirurgia. Em Portugal, ainda não existe posição ‘oficial’, mas a tendência é seguir as indicações mundiais.