‘Todos os dias, assim que me levanto, a primeira coisa que faço, mesmo antes de me vestir ou tomar banho, é ligar a máquina do café. Depois, durante o dia, bebo mais três ou quatro, mas já cheguei às oito ‘bicas’ diárias’, conta Susana Costa, 35 anos. Assumida ‘cafeinómana’, Susana já sabe que precisa da ‘injecção’ diária deste estimulante para poder ‘funcionar’, mas está longe de estar sozinha: mais de 90 por cento da população portuguesa ingere cafeína diariamente, foi isto que concluiu um estudo europeu feito, em 2004, com a colaboração da Deco/Proteste.
O facto não seria grave se este consumo fosse moderado, só que um terço das pessoas exagera nas ‘bicas’ diárias e ainda consome outros produtos que contêm cafeína. E estes são mais do que se poderia pensar: ela está presente nas folhas de chá, nos refrigerantes, nas bebidas energéticas, no cacau, nas nozes de cola utilizadas para aromatizar bebidas gasosas e até em alguns medicamentos, como os antigripais e os analgésicos. E se ingerida moderadamente até tem efeitos benéficos, do consumo excessivo advêm riscos bem reais para a saúde. Para ter uma ideia: uma chávena de café expresso tem, em média, 50 a 150mg de cafeína, e a partir dos 300mg já há efeitos prejudiciais. Ou seja, o limite recomendado ronda os 2-3 cafés por dia.
Apesar dos estudos, ainda hoje, algumas das implicações sobre a saúde do consumo da cafeína não estão esclarecidas. O que se pode tomar como certo é que, ingerida moderadamente, estimula o humor e aumenta o estado de vigília (o que acontece porque inibe a acção da adenosina, um químico que funciona como sedante natural). Mas não se iluda, apesar de socialmente aceite, é uma substância psicoactiva potente. Esteve incluída na lista de drogas dopantes do Comité Olímpico Internacional até 2004.
Porque faz bem
. Tem efeitos estimulantes no sistema nervoso, aumentando o rendimento intelectual e a concentração, reduz o sono, melhora o humor e dá uma sensação de bem-estar.
. Alguns estudos apontam para um efeito protector na doença de Parkinson, na diabetes tipo 2 e no cancro do cólon.
. Estimula as secreções gástricas, o que facilita a digestão; tem efeito diurético e propicia a eliminação de toxinas.
. É tonificante para o organismo, pois tem uma acção vasodilatadora, favorecendo a oxigenação dos tecidos e das células.
. Vários estudos sugerem que pode contribuir para aumentar a performance em tarefas manuais, como conduzir.
. O café possui alguns agentes antioxidantes que previnem o envelhecimento.
Porque faz mal
. Causa dependência e provoca o chamado efeito de tolerância, isto é, com o tempo têm de ser ingeridas cada vez maiores doses para se obter o mesmo efeito.
. Caso contrário, aparecem sintomas de privação: dores de cabeça, irritabilidade e incapacidade de concentração.
. Alguns estudos concluíram que existe uma relação entre o seu consumo e o risco de doenças cardiovasculares.
. Outras investigações sugerem a possibilidade de aumento do cancro do pâncreas.
. Associada a uma alimentação pobre em cálcio, a ingestão de cafeína pode afectar a densidade óssea na menopausa.
. Aumenta a tensão arterial (mas não está provada ainda uma associação directa com a hipertensão).
. Pode ter efeitos adversos sobre o feto: atrasos de crescimento, baixo peso e aborto espontâneo. Por causa disto, a Agência de Segurança Alimentar do Reino Unido recomendou que as grávidas devem ter especial atenção em não ultrapassar o tal limite dos 300mg (2-3 cafés).
. Aumenta a produção de ácido no estômago irritando a mucusa gástrica (deve ser evitado por pessoas com úlceras).
. A acção diurética pode propiciar a perda de alguns minerais essenciais, como sódio, cloro e, em menor quantidade, potássio.
. Em pessoas não habituadas pode causar inquietação, nervosismo, excitação, insónias e rubor facial.
. Está associada a algumas patologias cardiovasculares, como arritmia cardíaca e taquicardia.
Cronologia dos efeitos
Primeiro aprecia-se o aroma, depois beberica-se em pequenos goles (ou só de um trago, consoante o tempo e a personalidade do ‘bebericador’). Quinze minutos depois começam a surgir os primeiros sintomas e meia hora ou uma hora mais tarde sente-se o máximo efeito. Há factores que podem acelerar a sua eliminação, como o exercício, e outros atrasá-la, como o excesso de peso e a presença de alimentos no estômago. Sem esquecer a habituação: se a si não lhe causa perturbação beber um café à noite, outra pessoa pode passar a noite em claro…
Dependência ou hábito?
A experiência comum diz-nos que o café causa dependência e são bem conhecidos os efeitos da ‘ressaca’ quando se salta a ‘bica’ diária.
Masos especialistas preferem falar em ‘hábito’ em vez de vício. É verdade que há sintomas de abstinência, como fadiga, mal-estar, ansiedade, náuseas e vómitos, sobretudo quando o consumo cessa bruscamente, mas estes efeitos duram apenas alguns dias e são atenuados se a redução for feita gradualmente.
Como reduzir o consumo
. Opte por cafés com menos cafeína, como o arábico ou descafeinado.
. Prefira o café feito em cafeteiras tipo ‘moka’. Tem menos de metade da cafeína do expresso.
. Substitua-o por chá preto ou verde. No chá, a absorção de cafeína é mais lenta, por isso, o seu efeito estimulante é menor e mais prolongado.