Os comportamentos não verbais representam cerca de 65% da comunicação interpessoal. Expressões faciais, movimentos físicos ou timbre de voz podem revelar os nossos pensamentos, sentimentos e intenções. Decifrar o que os outros estão a pensar, como tencionam agir e a veracidade das suas afirmações pode ser um quebra-cabeças divertido e útil. A linguagem corporal é, muitas vezes, mais honesta do que as palavras. Mas, atenção: ao observar os outros, seja subtil. A observação invasiva não é aconselhável. O objetivo é observar sem que eles se apercebam disso.
Os avanços na tecnologia (da tomografia cerebral e neuroimagiologia) levaram a que os cientistas validassem os comportamentos que o ex-agente especial do FBI, Joe Navarro, descreve no seu livro. ‘Verdade ou Mentira’ ajuda a perceber o que pensamos mas não dizemos – este será o nosso ponto de partida.
Expressões traiçoeiras
Mentimos com a cara? Sim, mas a culpa não é nossa! Segundo o autor, “apenas o fazemos porque foi isso que nos ensinaram em crianças: ‘não faças essa cara’ ou ‘pelo menos mostra-te feliz quando os teus primos vêm cá’ dizem os nossos pais para nos forçar um sorriso. Estão a dizer para mentirmos (com o rosto), a bem da harmonia social”. Por vezes recusamos dizer o que estamos a pensar, mas a nossa cara espelha-o. Navarro deixa um conselho para detetar quando as expressões faciais de alguém estão em desacordo com a mensagem verbal: “Considere sempre a emoção negativa como a mais honesta das duas, é a mais genuína.”
Indícios de insegurança
Os comportamentos e normas sociais a que estamos sujeitas levam-nos, por vezes, a querer ocultar aquilo que sentimos. Se, no decorrer de uma reunião de trabalho, uma colega brincar com um colar, esfregar a testa ou cobrir a covinha do pescoço, saiba que estará a atenuar a sua insegurança, medo ou desconforto. “Sinais de stresse ou de baixa confiança são geralmente seguidos por comportamentos pacificadores, algo especialmente visível em entrevistas de emprego: quando, por exemplo, expiramos com as bochechas, em resposta a uma pergunta do entrevistador”, explica Joe Navarro.
Se, de igual modo, num dia normal de trabalho, encontrar o seu chefe a ajustar a gravata como se de um tique nervoso se tratasse, saiba que é provável que também ele se sinta inseguro. Este comportamento, assim como ventilar enquanto põe os dedos entre o colarinho da camisa e o pescoço ou brincar com o relógio, surge como uma maneira poderosa de aliviar o stresse.
Se estiver atenta, encontrará ao longo do dia outros discretos indicadores de incómodo nos outros, como “semicerrar os olhos, franzir a testa ou fazer desaparecer os lábios, pressionando-os um contra o outro”, alerta o autor.
Atenção aos pés
Juntamente com as pernas, os pés ganham o prémio da honestidade, de caras. São as partes do corpo mais honestas, e quem o garante é Joe Navarro: “Os pés contêm um número tremendo de recetores sensoriais. Até durante o ato de cortejar, envolvemos os pés através de toques e carícias subtis.”
Saber ‘ler pés’ pode dar-nos informações preciosas. Quantas vezes observou alguém sentado na secretária a falar animadamente e a balançar os pés e as pernas? Os “pés felizes”, como diz Navarro, são sinal de alta confiança, muito comum quando alcançamos uma posição vantajosa sobre algo ou alguém.
Se um colega falar consigo mas virar os pés noutra direção, ou mover um pé para o lado, em formação de L, pode estar certa de que ele se quer ir embora. “Temos tendência para nos voltarmos fisicamente para as coisas e pessoas que gostamos e vice-versa”, alerta o autor. Aproveite esta ‘dica’ para acelerar a conversa e concluí-la o mais rapidamente possível.
Deparar-se com alguém estático na cadeira, com os pés virados para dentro e entrelaçados, é outro bom sinal de tensão. Esconder os pés é muitas vezes um indicador de stresse, um comportamento especialmente comum em pessoas novas num emprego.
Os pés também revelam bastante sobre a evolução de situações particularmente delicadas. Se, durante uma discussão com o seu chefe, repara que ele vai afastando os pés, acredite que está a ficar zangado… O mesmo é válido ao contrário. Se se juntarem, é sinal que a tensão está a diminuir.
Abrace o sucesso
Os braços e as mãos também são ‘um livro aberto’. Se alguém falar de mãos na cintura, saiba que está a projetar uma imagem de autoridade. “Demonstra que a pessoa está confiante e não disposta a ser intimidada, algo muito frequente nos homens”, explica Joe Navarro.
Quando estamos felizes e satisfeitos, os nossos braços movem-se livremente. Por seu turno, se estamos inseguras, limitamos inconscientemente os movimentos. Faça o teste: diga, delicadamente, a uma colega que ela acabou de cometer um erro de trabalho drástico… verá os seus ombros e braços a afundarem-se. E, embora muitas vezes passe despercebido (por ocorrer debaixo das secretárias), limpar as mãos nas pernas, deslizando-as pelas coxas até ao joelho, é outro sinal de desconforto.
Tudo informações que pode usar a seu favor. Se pretende melhorar a sua eficácia como oradora, torne-se mais expressiva com as mãos. Não as esconda, pois isso cria uma impressão negativa. Experimente falar com alguém que tenha as mãos debaixo de uma mesa. Verá que a conversa fica desconfortável.