Quem tem Netflix de certo já reparou que há uma nova série no top nacional. Estamos a falar de “Fate – The Winx Saga”, que estreou a 22 de janeiro. Com apenas seis episódios disponíveis, esta é uma produção que chegou e e gerou grande curiosidade.
Interessada em perceber o furor desta série, aproveitei o tempo livre disponível pelo confinamento para lhe dar uma oportunidade. E é isto que tenho para dizer.
Para começar, uma pequena introdução. O nome “Winx” soa familiar? Pois isso não é de estranhar. É que “Clube Winx” foi uma popular série de animação que encantou o público infantil no início dos anos 2000. Tratava-se de um desenho-animado sobre a história de um grupo de fadas que frequentava uma academia e, ao mesmo tempo que descobria o potencial dos seus poderes, lutava contra o mal.
Admito que, na altura, não percebia o atrativo desta produção. Achava que os desenhos eram um pouco sexualizados, além de que a ideia base me parecia muito similar à banda-desenhada W.I.T.C.H,, que também acabou por ter uma versão televisiva. Um pequeno aparte e desabafo. Mas adiante!
Percebe-se que, quem era fã de “Clube Winx” tenha ficado entusiasmada com a estreia de “Fate – The Winx Saga”. Resta saber é se este público estava preparado para as diferenças entre a animação e a série live-action. É que a infatilidade deu lugar a uma história mais negra e repleta de dramas adolescentes.
E sobre o que se trata esta história? Então vamos lá. Em “Fate – The Winx Saga”, encontramos Bloom, interpretada por Abigail Cowen. Ela acaba de descobrir que é uma fada e viaja par aum novo mundo para frequentar a escola de Alfea. Uma espécie de colégio interno onde irá aprimoar a sua magia de fogo. Paralelamente, faz novas amigas, apaixona-se e percebe que o seu passado é repleto de mistérios. Fica então determinada em descobrir as suas origens e o motivo de ter ido parar ao mundo dos humanos. Isto, claro, sempre ao lados das suas amigas, outras fadas, cada um com aptidão para magia ligada a outros elementos, como a água ou a terra. Mas os problemas aumentam quando umas criaturas perigosas conhecidas como Queimados ameaçam a segurança de todos.
Claro que, por serem personagens adolescentes, assistimos a muitos comportamentos esperados nesta fase da vida. E é aqui que algumas situações inesperadas podem acontecer. É que, ao contrário da animação, esta série tem conteúdo considerado adulto. Não estranhar, portanto, o motivo para ser considerada para maiores de 16 anos.
Consumo de substâncias ilícitas, álcool e sexo são temas constantemente expostos em todos os episódios. Existem até situações em que a inclusão destes elementos parece algo forçada e descabida, afastando do enredo principal e tornando o ritmo da trama mais lento e aborrecido. Já para não falar que muitas vezes dá vontade de puxar as orelhas a estas adolescentes por não conseguirem seguir as recomendações dos adultos em assuntos de grande importância. É que não! Há momentos que não são mesmo bons para atos de rebeldia ou de afirmação de individualidade. Não quando isso pode colocar todos os outros em risco (e é nestes momentos que percebo que estou mesmo na idade adulta).
A série fez um esforço para ser diversa, mas notou-se que foi mesmo isso. Um esforço. Existem na internet muitas críticas ao facto de os atores escolhidos terem sido maioritariamente caucasianos, isto quando na animação se procurou ter maior representatividade. Nos desenhos-animados existiam figuras asáticas e latinas, algo que foi ignorado neste live-action e que está gerar uma onda de críticas.
Sim, procurou-se inclusão da comunidade LGBT, mas a forma como tal foi feito acabou por ser atabalhoada, pautada mais pela atração física do que por sentimentos amorosos. Além disso, o facto de estar relações estarem mais ligadas a personagens vilãs também não foi bem visto.
Mas a série também tem pontos positivos. A estética geral é agradável e as paisagens escolhidas são incríveis. Afinal, estamos a falar de uma produção feita na Irlanda, o que nos leva a observar locais de bonita beleza natural.
E apesar de todo o drama adolescente que muitas vezes faz revirar os olhos, gostei de como foi criado o grupo das cinco meninas que são então as Winx. Bloom pode acabar por se tornar algo irritante, mas a interpretação da atriz está ótima e transmite bem a ânsia da autodescoberta. Aisha (Precious Mustapha) faz recordar a amiga sensata que cada grupo tem, que tenta chamar à razão mesmo quando sabe que vai acabar prejudicada. Terra (Eliot Salt) encanta pela doçura e forma como encara os julgamentos dos outros (mesmo quando é excessiva na energia que transmite). Stella (Hannah van der Westhuysen) é a figura que apresenta a melhor evolução e que nos faz recordar que não se deve julgar as pessoas pela primeira impressão. Musa (Elisha Applebaum) mostra que sair do nosso isolamento e conseguir lidar com os outros é um ato de coragem.
Posso concluir que “Fate – The Winx Saga”, toma “Clube Winx” como inspiração base, mas afasta-se em muito do tom, construção de personagens, ritmo e trama. É uma série que tem alguns pontos positivos, mas que fica aquém das expetativas. Existem lacunas na história e muitos factores que não foram bem expostos e explorados. Sim, é verdade que os fãs de “Clube Winx” cresceram, mas será que era isto que esperavam da adaptação?
Ainda não se sabe se vem ou não aí uma segunda temporada. Tudo indica que sim. Portanto se, realmente houver continuação, existem muitos erros a serem corrigidos para que esta aventura ganhe força e um maior sentido.