Nem tudo o que comemos faz bem ao nosso intestino. Vamos descobrir porquê. Para tal, antes de mais, é importante conhecê-lo, saber como é constituído e como funciona o intestino.
O trato gastrointestinal do ser humano adulto tem entre 7 e 9 metros de comprimento e é habitado por muitos milhões de bactérias que desempenham importantes funções, que veremos adiante. Dessas bactérias – designadas por microflora intestinal – nem todas são benéficas e claramente se estas existirem em quantidade significativa conseguem sobressair e exercer o seu efeito em plenitude, inibindo os efeitos negativos das restantes bactérias presentes.
Quando nascemos o nosso intestino está livre de bactérias, é estéril. Durante o parto e a amamentação o bebé toma contacto com as bactérias da mãe, sendo colonizado por estas. A partir daí, com a diversificação alimentar durante a infância, toda a variação da microflora intestinal depende quase exclusivamente da alimentação. São os diversos nutrientes que interagem com as bactérias presentes, fazendo com que estas se alimentem, multipliquem e produzam as suas próprias substâncias.
O processo digestivo também é protagonizado por estes microrganismos, que participam na digestão e absorção de hidratos de carbono de origem vegetal, na síntese de vitaminas (vitamina K, ácido fólico), no metabolismo de produtos nocivos como o colesterol, e na fermentação de polissacarídeos (são convertidos em ácidos gordos de cadeia curta – AGCC). Estes AGCC estimulam a absorção de água, contribuem para mais de 10% das necessidades calóricas e promovem um efeito anti-inflamatório. São ainda responsáveis pelo prolongamento do tempo de trânsito intestinal e consequente melhoria da absorção dos nutrientes.
Esta relação benéfica entre a microflora e o ser humano estende-se para além do processo digestivo, através da competição direta com os potenciais patogéneos, da manutenção da barreira epitelial intestinal, do metabolismo de fármacos e, finalmente, do desenvolvimento cerebral através de mecanismos envolvidos na atividade motora e libertação de neurotransmissores que atuam no controlo da ansiedade/depressão.
A ingestão de alimentos obesogénicos (açucarados e/ou gordurosos) incentivam a proliferação de bactérias não benéficas e a produção de substâncias inflamatórias, tal como a utilização de antibióticos frequentemente durante a primeira infância (primeiros 3 anos); a utilização de leite artificial e o parto por cesariana podem contribuir para desregular o tipo de bactérias que deveria prevalecer no nosso intestino. Por outro lado, a ingestão de alimentos prebióticos (hortícolas, fruta, leguminosas), água, cereais e derivados integrais ou aveia e lacticínios incentivam o crescimento das bactérias mais vantajosos ao bom funcionamento do organismo.
A presença de muitas células e mecanismos de defesa (do sistema imunitário) ao longo da parede intestinal são responsáveis pelas reações alérgicas e/ou de intolerância, perante o contacto com alguns nutrientes/alimentos. Esta sensibilidade varia muito de pessoa para pessoa e é fortemente influenciada pelo funcionamento do eixo de comunicação cérebro- intestino.
Apesar de a proporção dos vários tipos de bactérias intestinais variar ao longo das várias fases da vida, sabemos também que as que prevalecem na infância são aquelas que melhor determinam o risco de doença no futuro. Em suma, uma correcta alimentação – rica em prebióticos – não só nos ajuda a regular o intestino no imediato, como também previne doenças e permite manter a saúde e o desenvolvimento correto do nosso cérebro.