
A teoria da alimentação emocional afirma que emoções negativas podem induzir a alimentação, eventualmente mais compulsiva. Ainda neste sentido, a teoria psicossomática de obesidade também propõe que a alimentação pode reduzir ansiedade e sensações de desconforto emocional.
Contudo, importa constatar que a utilização da alimentação emocional como estratégia comportamental para gerir afetos negativos é bastante comum na população em geral. Portanto esta definição por si só, não seria suficiente para definir um quadro psicopatológico. Alguns critérios parecem tornar este comportamento mais disfuncional, e assim contribuir para esta correlação positiva e significativa com excesso de peso e obesidade: a quantidade e a qualidade nutricional dos alimentos que são ingeridos; o facto de serem consumidos preferencialmente como fontes de gratificação e como estratégia de gestão emocional; comportamento compulsivo, isto é, compulsão alimentar.
Adicionalmente, sabe-se que as causas destas diferenças são necessariamente multifatoriais (i.e. fatores genéticos, biológicos, psicológicos, ambientais e sociais), mas desconhece-se o peso relativo de cada fator. Por exemplo, alguns estudos têm identificado a possibilidade destes mecanismos de compensação e de condicionamento acontecerem durante fases precoces do desenvolvimento, estabelecendo-se vínculos entre afeto/emoção e alimentação na primeira infância. Ainda que este fator esteja presente, acrescem influências e modelos culturais durante a vida, experiências vivenciais e life events, bem como certos fatores biológicos (por exemplo, sensibilidade ao sabor) que, em conjunto, podem influenciar um quadro disfuncional no comportamento alimentar. Sendo já suficiente o supracitado, o facto é que alguma evidência científica continua a corroborar a presença de mecanismos subjacentes que explicam a alimentação emocional: durante a ingestão destes alimentos, obtêm-se respostas hedônicas que melhoram o estado emocional; e após a ingestão, os nutrientes podem afetar sistemas neuroquímicos e endócrinos ligados às emoções, portanto, a síntese e libertação de endorfinas.
É possível tratar a fome emocional?
Por norma, os fatores implicados no desenvolvimento da fome emocional e/ou do excesso de peso e obesidade não são determinantes, incorrigíveis ou não tratáveis, mesmo quando nos referimos aos processos neuroquímicos e endócrinos. Isto porque um tratamento personalizado, regular e multifatorial, com uma equipa multidisciplinar composta por nutricionistas, psicólogos, endocrinologistas e outros especialistas, tem apresentado frequentes casos de sucesso e eficácia elevada.
As Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais são as mais frequentemente utilizadas e com maior evidência científica de sucesso. Neste âmbito a intervenção passa por explicar o modelo e toda a sequência de mecanismos psicológicos até ao resultado final visível que é o comportamento alimentar. Antes dele, outros aspetos devem ser tornados conscientes e cada vez menos involuntários e menos automáticos. Neste caso, começamos por identificar situações estímulo desafiantes para a pessoa e que antecedem pensamentos automáticos, na sua maioria pessimistas, dicotómicos, ilógicos, involuntários e catastróficos. Por sua vez, estes pensamentos antecedem (imediatamente antes) os afetos negativos (ex: tristeza, raiva, frustração, medo). São pois estes afetos que despoletam a fome emocional como forma de obter gratificação imediata, com vista a diminuir a intensidade destas emoções negativas que se pretendem evitar a todo o custo e no imediato (quase compatível com um modelo de auto-medicação ou gestão emocional através da alimentação).
Podemos e devemos disponibilizar estratégias para controlar, substituir ou evitar este comportamento desajustado. Mas se a causa permanece , a dificuldade em controlar tem tendência a permanecer. Daí a importância da psicoterapia Cognitivo-comportamental, pois a causa que alimenta este “sintoma” (comportamento alimentar) é normalmente uma crença básica disfuncional, desenvolvida precocemente ou outras distorções cognitivas e crenças “aditivas”. Por exemplo, crenças permissivas ou crenças de alívio, que naquele momento, parecem justificar e validar o comportamento alimentar. Estas distorções devem ser desconstruídas e reestruturadas, tendo por referência factos, pensamentos lógico, consciente e voluntário. Com treino cognitivo-comportamental, o que passará a ficar automatizado são estas novas cognições e crenças ajustadas.
Vários estudos também corroboram a evidência científica da eficácia de abordagens baseadas em Mindfulness para tratamento de alterações ou perturbações alimentares, nomeadamente para a compulsão alimentar. Por exemplo, numa revisão sistemática da literatura, os resultados sugerem que a meditação de atenção plena diminui efetivamente a compulsão alimentar e a alimentação emocional. Comumente incluirmos algumas estratégias de Mindfulness como auxílio ao tratamento, mas claro que o ajuste e inclusão de diferentes abordagens deve ter por referência a idiossincrasia de cada pessoa.
Com acompanhamento especializado e diferenciado é possível ultrapassar este comportamento desajustado. O primeiro passo é reconhecer e pedir ajuda.