Quase todos os adolescentes querem ter uma imagem diferente e arrojada ou igual à do amigo, que também fez, ou à do vocalista da sua banda preferida. Sobretudo quando se tem 15 ou 16 anos. Os piercings já estão na moda há mais de uma década. O problema é que não há legislação sobre o assunto e é preciso tomar precauções antes de fazer um furo no umbigo ou na língua. E os adolescentes não estão bem cientes de que, para além de uma manobra de estilo, um piercing também é uma minicirurgia.
UM TESTE PREOCUPANTE
A Deco publicou, na revista ‘Teste Saúde’, um estudo que avaliava a qualidade da informação prestada ao cliente nos estabelecimentos onde se fazem piercings e tatuagens. Os ‘agentes à paisana’ da defesa do consumidor fizeram 39 visitas a 22 estúdios espalhados pelo País e os resultados não foram animadores, diz Fernanda Santos, da Deco. ‘Constatámos que há uma grande falta de informação: alguns profissionais objecto do estudo não informavam sobre os riscos de saúde associados a estas técnicas, outros não procuravam informação sobre o historial clínico do cliente ou então colocaram questões irrelevantes.’
Mas há mais: cinco profissionais de tatuagens e piercings recusaram-se a mostrar a sala de trabalho e em oito casos o cliente não foi informado de que ambos os procedimentos eram dolorosos. Tudo isto levou a Deco a encetar uma campanha para esclarecer os jovens. ‘Não se trata de uma campanha contra os piercings. Também há profissionais bons neste sector, mas o que nos preocupa é que alguns tiveram má classificação’, esclarece a técnica.
ESCOLHA UM BOM ESTÚDIO
Comece por visitar alguns locais com o seu filho. Peça sempre para visitar a sala de trabalho: veja se é arejada, bem iluminada, se o pavimento e o mobiliário são facilmente laváveis. Desconfie se:
- Não deixarem ver a sala de trabalho.
- Não lhe fizerem perguntas sobre infecções actuais, problemas de saúde vacinação antitetânica em dia.
- Não o informarem sobre cuidados de higiene durante a cicatrização e riscos para a saúde.
Em Portugal, para abrir um estúdio não é necessário ter autorização das autoridades sanitárias. Não há nada, além da consciência profissional, que proíba um artista de fazer um piercing a um miúdo de 14 anos sem autorização dos pais. ‘Na Bélgica existe um código de conduta para estes profissionais, que é bom e até deve ser adoptado como modelo pela União Europeia. Estamos a fazer alguma pressão para que seja criada legislação para esta área’, diz Fernanda Santos.
Essas normas seriam necessárias para estabelecer procedimentos de higiene uso de luvas de borracha, máscara e material descartável e todas as informações a prestar e a pedir ao cliente. Nem sequer está definido o que fazer com os restos de tinta e de materiais utilizados, equiparados ao lixo hospitalar. ‘Outra das sugestões é que a legislação mencione a necessidade de uma autorização por escrito’, alerta Fernanda Santos. ‘É desejável que os jovens falem com os pais sobre o assunto e consultem primeiro um médico, pois podem ter problemas de saúde que desaconselhem estas práticas.’
A Deco sabe que certas pessoas foram levadas a assinar termos de responsabilização, onde o cliente subscreve que qualquer problema de saúde se deve aos seus cuidados incorrectos durante a cicatrização. ‘Não têm qualquer validade. Actuar sobre estas situações é difícil, porque não há qualquer legislação’, alerta Fernanda Santos.
FIQUE DE OLHO NA CICATRIZAÇÃO
Fazer um piercing não é só aguentar dor e sair da loja contente com o novo visual! Há regras de higiene a seguir para que a cicatrização corra bem:
- Evitar coçar a zona do piercing.
- Até a cicatrização estar feita, não deve tirá-lo ou o orifício fecha. Esta varia de quatro a oito semanas (os piercings genitais podem demorar entre três e seis meses). ‘Na Escola Secundária António Arroio, em Lisboa, numa acção que a Deco levou a cabo, muitos jovens disseram que podia levar dois anos a cicatrizar. Não é normal!’, diz Fernanda Santos.
- O local do piercing deve ser desinfectado diariamente com um antisséptico e deve ser colocada uma pomada cicatrizante.
- Evite tomar banhos de mar e de piscina e expor-se ao sol.
- Os piercings faciais devem lavar-se duas vezes ao dia durante dois meses. Os orais requerem a lavagem dos dentes com antisséptico sem álcool a seguir a comer, beber ou fumar durante seis semanas. Os piercings genitais devem ser lavados e desinfectados três vezes ao dia.
OS RISCOS PARA A SAÚDE
Quando a higiene e a segurança não são seguidas, a saúde ressente-se:
- Alergia aos materiais: apenas o aço cirúrgico, o titânio ou o ouro são anti-alérgicos.
- Infecções cutâneas localizadas.
- Risco de infecções graves, como hepatites B e C ou sida, se o material não for esterilizado.
- Os piercings na língua podem provocar alterações do paladar, dificuldade na fala, danos nos dentes, e obrigam a restrições alimentares durante a cicatrização.
- Alterações do fluxo urinário, quando são feitos nos genitais.
- Os piercings nos lábios podem causar encolhimento das gengivas, segundo um estudo da Universidade de Ohio citado no sítio da Ordem dos Médicos. O que pode implicar mais doenças das gengivas e, em extremo, perda de dentes.
Hemorragias.
MAIS VALE PREVENIR
Antes de fazer um piercing ou tatuagem certifique-se de que:
- Tem a vacinação antitetânica em dia.
- Não os faz no Verão: areia, suor, água do mar e piscinas aumentam a possibilidade de infecções posteriores.
- Não tem nenhum tipo de infecção, pois o seu sistema imunitário estará debilitado, abrindo caminho a infecções.
- Não sofre de alterações dos valores sanguíneos ou de alguma doença cardíaca congénita.
- Não tem doenças de pele, como dermatites, acne ou psoríase.
- A zona não é desadequada ou os piercings não são grandes de mais para essa área.
- As agulhas são descartáveis, abertas e destruídas à sua frente.