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Será possível ser-se bom pai, ou mãe, com pouco tempo? A pergunta já vem do tempo dos nossos pais, quando se inventou a expressão ‘tempo de qualidade’. Mas, uma geração depois, continuamos longe de resolver o dilema. Afinal, de quanto tempo precisam as crianças? De quantas horas se faz um pai ou uma mãe? E de que serviu falar-se tanto em ‘tempo de qualidade’ se hoje em dia o pomos tão pouco em prática?


Os estudos que mostram o perigo do isolamento entre as famílias são cada vez mais numerosos. Uma investigação da Universidade de Harvard mostrou que a velocidade da rotina que nos isola cada vez mais uns dos outros produz o mesmo efeito psicológico que um divórcio. Os pais americanos já são os mais ‘divorciados’ dos filhos e os que têm mais problemas psicológicos à conta desse afastamento. Tendo em conta que a América tende a mostrar como vai ser o nosso futuro, é razão para nos preocuparmos se o nosso presente já é tão parecido com o deles.

Torne a culpa um aliado

‘Não é possível ser pai ou mãe sem tempo’, defende Leonor Balancho, psicóloga educacional, professora e autora do livro ‘Ser Pai Hoje’ (Presença). ‘Dantes, tinha-se naturalmente tempo, e isso não era uma preocupação. Hoje em dia, a nossa vida é muito mais acelerada, a competição é imensa e, mesmo que se quisesse, muitas vezes não se pode dar aos filhos o tempo que se quer. O que é que aconteceu? O factor tempo passou a ser visto como um luxo, substituído muitas vezes pelo consumo: tentamos colmatar lacunas através de presentes.’

Nunca pensamos que a culpa pode ter um lado positivo, mas a verdade é que, neste caso, tem: significa que estamos mais despertos para a educação. O passo seguinte é transformar essa consciência em resultados práticos. Não acredite que dá trabalho: muitas vezes, só é preciso fazer as mesmas coisas. de outra maneira. ‘É verdade que as pessoas andam muito cansadas’, concorda Leonor Balancho. ‘Mas se, por exemplo, o pai chegar a casa e, em vez de dar alguma atenção ao filho, se instalar a ver o futebol, a mensagem que transmite é ‘o futebol e o telejornal são mais importantes do que tu’.

O que é que podia fazer? Chamar o filho para o pé dele e verem o futebol juntos.’ Muitas vezes, os pais queixam-se que as crianças não contam nada em casa, mas isso acontece porque não lhes dão tempo para ‘aquecer’. ‘Mesmo nós, adultos, se chegarmos a casa e nos perguntarem ‘então, conta-me lá como é que foi o teu dia’, encolhemos os ombros’, lembra a psicóloga. ‘Por isso, eles precisam mesmo de algum tempo.’

Bastam 30 minutos de qualidade

‘É verdade que não passo horas inteiras com o meu filho todos os dias’, conta Patrícia, 38 anos, mãe do Guilherme, de 5, que vive em Lisboa. ‘Mas ele sente mais a falta do pai. Não serve de nada explicarmos que está a trabalhar: ele acha que o pai trabalha porque quer. Mas, ao fim de semana, vamos sempre jogar futebol com ele para o jardim, e eu não vejo muitas mães fazerem isso.’

Os amigos de Patrícia, que moram no Norte do País, gabam-se de mais qualidade de vida. ‘Um amigo meu afirma que passa mais tempo com o filho do que nós. Mas a fazer o quê? Ele fica na sala a dormir a sesta e o miúdo no quarto a ver televisão baixinho para não acordar o pai! Nunca o vi a brincar com ele. E, quando sai à noite com a mulher, leva o miúdo, que se aborrece de morte. Isto é que é terem tempo para o filho?’

Então, quem é que tem razão: a Patrícia ou os seus amigos? E, em termos práticos, de quanto tempo precisam os filhos? ‘Hoje em dia defende-se que se deve dedicar aos filhos meia hora diária’, explica Leonor. Mas como é que se deve passar essa meia hora? ‘Não é a ralhar, a fazer os trabalhos de casa, a chamar a atenção: é a brincar, a falarem de temas que interessem aos dois, a jogarem juntos no computador. O tempo para educar deve ser outro, o tempo para falar da escola deve ser outro.’ Ou seja: as crianças não precisam só da nossa presença, precisam da nossa atenção. ‘É muito comum a mãe estar a fazer sopa e o filho estar ao lado a fazer os trabalhos. Ora esses não são os 30 minutos de que se fala.’


Mas antigamente as mães passavam 12 horas por dia com os filhos… ‘Pois há quem passe 12 horas, mas não passe 30 minutos. E aí essas 12 horas são iguais a zero. Porque não é de uma presença física que estamos a falar. São 30 minutos de alma e coração. Vejam bem: 30 minutos por dia não é nada. O que são três horas da nossa vida durante uma semana?’

Pai e mãe podem participar

Agora um tabu de que nunca se fala: e quando estar com as crianças aborrece os pais? Quando chegamos a casa à noite a última coisa que nos apetece é ir brincar com a Barbie… ‘Aí não resulta’, explica Leonor. ‘Têm que se sentir todos bem, pais e filhos. Sugiram brincadeiras novas, descubram-se em conjunto! É encantador acompanhar a evolução dos mais novos. Recusem-se a ser o tipo de pais que não conhece os filhos!’

E é mais fácil do que parece, principalmente se pai e mãe partilharem este tempo de descoberta. ‘Uma coisa que o pai pode fazer é ser ele a deitar os filhos’, sugere Leonor. ‘Há uma diferença grande entre ambos: se for a mãe a deitar os filhos, escolhe com eles a roupa para o dia seguinte, de caminho ainda arruma umas coisas espalhadas e depois agarra um livro e lê. Um homem, nem vê que há alguma coisa fora do sítio, está focado nas crianças. E, normalmente, não pega num livro para ler uma história: inventa, recria um acontecimento do dia, ou conta qualquer coisa que lhe aconteceu em pequeno.’ E o tempo da história transforma-se em tempo de relaxamento, tanto para o pai como para o filho.

‘É verdade que algumas mães se queixam da ausência do marido, mas muitas vezes, por insegurança, não lhe dão espaço para estarem sozinhos com os filhos e criarem com eles uma ligação individual’, nota a psicóloga. Isto é importante se pensarmos que, apesar da enorme evolução do seu papel nos últimos anos, os homens continuam com mais dificuldade em mostrar afecto. ‘Hoje em dia, um homem já pode dizer aos filhos: ‘gosto de ti’. Mas não têm modelo! Porque são raros os pais hoje que já tiveram pais que lhes tivessem dito isso.’

Outra forma simples de estar com as crianças é o jantar em família. ‘É cada vez mais importante que a família tome as refeições junta e, principalmente, com a televisão desligada!’, alerta Leonor. ‘Temos que estar sentados à mesa a conversar. Cada vez se conversa menos e cada vez caminhamos para dar menos carinho e afecto uns aos outros, e isso é fácil de remediar…’

Deixe tempo livre também ao seu filho

Nem sempre são os pais que não têm tempo: quantas vezes não enchemos as crianças de actividades extra? ‘Depois ficam sem espaço para brincar e para estar com os pais’, defende Leonor. ‘Não devíamos pensar ‘o meu filho tem de ser o melhor’, mas ‘o meu filho tem de ser feliz’.’Afinal, as crianças não precisam de aprender tudo de uma vez só. ‘Podem fazer uma actividade num ano e outra coisa no ano seguinte’, sugere a psicóloga. ‘Se não há tempo para nos encontrarmos connosco próprios, para que serve tudo o que aprendemos?’

É evidente que este mundo é uma selva. Mas, se pararmos para pensar, vemos que, se calhar, as coisas não se passam exactamente assim. ‘Problema: nós não temos tempo para pensar’, lembra Leonor. ‘E, se calhar, até arranjamos essas actividades todas de modo a não termos tempo para pensar, para nos ‘protegermos’ de nos relacionarmos com os outros. Mais do que tempo, tem de haver dádiva. Temos que nos entregar aos outros, ao marido, aos filhos. Sentimo-nos tão frágeis que preferimos sublimar tudo isso em várias actividades a estar com eles. Ok, e se somos frágeis, por que não podemos fortalecer-nos todos, em conjunto?’

O que pode fazer com eles
Cozinhem juntos.
Além de divertido, é instrutivo.
Uma vez por semana, leve-os a lanchar fora depois da escola.
Monte uma tenda no pátio (na sala também serve!) e acampem durante a noite, dormindo em sacos-cama.
Vão a uma loja de CDs e deixe-os mostrar-lhe a música que preferem. Mostre-lhe a sua.
Institua, uma vez por semana, a ‘noite em família’, onde vão juntos jantar e ao cinema.
Façam voluntariado juntos.

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