Para que as crianças sintam que são capazes. Uma criança não deve viver a ser servida: também deve ser útil. Mas para serem úteis, têm de… pois: ter oportunidade para isso. Já viu algum totó singrar na vida? Pronto, tirando o tio Abílio? Queremos que sejam despachadas, mas não as deixamos sair à rua sozinhas, queremos que sejam sábias, mas elas nem sabem ler um horário de comboio, queremos que sejam corajosas, mas nem as deixamos apanhar um bocadinho de chuva, queremos que se tornem bons maridos, mas nunca os deixámos aproximar-se do fogão…
COMO ENSINAR
Deixe-os resolver os seus próprios problemas e tomar decisões. Ele não percebe o trabalho de casa? Não o faça por ele. Está sempre a perder o casaco? Ajude-o a arranjar um plano para se lembrar onde o deixou. Mas não viva a vida dele por ele. E exija que ele participe no ‘esforço de guerra’: tem de fazer a sua parte de camas, loiça, levar o cão lá fora, etc.
AUTOCONTROLO: PARA QUE SERVE
Para que ele não seja uma daquelas pessoas que deitam um papel para o chão ‘porque não estava ninguém a ver’ ou que não faz os trabalhos porque a mãe não estava lá para o obrigar. Autocontrolo significa que a pessoa vai aos comandos da sua nave sem esperar que os outros o façam, e que sabe que pode mudar o seu destino à medida dos seus sonhos e do seu esforço sem medo de algum asteroide que venha na sua direção.
COMO ENSINAR
O verdadeiro significado da palavra disciplina é ensinar, mas a maioria de nós usa-a para castigar, para que a criança ‘pague’ o mal que fez. O objetivo não é esse, mas conseguir que os mais pequenos percebam por que é que devem fazer certas coisas e não outras, e que as façam mesmo que a mãe não esteja de olho neles. Se ele papagueia que se deve respeitar os outros mas na prática resolve tudo ao pontapé, é porque a ‘lição’ não ficou bem sabida… Robert e Sam aconselham a passar a bola para as mãos deles: “Se não paras de gritar, não só não vais ter o que queres como também não vês televisão hoje à noite. A escolha é tua.” E ajuda se eles participarem na elaboração das regras da casa…
OTIMISMO: PARA QUE SERVE
Para não se deixar arrastar pela angústia, para perceber que as coisas vão melhorar, para acreditar que vamos conseguir o que queremos se nos esforçarmos por isso. A Clarice Lispector dizia que ‘também se morre em criança, sem ninguém perceber’. Não deixe que a sua criança morra por dentro, sem ninguém perceber: dê-lhe as armas para que se defenda a ela própria.
COMO ENSINAR
Todas as crianças são especiais: faça-a sentir-se assim. Uma criança que se sente amada resiste a tudo. Mostre que a vida vale a pena viver, mesmo que haja altos e baixos. Mostre como se atravessa um ‘baixo’: com sentido de humor, cabeça fria, esperança e esforço – enfim, idealmente… Se ela passar por um ‘baixo’ infantil, dê-lhe espaço para viver a tristeza, mas conte-lhe que também passou por isso quando era pequena. Perdeu o jogo? Há outro para a semana. Teve uma nega? Vamos ver como é que ela consegue perceber melhor a matéria. Zangou-se com o João? Ligue-lhe e peça desculpa. Não perca oportunidades de rir com ela, ensine-a a dançar, partilhem canções preferidas quando vão no carro, e não esteja preocupada em ‘ensinar-lhe’ nada, mas em divertir-se.
CORAGEM: PARA QUE SERVE
Para encararem os erros como acidentes de percurso e serem capazes de lutar por aquilo que querem. Para não passarem a vida a fugir daquilo que realmente querem com medo de fazerem figuras tristes.
COMO ENSINAR
Chame a atenção para aquilo em que eles são bons, para lhes construir uma espécie de ‘refúgio antimedo’. Sim, podem não ser fantásticos matemáticos, mas sabem imenso de animais, de música ou de balé. Seja o maior apoiante do seu filho, mas ajude-o a ser realista: não lhe diga que é um maravilhoso poeta quando ele só escreve poemas a rimar dor com amor. Pode encorajá-lo nos jogos de futebol, mas cuidado para não levar a coisa mais a sério do que eles, o que só vai colocar um terrível fardo de stresse em cima deles. Se ele não entrar no clube que queria, não vá falar com o professor.
Deixe a criança aprender a adaptar–se e ensine-a a não ser uma vítima. E não exija que sejam os melhores. Curiosamente, costumam ser os pais mais descontraídos que têm as crianças mais bem sucedidas.