dv1935017-1.jpg

A paixão pelos maus não se fica por Snape. “Eu dedico-me a criar um herói perfeito, um herói por quem qualquer rapariga se poderia apaixonar, e por quem é que elas caem? Tom Felton, o Draco Malfoy!” desabafou Joanne Rowling. Para quem não sabe, Draco é um génio do mal com 16 anos. Para quem também não sabe, é um loiro de cair para o lado: a questão do génio do mal aqui torna-se secundária de cada vez que ele atira a madeixa para trás.

De qualquer maneira, Joanne assustou-se: “Comecei a receber uma data de cartas líricas cheias de declarações apaixonadas a Draco, e isto parou de me fazer rir e começou a assustar-me. Tentei fazer a distinção entre Tom Felton, o actor, que é um rapaz lindo, e Draco, a personagem, que, qualquer que seja o ângulo, não é um bom rapaz. Esta paixão corresponde à ideia romântica mas muito pouco saudável de que vamos conseguir mudar um homem. Esta ilusão persiste na vida de muitas mulheres até morrerem, e é pouco saudável. Fiquei realmente preocupada por ver tantas raparigas a jurarem amor eterno a uma personagem tão imperfeita, por isso escrevi a algumas delas num tom bastante brusco, a dizer-lhes qualquer coisa como: “por favor reconsiderem as vossas prioridades.

Joanne deixou um último conselho: “Meninas, párem de se apaixonar pelo mau da fita. Escolham o bom rapaz. Eu levei 35 anos a aprender, mas dou-vos este conselho de graça no princípio das vossas vidas.

Snape e Harry são personagens de livro, mas espelham aquilo que nos acontece vezes sem conta na chamada ‘vida real’: caímos pelo bonzinho, pelo vizinho do lado, pelo João Pedro que nos atura sem uma quebra há mais de dez anos? Claro que não. Perdemos a cabeça é pelo tipo com cara de James Dean, mesmo quem já não sabe quem foi o James Dean. E aquilo que se segue nem sempre é uma história de amor com final feliz. Aliás, se estão recordadas, os filmes do James Dean raramente tinham final feliz…

Qual é o nosso mapa afectivo?

“A primeira questão que nós temos de levantar é: o que é um ‘mau rapaz’?” lembra a psicóloga Sónia Duque, da ‘Clínica Harmonia’. “Mau rapaz no sentido de dar luta ou no sentido de ser traidor, infiel, mau companheiro, que não é amigo, que não é parceiro, que não partilha? Porque são coisas diferentes. Um aventureiro para muitas mulheres é aliciante porque o bonzinho geralmente não tem graça nenhuma. O que acontece é que as pessoas, de uma forma geral, tendem a apaixonar-se pelo mesmo tipo de pessoas. Cada pessoa tem inconscientemente um padrão, que é construído com base nas nossas experiências de vida, na nossa personalidade.”

E há quem tenha um padrão negro: “Claro que nem todas as pessoas se apaixonam pelos maus rapazes, mas determinadas pessoas têm de facto tendência para escolher parceiros que as magoam. Muitas vezes, o nosso padrão inconsciente é negativo. É muito frequente, por exemplo, a mulher vítima de violência conjugal perpetuar essa procura de parceiros que a magoam.”

Mas de onde é que nos vem esse padrão, esse mapa afectivo, e como é que o construímos? “O nosso padrão interior é feito a partir de referências, recordações, memórias. As primeiras experiências são muito importantes, e as pessoas que nos criaram também. Se fomos criados por pessoas violentas ou sem carinho, aquilo que vamos ter tendência para perpetuar é esse tipo de relação, porque não aprendemos a relacionar-nos doutra maneira. Inconscientemente, são essas imagens que temos gravadas.”

Ou seja, são essas imagens que nos vão traçar o retrato-robot do homem da nsosa vida. Perfidamente, podemos escolher o mesmo tipo de homem que fez infeliz a nossa mãe, não porque somos masoquistas mas porque essa foi a forma de amor que interiorizámos.

As controladoras e as aborrecidas

Outras vezes, é o nosso lado maternal que nos empurra para o abismo. “Há mulheres que têm necessidade de cuidar, de tomar conta dos homens”, recorda Sónia Duque. “E depois criam aquela expectativa de que ‘comigo vai ser tudo diferente das outras’. E depois, nós esquecemo-nos que a paixão cega sempre um bocado as pessoas e naturalmente acreditamos sempre que connosco correr tudo de outra maneira.” O que tem um lado de vaidade: nós somos especiais, nós vamos conseguir mudá-lo, coisa que nenhuma das outras conseguiu. E coisa que, salvo raras excepções, nós também não vamos conseguir. As controladoras caem mais facilmente no papel de vítimas, sentem-se mais injustiçadas precisamnete porque sentem que deram demais. Mas muitas vezes, ninguém lhes pediu esse sacrifício: são elas que o impõem aos outros.

Também há alturas da nosas vida em que estamos mais atreitas a sermos encantadas por um homem que nos soa a Príncipe Encantado, que é despenteado, incerto e perigoso, que é tudo aquilo que as nossas mães nunca quiseram para nós, e que nos soa perigosamente a aventura. Que a maldade é sexy, o cinema não se cansa de o afirmar, e a nossa cabeça já interiorizou esse padrão. Mas para lá da ficção, os homens mais perigosos são muitas vezes precisamente os mais sedutores. Perrault tinha razão: é mesmo preciso fugir do lobo mau.

Como as Capuchinhas deste mundo já perceberam, às vezes é mesmo preciso entrar na floresta e aprender à nossa própria custa. Mas se pudermos perceber como funciona um lobo mau, talvez possamos aprender a fugir dele. “Os homens infiéis são sedutores, às vezes porque são naturalmente sedutores, outras vezes porque são pessoas inseguras que precisam de afirmar a sua masculinidade e a sua autoestima mudando constantemente de caso”, explica Sónia. “E há também quem não consiga mesmo apaixonar-se: gostam de outra pessoa mas não se conseguem entregar verdaeiramente, não conseguem dar o passo seguinte.”

Problema: muitas vezes, aquilo que nos atrai num ‘lobo mau’ não é a maldade mas o lado masculino. “Quando falamos em homens maus, associamo-los geralmente àquele tipo alcóolico e violento. Mas mesmo neste tipo de carácter, numa primeira fase da relação o que pode aparecer não é o lado negativo mas o positivo. Ele até pode ser visto desde o princípio como um homem dominador, mas mesmo isso pode ser entendido de forma positiva. Não nos podemos esquecer de que há muitas mulheres que gostam disso, que associam a dominação com o lado masculino. Não nos podemos esquecer de todos os estereótipos não só de cultura mas também de biologia: a agressividade ainda marca uma diferença de género.” Ou seja: no fundo, os homens continuam a gostar de dominar e as mulheres ser seduzidas.

Problema: quando a agressividade perde o seu lado aventureiro e ‘macho’, e se transforma num domínio impossível de suportar.

Como se libertar do lobo mau

O mundo da ficção também não ajuda, e continua a passar a idea de que o bom é demasiado bom para ser verdade. Muitas vezes, apaixonamo-nos pelo mau não porque ele é mau mas porque a maldade lhe dá um ar mais humano. “No caso da ficção, identificamo-nos mais com o mau porque ele está geralmente mais próximo de nós”, confirma Sónia Duque. “O bom é perfeito, inatingível, não tem nada a ver connosco.” O mau tem caspa e dias de mau génio, sua e diz palavrões, corre-lhe mal o dia, não lhe saem as coisas como ele pensava e mesmo assim ele consegue ser sexy. É obra.

Mas uma coisa é o cinema, outra os dias do aldo de cá do ecran. Para bem da nossa felicidade futura, é importante começarmos a desactivar certos padrões e ideias feitas, até porque um herói aventureiro raramente se aguenta na vida de todos os dias. Como afirmava a cartoonista Maitena, “As mulheres apaixonam-se pelo Che Guevara e depois exigem-lhe que corte a barba…” O problema é quando eles não querem cortar a barba. O problema é que eles nunca querem cortar a barba. E o corte entre realidade e ficção pode ser insustentável. Outras vezes, o padrão vai-se repetindo até ao ponto em que nos destrói.

“Há pessoas que vivem muito bem com esses relacionamentos esporádicos. Mas há outras que vivem em constante sofrimento, e se não pararem para pensar porque é que escolhem sempre aquele tipo de homem, não vão conseguir mudar, porque o padrão interior continua o mesmo.”

Em vez de cair no fatalismo do “ai eu só tenho queda por malucos” importa perceber por que é que isso acontece e mudar a partir daí. Pode ser complicado ‘desactivar’ um padrão que cresceu connosco e que é feito do mesmo tecido da nossa vida, mas afinal parece que é possível escolher quem se ama, ou pelo menos ter consciência daquilo de são feitas as nossas escolhas. “Diz-se que o amor não se escolhe, mas está errado: nós escolhemos quem amamos, sim, só que é uma escolha inconsciente e portanto nós nem sempre nos apercebemos disso. Porque ninguém se escolhe por acaso, nós não somos atraídos por toda a gente.”

Armas anti-lobo-mau

– Goste de si. É sempre a melhor arma para tudo.

– Não vá com ilusões de mudar um homem. O que ali está é o que ali vai estar sempre.

– Não parta para uma relação em que um dá muito mais do que o outro. Vai acabar frustrada.

– A aventura é boa para os filmes de cobóis. Procure a paz acima de tudo.

– Se a relação é destrutiva, não se vitimize e dão dê uma de Madre Teresa: abandone-a assim que puder.

– Não tente controlar a vdia dos outros nem ser a salvadora da Humanidade.

– Procure o apoio dos amigos

– Torne-se egoista

– Aprenda a distinguir os ‘lobos maus’ deste mundo e fuja deles

– Tenha uma vida interessante. É menos fácil deixar-se iludir por um sedutor de meia-tigela
 

Palavras-chave

Relacionados

Mais no portal

Mais Notícias

Quis Saber Quem Sou: Será que

Quis Saber Quem Sou: Será que "ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais?"

Elegância, beleza e exclusividade em dia de aniversário

Elegância, beleza e exclusividade em dia de aniversário

Combinação de microplásticos com

Combinação de microplásticos com "químicos eternos" torna-os muito mais tóxicos e perigosos

O Natal já brilha nas ruas: 14 ideias para começar a celebrar

O Natal já brilha nas ruas: 14 ideias para começar a celebrar

Maria Dominguez e Ângelo Rodrigues brilham num desfile de noivos em Braga

Maria Dominguez e Ângelo Rodrigues brilham num desfile de noivos em Braga

Elegância, beleza e exclusividade em dia de aniversário

Elegância, beleza e exclusividade em dia de aniversário

Faye Toogood é a designer do ano na próxima edição da Maison&Objet

Faye Toogood é a designer do ano na próxima edição da Maison&Objet

Neuralink vai testar braço robótico controlado pela mente

Neuralink vai testar braço robótico controlado pela mente

Transição para um futuro sustentável

Transição para um futuro sustentável

Um viva aos curiosos! David Fonseca na capa da PRIMA

Um viva aos curiosos! David Fonseca na capa da PRIMA

Passatempo: ganha convites para “Quebra-Nozes e o Reino do Gelo”

Passatempo: ganha convites para “Quebra-Nozes e o Reino do Gelo”

Público critica resposta de Cristina Ferreira a Diogo Alexandre em direto

Público critica resposta de Cristina Ferreira a Diogo Alexandre em direto

VOLT Live: Mais marcas chinesas chegaram a Portugal e o mau exemplo da Câmara de Ovar

VOLT Live: Mais marcas chinesas chegaram a Portugal e o mau exemplo da Câmara de Ovar

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Os livros da VISÃO Júnior: Ideias para ler nas tarde de outono

Os livros da VISÃO Júnior: Ideias para ler nas tarde de outono

Dados de robô

Dados de robô "perdido" no oceano Antártico revelam novas perspetivas sobre o degelo

Aproveite os descontos da Black Friday da iServices

Aproveite os descontos da Black Friday da iServices

Castiçais: atmosfera calorosa

Castiçais: atmosfera calorosa

Os Melhores & As Maiores do Portugal Tecnológico 2024 revelados hoje

Os Melhores & As Maiores do Portugal Tecnológico 2024 revelados hoje

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

Uma Academia das Ciências aberta ao mundo

Uma Academia das Ciências aberta ao mundo

Vencedores e vencidos do 25 de Abril na VISÃO História

Vencedores e vencidos do 25 de Abril na VISÃO História

Em

Em "A Fazenda": Talu fica gravemente ferido após explosão

Rita Pereira regressa à televisão 12 dias após ser mãe e ignora jurado do

Rita Pereira regressa à televisão 12 dias após ser mãe e ignora jurado do "Funtástico"

Festival de Salónica - Um olhar sobre o cinema grego

Festival de Salónica - Um olhar sobre o cinema grego

Como proteger as praias? Com ciência e natureza

Como proteger as praias? Com ciência e natureza

Dicas de maquilhagem para brilhar este Natal e Fim de Ano

Dicas de maquilhagem para brilhar este Natal e Fim de Ano

Decifrado o mecanismo responsável pelo efeito ioiô que atormenta quem faz dieta

Decifrado o mecanismo responsável pelo efeito ioiô que atormenta quem faz dieta

O hábito que pode valer-lhe mais 5 a 10 anos de vida

O hábito que pode valer-lhe mais 5 a 10 anos de vida

Fosso salarial continua a agravar-se: a partir de hoje, as mulheres em Portugal estão a trabalhar de graça

Fosso salarial continua a agravar-se: a partir de hoje, as mulheres em Portugal estão a trabalhar de graça

VISÃO Se7e: A magia natalícia chegou às ruas. 26 ideias para celebrar

VISÃO Se7e: A magia natalícia chegou às ruas. 26 ideias para celebrar

JL 1411

JL 1411

Turismo: Portugal arrecada mais de 20 distinções nos World Travel Awards

Turismo: Portugal arrecada mais de 20 distinções nos World Travel Awards

E-Rally Alentejo Central: as melhores imagens da equipa PRIO - Exame Informática - Peugeot

E-Rally Alentejo Central: as melhores imagens da equipa PRIO - Exame Informática - Peugeot

Familiares e amigos deixam Catarina Furtado emocionada em noite especial

Familiares e amigos deixam Catarina Furtado emocionada em noite especial

Galp transforma postes de iluminação pública em carregadores de veículos elétricos

Galp transforma postes de iluminação pública em carregadores de veículos elétricos

O #MeToo no jazz português:

O #MeToo no jazz português: "Quando entrei para a escola, não era anormal que professores andassem com alunas"

25 peças para receber a primavera em casa

25 peças para receber a primavera em casa

Desejo de comer doces? A culpa pode ser um gene

Desejo de comer doces? A culpa pode ser um gene

Uma looonga soneca

Uma looonga soneca

CARAS Decoração: um

CARAS Decoração: um "loft" a criar pontes entre passado e presente

A Cantê chegou ao Porto com um outono e inverno florido

A Cantê chegou ao Porto com um outono e inverno florido

A festa de Pedro Crispim: 46 anos celebrados com ousadia

A festa de Pedro Crispim: 46 anos celebrados com ousadia

O que é o metanol e porque é tão perigoso para a saúde?

O que é o metanol e porque é tão perigoso para a saúde?

13 boas exposições em Lisboa e Cascais, para ver agora

13 boas exposições em Lisboa e Cascais, para ver agora

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites