A Maria começou as aulas de piano há dois meses, mas qualquer pessoa vê que ela não nasceu para aquilo. O João foi para o surfe, mas cansou-se depressa. Afinal, quando é que eles podem largar uma atividade? Faça as seguintes perguntas:
Há quanto tempo começou?
“Muitas vezes, os pais escolhem uma atividade para a criança quando ela é ainda muito pequena para saber o que a inspira”, afirma a psicóloga canadiana Natacha Beim, no site www.calgaryschild.com. “Podem ter mencionado que gostavam de tocar violino com 3 anos, mas aos 9 é normal que mudem de ideias.” Ou, então, quem escolheu a atividade foram os pais, que adorariam ter sido pianistas ou futebolistas em criança, mas não aceitam que o João é um pé de chumbo ou a Maria é surda para a música… Largar uma atividade não significa que foi uma perda de tempo, apenas que está na altura de mudar.
O que é que a preocupa?
Uma coisa é nadar, que todas as crianças deveriam saber, mas faz-lhe assim tanta mossa que ela não saiba ballet? Se ele deixa o judo, depois insiste que quer jogar basquete, depois também deixa o basquete, será que estamos a criar um ‘desistente em série’? Nem por isso. “Os pais têm de saber que, lá porque ele deixa o judo, não quer dizer que vai desistir de tudo na vida”, explica o psicólogo David Elkind, no site www.familyeducation.com. “As crianças com menos de 9 anos não têm uma noção clara das atividades que gostariam de fazer. Podem desistir quando quiserem.” O problema é o dinheiro investido pelos pais… O ideal seria pedir para experimentar uma ou duas aulas antes de se comprometer.
As atividades são intelectuais?
“Depois da escola, o que funciona melhor são atividades físicas, que usem o corpo”, defende a psicóloga Rita Xarepe. “A essa hora, as crianças estão fartas de gente a ensinar-lhes coisas. Quando é que aprendem a usar o corpo? Pedem-lhes o dia todo que estejam sentadas e quietas e caladas, esquecendo-se de como é importante poder correr e dançar. Aliás, se os pais passassem o dia numa escola com o horário de uma criança, veríamos quantos aguentariam mais uma aula de inglês.”
Quando insistir?
Pode fazer um acordo com a criança: aguenta mais um mês, e se depois quiser desistir, desiste. Com crianças mais velhas, converse com elas antes de começar uma atividade, para saber as razões da escolha. De qualquer maneira, se a criança não quer mesmo aprender qualquer coisa, nenhum discurso sobre a necessidade de uma pessoa se esforçar para ser alguém na vida vai funcionar.
Quando desistir?
Se ele continuar a dizer que quer mesmo desistir, que desista. Perceba as razões da desistência: ele precisa de mais tempo livre (na adolescência é normalíssimo que queiram mais tempo para estar com os amigos ou namorar) ou simplesmente gostaria de fazer qualquer outra coisa? Tem demasiadas atividades ou só não gosta daquilo? Não nasceu mesmo para a música ou poderia trocar o piano pela viola? Há tanta coisa que eles podem fazer atualmente em vez dos clássicos ballet ou judo… sevilhanas, hóquei, bateria, tapeçaria… Investigue bem, e leve-o consigo.