George Floyd. Ahmaud Arbery. Breonna Taylor. Diferentes nomes, com algo em comum – todos foram assassinados injustamente devido à cor da pele. De acordo com a presidente da American Psychological Association (APA), Sandra Shullman:

O racismo está associado a várias consequências psicológicas, incluindo a depressão, a ansiedade, e outras sérias – por vezes, debilitantes – condições, incluindo distúrbio de stress pós-traumático e distúrbios de abuso de substâncias. Além disto, o stress causado pelo racismo pode contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras doenças físicas“.

Em 2016, investigadores da Manchester University analisaram como o racismo sistémico poderia impactar a saúde mental. E os resultados, publicados no American Journal of Public Health, mostraram que pessoas de minorias que sofreram incidentes de racismo de forma repetida tinham bastantes mais probabilidades de sofrer problemas como depressão ou ansiedade.

Dos tópicos analisados, aquele que mostrou ter um impacto negativo mais forte na saúde mental foi o sentimento de insegurança e evitar certos espaços ou situações, por causa da etnia. E o simples facto de se assistir a atitudes racistas pode afetar-noster um impacto negativo “em segundo plano”. De acordo com uma das autoras do estudo, Laia Bécares:

A consciência da discriminação racial vivida por outros pode continuar a afetar a saúde mental de pessoas que pertencem a minorias étnicas“.

O “The Depression Project“, iniciativa de promoção da saúde mental, aproveitou o momento triste que vivemos – mas durante o qual temos também comprovado que, de facto, a união faz a força, e temos mais motivos para acreditar que algo pode mudar para melhor – para partilhar alguns dos sintomas que pessoas afetadas pelo racismo podem registar.

Sentir-se desconectado/só; duvidar; pouca esperança; aumento do ‘modo de sobrevivência’; diminuição da confiança; preocupação; sentimento de impotência; aumento do risco de depressão e ansiedade; trauma; questionamento existencial; pânico“, são aqueles mencionados.

Para Nelson Lopes, psicólogo, terapeuta familiar e formador multicultural, “o racismo é mais do que mero preconceito. Racismo é a institucionalização, a internalização do processo social de preconceito, de modo a que as estruturas sociais se tornaram fundadas nesses mesmos valores. Valores como a primazia do homem branco sobre outros grupos. E não é exclusivamente o racismo, também o sexismo é intrinsecamente institucional“.

Além disto, acrescenta o especialista:

existem ainda as micro-agressões, pequenos e subtis cortes, muitas vezes que os próprios perpetradores não se apercebem do grau de agressão ou objectificação do outro. São frases como ‘É negro, mas é muito inteligente!’, ‘lápis cor-de-pele’, ‘Mas sou preto ou quê?!’ ou ‘Não faças judiarias!’, que podem ser confundidas com elogios, simples nomes de coisas, ou expressões antigas, sem nada de mal ou discriminação… mas todas elas vão subtilmente entranhando a ideia no nosso subconsciente de que não ser branco é errado, inferior, indigno”.

De acordo com Lopes, ao receber constantemente informação que dita que o valor da sua vida é inferior, a vítima de racismo começa a desenvolver “sentimentos de auto desvalorização, ou de desvalorização da sua própria comunidade e cultura, isolamento, diminuição da auto estima e da auto eficácia, letargia, crise identitária, depressão“, entre outros.

Mais ainda, pode-se assistir a casos de revolta: “deixam de sentir que podem confiar no sistema ou na sociedade para os proteger e desenvolvem comportamentos mais disruptivos, na linha da revolta com figuras de autoridade, economia paralela, descrédito pelos valores veiculados pela sua comunidade, disrupção do núcleo familiar, gravidez adolescente, abandono escolar, isolamento social das comunidades“.

Para Nelson, o grande problema não está nos elementos abertamente racistas e facilmente identificáveis, mas sim nos “subtilmente racistas, de tal forma incutidos na nossa mente social, que não é clara nem automática a sua associação ao racismo. Assim, toda a população aprende a não dar muito significado a determinados actos ou expressões, pois estes passam despercebidos como sendo não relacionados com o racismo“.

Por fim, o psicólogo refere que o racista é qualquer “pessoa que não está disposta a analisar os seus privilégios pessoais, e a perceber que estes vieram da opressão de uma faixa da população. O não fazer nada para perceber as origens do seu privilégio, é silenciosamente apoiar o sistema que sustenta esses privilégios“. E cabe a cada um de nós parar de olhar para o lado.

Porque é hora de mudar – e porque a mudança não tem lugar onde não existe tolerância -, há que, primeiro, ter vontade de aprender. Depois, questionar, agir, e, sempre que possível, ensinar. Há que, acima de tudo, transmitir conhecimentos sem apontar o dedo. Porque é verdade o que dizem -sempre que o fazemos, temos muitos mais virados para nós.

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