Embora seja um tema sensível e delicado – e pouco falado, considerado por muitos um tabu – o suicídio é uma das causas de morte mais comuns em todo o mundo, que afeta pessoas de todas as idades e contextos sociais, pelo que é urgente perceber o que pode levar alguém a cometê-lo. Durante anos, a depressão esteve diretamente associada ao suicídio, contudo, estudos recentes vêm mudar a forma como esta ligação é vista.
Apesar da doença mental, como a depressão, ser um dos principais fatores de risco, isto não quer dizer que todas as pessoas que sofrem de depressão desenvolvam um comportamento suicida. Na verdade, os fatores individuais desempenham aqui um papel fundamental, sendo os acontecimentos como abusos e traumas na infância, alguns dos mais preponderantes. Contudo, há sempre uma multitude de condicionantes que levam a este desfecho, não sendo algo linear nem exato.
Os últimos avanços científicos que ajudam a perceber melhor o cérebro de uma pessoa suicida vieram dar novas informações até então desconhecidas. Na verdade, e contrariamente ao que se julgava, uma pessoa deprimida não apresenta um défice de serotonina. Tem, aliás, um maior número de neurónios produtores deste neurotransmissor que desempenha um papel fundamental na regulação do humor, do sono e da tomada de decisões, fatores de extrema importância no suicídio. Ora, os investigadores acreditam que este aumento se deve a uma compensação do cérebro, para minimizar a depressão. Contudo, este mecanismo natural de auto-regulação acaba por não ser eficaz, uma vez que os neurónios em indivíduos depressivos ou suicidas não funcionam adequadamente.
Ao perceberem isto, os cientistas descobriram que este padrão está associado à depressão numa parte específica do cérebro, e ao suicídio noutra. Ou seja, quem tem uma estrutura cerebral suscetiva à depressão, pode nunca ter ideias suicidas, e quem tem uma estrutura cerebral que promove os pensamentos suicidas, apresenta uma baixa probabilidade de se vir a suicidar. Mas quando as duas ocorrem em conjunto, o risco de suicídio é muito elevado. É esta característica cerebral que pode explicar a sensação de exasperação, de não haver esperança ou propósito, sentida por quem vê no suicídio a sua única opção. É a chamada visão em túnel, que não deixa perceber o que de bom há ao seu redor.
Outra certeza dada pelos estudos recentes confirma que o risco de suicídio de uma pessoa deve-se, em parte, à genética. Ainda assim, não existe um “gene suicida”. De facto, a maioria das pessoas com histórico de suicídios na família nunca se tenta suicidar, o que leva os investigadores a concluir que o comportamento suicida é o resultado da genética e da experiência de vida. E embora este ainda seja um tema associado a um grande estigma social, é fundamental que a sociedade se torne atenta e aberta ao assunto, porque este pode ser o primeiro passo para evitar que alguém veja na morte o único alívio para a sua dor.