OS EXPLOSIVOS
Estes brigam para deixar sair o fumo. Aliás, se fossem menos dados ao drama conversariam, mas há gente a quem salta logo a tampa. Vantagem: não andam ali dias e dias a engonhar e a jogar às adivinhas, botam logo cá para fora o espinho que lhes magoa o dedo grande do pé. O problema é que se começamos com espingardas, os outros tendem a devolver canhões, que é como quem diz, a coisa geralmente aquece rapidamente. Pormenor: Neste caso, também volta a ‘descalar’ tão depressa como subiu, e meia hora depois já ninguém se lembra de nada. Conselho: têm de aprender a resolver os problemas, em vez de se limitarem a ficar furiosos à conta deles.
Prognóstico: Se perceberem o que realmente se passa em vez de brigarem só para deixar sair o vapor, a relação é para sempre.
OS COMUNICATIVOS
São o sonho de qualquer psicólogo. Estes não brigam, comunicam.
Às vezes passam-se porque são humanos e têm dias piores que outros e dizem coisas que não sentem. Mas a seguir à briga apressam-se a fazer as pazes. São capazes de dizer coisas como: ‘Desculpa, sabes que disse aquilo sem pensar, estou cansado e hoje tive um dia mau’. Aprenderam nos livros de autoajuda e nos cursos para casais que há ‘técnicas’ para brigar sem magoar o outro. Por exemplo, dizer ‘Ó Zé Manel, as tuas atitudes deixam-me tão entristecida’ em vez de ‘Ó Zé Manel, és mesmo idiota, a minha mãezinha bem que me avisou para eu casar com o Paulo Jorge que era atinadinho e sabia tratar uma mulher com consideração’. E como o curso foi caro e eles tiveram excelente nota, são mesmo capazes de brigar sem partir a loiça, que em Portugal é um feito histórico e do qual eles se orgulham (e com razão).
Prognóstico: Dura para sempre, ou até cair um cometa na aldeia.
OS QUE NÃO FALAM
Não falam um com o outro, portanto também não brigam. Decidiram que não iam brigar como um pacto de não agressão, mas como além de não brigarem também não conversam, nem fazem nada, a única coisa que lhes resta do casamento é a presença física. A briga que nunca acontece é a pior de todas: a que mete para dentro, que não diz o que pensa nem o que sente, e que ao longo dos anos destrói qualquer relação.
Prognóstico: Ficam um com outro, mas ficam com um fantasma. E é isso.
O MONÓLOGO
É o caso típico do Calado casado com a Matraca: ela fala fala fala, ele faz ouvidos moucos. Enfim, ou vice-versa. É a briga a solo.
Prognóstico: Ou a coisa já dura há tanto tempo que não é agora que vai rebentar, mas cuidado que até os mansos têm limites e um dia ele farta-se e dá o salto com a vizinha do 5.º esquerdo. Ela fica espantada e furiosa porque nunca o pensou capaz de tal coragem (ela chama-lhe crueldade) e vai despejar a sua desdita nos ouvidos mais próximos até perceber que já não há mais ouvidos. Mas, geralmente, o Calado e a Matraca duram para sempre. Porque ele não tem tomates para dar o salto.
OS REIS DO DRAMA
A coisa arranca inocentemente com um pretexto aparentemente fútil: ela disse que o Zé Paulo era um inútil, ele atacou logo: ‘Porquê, lá porque é meu amigo achas que devia ser executivo na Bolsa, é, achas que lá porque tu és uma workaholic toda a gente tem de desprezar a família e os filhos’. Ela responde com ‘Estás a insinuar que eu alguma vez desprezei a minha família e os meus filhos, tu que não levantas um dedo para pôr o lixo lá fora ou para levantar o raio da tampa da sanita, é preciso lata…’ E ele ‘Não levanto um dedo mas faço mais do que tu porque se os miúdos chegam à escola todos os dias não é porque tu os vais lá levar.’ E em poucos minutos a coisa escala para picos de decibéis nada aconselháveis a ouvidos humanos.
Prognóstico: Mau. Cuidado que há palavras que não podem ser desditas.
OS QUE AMUAM
É a briga Passiva-Agressiva. Um faz qualquer coisa, o outro chateia-se, mas em vez de lhe dizer ‘Então tu fazes-me uma coisa destas?’, não, anda para ali uns dias acabrunhado de olhos no chão e ar de quem comeu e não gostou até que o outro dê por isso. Depois obriga o outro a uma série de ‘Que é que tens? Mas nada como? Diz lá!”, e quando finalmente a coisa estala, dá-se uma cena de lágrimas digna de um filme daqueles do tempo em que a televisão (e as brigas) eram a preto e branco.
Prognóstico: Depende do pós-briga: resolvem-se ou não?
A BRIGA COMO MODO DE VIDA
Este casal não briga porque não chega a acordo sobre a escola do filho, porque um deles é que vai sempre pôr o lixo lá fora ou porque ele insultou a mãezinha dela. Eles brigam pelo puro prazer de brigar. A briga não é uma consequência, é um estilo de vida. Fazem questão de estar constantemente em desacordo, e a mais inútil picuinhice é pretexto para virar o mundo do avesso.
Prognóstico: A relação – e a briga – só acaba se um deles morrer de exaustão ou surdez.